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indica<strong>do</strong>ra de unidade ou delimitação físicas às características de homogeneidade,<br />

consenso cultural, auto-ajuda e outras formas de comportamento comu<strong>na</strong>l. Grosso<br />

mo<strong>do</strong>, áreas distintas <strong>em</strong> que a sociedade caracteriza-se por um mo<strong>do</strong> de vida comum e<br />

interesses e valores idênticos. Acrescenta a esta noção, Jack Stumpf (apud Baptista,<br />

1978, p. 50), que a comunidade “(...) é um sist<strong>em</strong>a vivo, mutável e variável, que<br />

apresenta uma série inter-relacio<strong>na</strong>da de sist<strong>em</strong>as menores, cuja <strong>na</strong>tureza pode ser tanto<br />

geográfica como funcio<strong>na</strong>l.”<br />

As discussões destacadas acima levam a observações sobre a sociedade de<br />

Rincão <strong>do</strong>s Marques, no senti<strong>do</strong> de percebê-la como uma comunidade. Há elaborações<br />

conceituais que possivelmente enquadrariam Rincão <strong>do</strong>s Marques como comunidade,<br />

principalmente quan<strong>do</strong> leva<strong>do</strong> <strong>em</strong> consideração o sentimento de pertencimento a uma<br />

sociedade espacialmente delimitada (região, localidade), entre outros critérios. 369 Não<br />

menosprezan<strong>do</strong> os critérios construí<strong>do</strong>s fora da sociedade, como instrumentos de análise<br />

para observa<strong>do</strong>res externos à sociedade local, o importante talvez seja conhecer a<br />

interpretação da própria sociedade <strong>em</strong> questão sobre sua noção de comunidade. Nos<br />

depoimentos, constatamos que há uma noção subentendida, comunidade como algo<br />

próximo à noção construída por Nisbet, mas não está de acor<strong>do</strong> com a realidade. Ainda<br />

não se reconhec<strong>em</strong> como uma comunidade, há el<strong>em</strong>entos <strong>em</strong> desacor<strong>do</strong><br />

impossibilitan<strong>do</strong> que as pessoas percebam, sintam ou alcanc<strong>em</strong> o senti<strong>do</strong> ou o espírito<br />

de comunidade.<br />

Para a sociedade de Rincão <strong>do</strong>s Marques um <strong>do</strong>s principais entraves à condição<br />

de comunidade é o individualismo, el<strong>em</strong>ento inúmeras vezes salienta<strong>do</strong> como obstáculo<br />

ao processo de desenvolvimento. Guilhermi<strong>na</strong> (23 anos), agricultora, expõe a sua<br />

opinião sobre esta questão:<br />

As pessoas não confiam muito uma <strong>na</strong>s outras, cada um quer fazer por si. Cada<br />

um faz por si e Deus por to<strong>do</strong>s! (...) Não t<strong>em</strong> um espírito de união, de viver <strong>em</strong><br />

comunidade, de viver<strong>em</strong> b<strong>em</strong>, viver<strong>em</strong> uni<strong>do</strong>s, de viver<strong>em</strong> queren<strong>do</strong> o b<strong>em</strong> <strong>do</strong><br />

outro. (...) T<strong>em</strong> lugares que quan<strong>do</strong> chega a colheita um ajuda uma pessoa, faz<strong>em</strong><br />

mutirão e to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> se ajuda, mas <strong>aqui</strong> é diferente, <strong>aqui</strong> é tu<strong>do</strong> à base de<br />

dinheiro. T<strong>em</strong> certos lugares que to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> se ajuda, mas <strong>aqui</strong> é difícil. Aqui<br />

n<strong>em</strong> irmão ajuda irmão, n<strong>em</strong> parentes se ajudam, o que dirá vizinho.<br />

O senhor Otávio (65 anos), agricultor, também t<strong>em</strong> a mesma opinião:<br />

Nessa região a gente não vê isso daí, mas in<strong>do</strong> para outras a gente vê mais<br />

companheirismo, <strong>aqui</strong> são mais individual! (...) Eu acredito que seja da própria<br />

cultura d<strong>aqui</strong> <strong>do</strong> pessoal que vive nesta região. São mais individualistas, não<br />

muito de se ajudar. (...) O pessoal é individualista, eles pensam assim: se não<br />

sobra <strong>na</strong>da pra mim, eu não me meto! Não participa!<br />

Estas são opiniões freqüentes, mas encontramos alguns poucos grupos familiares<br />

que realizam trabalhos no sist<strong>em</strong>a de mutirão. Grupos pequenos que reún<strong>em</strong> três ou<br />

quatro famílias, normalmente com laços de consangüinidade, para realizar tarefas<br />

ligadas à atividade produtiva (principalmente a colheita). Num desses grupos,<br />

identificamos quatro famílias, com algum grau de parentesco, que trabalhavam <strong>em</strong> suas<br />

lavouras e no trato com animais de forma autônoma, assim como <strong>na</strong>s atividades<br />

cotidia<strong>na</strong>s, mas, <strong>em</strong> momentos específicos de necessidade de mão-de-obra, o grupo é<br />

acio<strong>na</strong><strong>do</strong> e a tarefa realizada rapidamente. Não é uma troca de mão-de-obra, algo<br />

formal, é uma união de pessoas mediada por laços de afetividade. Nesse grupo,<br />

observamos que as técnicas utilizadas nos plantios eram as mesmas, socializavam seus<br />

conhecimentos no interior <strong>do</strong> grupo, apesar de plantar<strong>em</strong> os mesmos produtos que as<br />

d<strong>em</strong>ais famílias de agricultores da localidade (feijão e milho), mas as técnicas<br />

<strong>em</strong>pregadas eram mais aprimoradas, já que buscavam informações junto a agrônomos e<br />

369 Ver Leo<strong>na</strong>rd e Clifford (1971).<br />

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