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huma<strong>na</strong>mente inferior, e vice-versa <strong>do</strong> ponto de vista português. O diferencial de<br />

poderes, relativamente pequeno, entre essas forças levava às guerras, aos avanços e<br />

recuos e ao deslocamento da fronteira de <strong>do</strong>mínio territorial. Em nível local expressamse<br />

diferenciações das distintas identidades coloniais, no que nos interessa a <strong>do</strong><br />

brasileiro, que conforma a identidade gaúcho brasileiro <strong>em</strong> oposição às múltiplas<br />

identidades de outros gaúchos. A identidade brasileiro identifica como única a<br />

sociedade colonial hierarquizada, <strong>na</strong> hierarquia militar as posições de coman<strong>do</strong> e de<br />

solda<strong>do</strong>, e as posições intermediárias, apesar de conter os el<strong>em</strong>entos da diferenciação<br />

social <strong>do</strong>s estancieiros, peões e escravos, atuavam como uma unidade que se construía<br />

<strong>na</strong> luta. Na região a categoria gaúcho brasileiro, assume assim, <strong>do</strong> ponto de vista da<br />

Coroa portuguesa, da Colônia brasileira e <strong>do</strong>s rio-grandenses, a qualificação de herói<br />

<strong>em</strong> oposição aos guerreiros agluti<strong>na</strong><strong>do</strong>s pelas forças espanholas. Esse imaginário de<br />

herói desenvolve-se no longo prazo (100 anos) e se solidifica como representação <strong>do</strong><br />

gaúcho brasileiro, no imaginário da Colônia. Todas as categorias de ser humano<br />

inferior referidas ao gaúcho gaudério <strong>do</strong>s pampas são atribuídas como desqualifica<strong>do</strong>r<br />

das forças inimigas no con<strong>texto</strong> das disputas territoriais. No con<strong>texto</strong> social, não-militar,<br />

as categorias huma<strong>na</strong>mente inferiores associadas ao gaudério são atribuídas às classes<br />

subalter<strong>na</strong>s (peões e escravos), principalmente aos rebeldes e margi<strong>na</strong>is a essa ord<strong>em</strong>. A<br />

faceta heróica é colada <strong>na</strong> hierarquia de coman<strong>do</strong> e se reflete <strong>na</strong> hierarquização social<br />

como um heroísmo das classes <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes <strong>do</strong>s estancieiros. Dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> con<strong>texto</strong> e<br />

das lutas e situações sociais, a categoria gaúcho brasileiro carregava a possibilidade de<br />

representar o bom e o mau, o superior e o inferior, segun<strong>do</strong> o diferencial de poder de<br />

suas representações.<br />

Nas Revoluções, quan<strong>do</strong> a fronteira <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e rio-grandense já estava definida,<br />

o qualitativo brasileiro <strong>do</strong> gaúcho passa a conter a qualidade de herói, poden<strong>do</strong> assumir<br />

o atributo de um ser humano superior, frente aos outros brasileiros que não provaram<br />

com o sangue e a vida a aventura de construção da <strong>na</strong>ção, nesse senti<strong>do</strong> pode ainda<br />

conter a valorização <strong>do</strong> guerreiro militar e a <strong>do</strong> poder de coman<strong>do</strong> adquiri<strong>do</strong> e<br />

legitima<strong>do</strong> à frente das guerras. Quan<strong>do</strong> se opõe a outras forças <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is no século<br />

XIX (Revoluções Farroupilha, 1835, e Federalista, 1893), esses valores redefin<strong>em</strong> a<br />

identidade gaúcha frente a outras identidades regio<strong>na</strong>is. A oposição mo<strong>na</strong>rquia e<br />

republicanismo de 1893 é um marca<strong>do</strong>r histórico desta construção.<br />

Em nível interno a hierarquia social contém uma complexidade posta pelos<br />

processos históricos. A imigração al<strong>em</strong>ã <strong>na</strong> primeira metade <strong>do</strong> século XIX, ainda<br />

durante a escravidão, redimensio<strong>na</strong> a hierarquia <strong>em</strong> que a sociabilidade da colônia<br />

al<strong>em</strong>ã viabiliza-se como um setor intermediário no campo, redefinin<strong>do</strong> para baixo da<br />

hierarquia social os peões, escravos e índios, e tencio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> a classe superior com uma<br />

civilidade européia mais complexa, tanto <strong>em</strong> comportamento quanto <strong>em</strong> diferenciações<br />

de consumo e habilidade técnico-artesa<strong>na</strong>l de processamento; l<strong>em</strong>bran<strong>do</strong> ainda a<br />

diferenciação religiosa protestante, que, de outra forma, tencio<strong>na</strong> as práticas religiosas<br />

heg<strong>em</strong>ônicas. O par brasileiro-al<strong>em</strong>ão carrega assim múltiplas significações, como, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l-estrangeiro, inciviliza<strong>do</strong>-civiliza<strong>do</strong>, heróico e combativo (símbolo<br />

cavalo) e agricultor cativo. Grosso mo<strong>do</strong>, a classe intermediária, no campo, liga-se com<br />

a civilidade urba<strong>na</strong> <strong>do</strong>s processos de urbanização de então.<br />

A chegada <strong>do</strong>s italianos reorde<strong>na</strong> a hierarquia social no campo, produzin<strong>do</strong><br />

historicamente a localização <strong>do</strong>s italianos como inferiores aos al<strong>em</strong>ães. Usan<strong>do</strong> da<br />

estratificação estabeleci<strong>do</strong>s e “outsiders” de Elias e Scotson (2000), <strong>na</strong> lógica de<br />

oposição entre estrangeiros, os estabeleci<strong>do</strong>s al<strong>em</strong>ães têm vantagens sobre os<br />

“outsiders” italianos. De outro la<strong>do</strong>, a coesão social da cultura italia<strong>na</strong> e os núcleos<br />

coloniais produz<strong>em</strong>-se historicamente como superiores aos peões, escravos e índios,<br />

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