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elações móveis que a essa altura já se precipitaram nela como seu caráter<br />
pessoal.<br />
A tentativa de conjugar as duas leituras, Holanda (1995) e Elias (1994), v<strong>em</strong> <strong>na</strong><br />
ânsia de d<strong>em</strong>onstrar que o caráter específico de uma sociedade não é criação de<br />
indivíduos particulares, mas das relações interdependentes. Desta forma, o caráter<br />
aventureiro ou trabalha<strong>do</strong>r de uma sociedade pode ser considera<strong>do</strong> fruto da construção<br />
social, caráter que se molda conforme o con<strong>texto</strong> que se encontra, poden<strong>do</strong><br />
mudar/transformar de acor<strong>do</strong> com os fatores que se apresentam.<br />
No processo de colonização <strong>do</strong> Brasil, os portugueses, 86 frente à expectativa<br />
frustrada (riquezas minerais), adaptaram-se a uma nova alter<strong>na</strong>tiva econômica e,<br />
conseqüent<strong>em</strong>ente, incorporan<strong>do</strong> novos el<strong>em</strong>entos que confer<strong>em</strong>, <strong>em</strong> parte, à sociedade<br />
seu caráter específico, mas não um outro caráter, distinto <strong>do</strong> primeiro, da mesma<br />
sociedade. Parte-se <strong>do</strong> pressuposto que determi<strong>na</strong>da sociedade está <strong>em</strong> constante<br />
processo de formação, de relações interdependentes contínuas; não há um processo de<br />
transformação estanque que resulte <strong>em</strong> outra caracterização da mesma sociedade, mas<br />
um processo de ajuste e adaptação à realidade. Acompanhan<strong>do</strong> a argumentação de<br />
Holanda (1995), percebe-se que há um processo de adaptação <strong>do</strong>s portugueses, <strong>do</strong><br />
extrativismo mineral à exploração agrícola. Grosso mo<strong>do</strong>, não há um desencadeamento<br />
propriamente dito, há, sim, um processo permanente de desenvolvimento, <strong>em</strong> outras<br />
palavras, um processo constante de construção da identidade social que, <strong>em</strong> certas<br />
circunstâncias, incorpora, no con<strong>texto</strong> da discussão de Holanda, mais o aventureiro e<br />
menos o trabalha<strong>do</strong>r, e vice-versa. Isso pode ser identifica<strong>do</strong> no transcorrer da <strong>na</strong>rrativa<br />
de Holanda (1995, p. 49), como a seguir:<br />
O que o português vinha buscar era, s<strong>em</strong> dúvida, a riqueza, mas riqueza que custa<br />
ousadia, não riqueza que custa trabalho. A mesma, <strong>em</strong> suma, que se tinha<br />
acostuma<strong>do</strong> a alcançar <strong>na</strong> Índia com as especiarias e os metais preciosos. Os<br />
lucros que proporcionou de início, o esforço de plantar a ca<strong>na</strong> e fabricar o açúcar<br />
para merca<strong>do</strong>s europeus, compensavam abundant<strong>em</strong>ente esse esforço – efetua<strong>do</strong>,<br />
de resto, com as mãos e os pés <strong>do</strong>s negros –, mas era preciso que fosse muito<br />
simplifica<strong>do</strong>, restringin<strong>do</strong>-se ao estrito necessário às diferentes operações.<br />
Com base nessa citação, tenta-se ex<strong>em</strong>plificar o processo de adaptação frente a<br />
uma nova variável que, de certa forma, não estava dada, pelo menos dada<br />
explicitamente, mas que estava presente no conjunto de possibilidades. No caso <strong>do</strong>s<br />
portugueses, o espírito aventureiro falava mais alto que o <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r; como destaca<br />
Holanda (1995), a época das grandes conquistas e colonização de novos mun<strong>do</strong>s era um<br />
perío<strong>do</strong> fértil aos gestos e façanhas audaciosos. O tipo aventureiro estava <strong>em</strong> alta, as<br />
recompensas eram generosas <strong>em</strong> um momento histórico <strong>em</strong> que quase tu<strong>do</strong> ainda estava<br />
por descobrir. O aventureiro não media conseqüências, ações de risco, <strong>em</strong> troca <strong>do</strong><br />
reconhecimento, da glória e da riqueza. O autor explicita algumas qualidades deste tipo,<br />
denomi<strong>na</strong>das de ética da aventura, como, por ex<strong>em</strong>plo: audácia, imprevisibilidade,<br />
irresponsabilidade, instabilidade, vagabundag<strong>em</strong>; qualidades identificadas, como redige<br />
o autor: “(...) com a concepção espaçosa <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.” No parágrafo reproduzi<strong>do</strong> acima,<br />
pode-se observar pela <strong>na</strong>rrativa <strong>do</strong> autor que os portugueses – o aventureiro – cederam<br />
espaço para o trabalha<strong>do</strong>r, dada as frustrações iniciais pela não descoberta de metais<br />
preciosos. A incorporação das qualidades <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r, pelos portugueses, atendia a<br />
novos objetivos. 87 Observa-se, pelo <strong>texto</strong> referencia<strong>do</strong>, que não houve transformação<br />
significativa, mas adaptação para atender às exigências <strong>do</strong> momento, tanto que se<br />
86 Ao se referir aos portugueses, no perío<strong>do</strong> colonial, excluí-se desta categoria os casais açorianos, neste<br />
último grupo os princípios <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r eram mais visíveis.<br />
87 Novos objetivos no senti<strong>do</strong> da reestruturação motivada pelas frustrações iniciais – descoberta fácil de<br />
metais preciosos.<br />
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