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Retoman<strong>do</strong> Cruz (1984), nos <strong>do</strong>cumentos produzi<strong>do</strong>s pelos jesuítas sobre as<br />
missões guaranis, <strong>do</strong>is t<strong>em</strong>as são trata<strong>do</strong>s quase que exclusivamente: a evangelização e<br />
a defesa <strong>do</strong>s índios contra os espanhóis, os bandeirantes e a Coroa portuguesa. Apesar<br />
<strong>do</strong> interesse <strong>na</strong> defesa <strong>do</strong> índio, os jesuítas não tinham nenhuma posição contrária ao<br />
regime escravocrata, tanto que utilizavam mão-de-obra de escravos negros <strong>em</strong> outras<br />
regiões. Os jesuítas não tinham condições n<strong>em</strong> interesse de se opor à Coroa para lutar<br />
contra a escravidão <strong>do</strong>s negros. Com relação aos índios, era a oportunidade de criar uma<br />
sociedade fundada <strong>na</strong> ideologia católico-cristã da Companhia de Jesus. Para a autora, os<br />
jesuítas não pretendiam contestar, pelo menos diretamente, o sist<strong>em</strong>a pré-capitalista<br />
colonial, mas tentaram com os guaranis, de certa forma, reconstituir o comunismo<br />
cristão das organizações monásticas medievais. Uma das regras básicas <strong>do</strong>s jesuítas<br />
referia-se ao trabalho <strong>em</strong> benefício da comunidade e o fruto distribuí<strong>do</strong> <strong>em</strong> comum.<br />
Fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> século XVII e início <strong>do</strong> século XVIII, a ocupação portuguesa no Rio<br />
Grande <strong>do</strong> Sul praticamente resumia-se à estreita faixa de terra litorânea compreendida<br />
entre a Colônia <strong>do</strong> Sacramento e Lagu<strong>na</strong>. Nesse espaço de terra, o ga<strong>do</strong> era captura<strong>do</strong> e<br />
reuni<strong>do</strong> <strong>em</strong> currais e inver<strong>na</strong>das, 73 animais que eram conduzi<strong>do</strong>s pelos tropeiros até São<br />
Paulo para ser<strong>em</strong> negocia<strong>do</strong>s <strong>na</strong>s feiras de Sorocaba e posteriormente leva<strong>do</strong>s até a<br />
região das mi<strong>na</strong>s, <strong>na</strong>s Gerais. 74<br />
Na perspectiva de Cruz (1984), o desenvolvimento da mineração <strong>na</strong> região das<br />
Gerais fez surgir um merca<strong>do</strong> interno no Brasil, resulta<strong>do</strong> de uma atividade<br />
especializada que concentrava densas massas populacio<strong>na</strong>is com poder <strong>aqui</strong>sitivo e<br />
distante <strong>do</strong> litoral, proporcio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> para ga<strong>do</strong> e animais de tração. Por outro<br />
la<strong>do</strong>, o pólo minera<strong>do</strong>r oportunizou <strong>em</strong>prego para os trabalha<strong>do</strong>res descarta<strong>do</strong>s pela<br />
decadência da economia açucareira. Furta<strong>do</strong> (1969), por sua vez, destaca a abertura de<br />
um ciclo migratório europeu, conseqüência da economia mineira brasileira que<br />
possibilitava a participação de indivíduos com baixo aporte de capital – metal de<br />
aluvião que se encontrava deposita<strong>do</strong> no fun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s rios. 75 O autor destaca a diferença<br />
entre a economia mineira e a açucareira, a mineira baseava-se, também, no trabalho<br />
escravo, mas não constituía a maioria da população. Destaque para a forma de<br />
organização <strong>do</strong> trabalho, os escravos tinham consentimento <strong>do</strong>s seus <strong>do</strong>nos para tomar<br />
certas iniciativas e participar <strong>do</strong> meio social, resultan<strong>do</strong> <strong>na</strong> compra da própria liberdade.<br />
Na economia açucareira, somente os senhores de engenho ou grandes proprietários de<br />
terra tinham expressão social. Na economia mineira, um hom<strong>em</strong> que dispunha de<br />
recurso podia organizar uma lavra com c<strong>em</strong> ou mais escravos ou, se a sorte<br />
contribuísse, poderia logo ascender à posição de <strong>em</strong>presário.<br />
Por se tratar de uma atividade de eleva<strong>do</strong> grau de mobilidade (pela exaustão <strong>do</strong><br />
veio de ouro ou a descoberta de um novo), a fome estava presente <strong>na</strong>s regiões das<br />
mi<strong>na</strong>s. Os alimentos e os animais de tração eram valoriza<strong>do</strong>s, constituin<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong><br />
Furta<strong>do</strong> (1969), o mecanismo de irradiação <strong>do</strong>s benefícios econômicos da mineração. A<br />
escassez de alguns produtos <strong>na</strong> região levou à <strong>integra</strong>ção de outras regiões que<br />
dispunham de produtos necessários à manutenção da atividade minera<strong>do</strong>ra, como foi o<br />
caso da <strong>integra</strong>ção da economia rio-grandense através <strong>do</strong> ga<strong>do</strong> e <strong>do</strong>s animais de tração.<br />
Retoman<strong>do</strong> o processo de ocupação <strong>do</strong> território rio-grandense, observa-se<br />
alguns fatores que motivaram a política de colonização portuguesa, baseada <strong>na</strong><br />
distribuição de sesmarias. Por um la<strong>do</strong>, a captura indiscrimi<strong>na</strong>da de ga<strong>do</strong> si<strong>na</strong>lizava para<br />
a redução drástica <strong>do</strong> rebanho bovino, por outro, Portugal estava com dificuldades de<br />
73 Instalações t<strong>em</strong>porárias para abrigar os tropeiros no perío<strong>do</strong> de captura <strong>do</strong> ga<strong>do</strong> (ROCHE, 1969).<br />
74 Sobre a captura e transporte <strong>do</strong> ga<strong>do</strong> para as Mi<strong>na</strong>s, ver Vian<strong>na</strong> (1987) e Pesavento (1994).<br />
75 Segun<strong>do</strong> Furta<strong>do</strong> (1969), o alvoroço <strong>em</strong> Portugal foi de tal dimensão que chegou a restringir o fluxo<br />
migratório.<br />
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