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situações. O isolamento também restringiu o acesso a meios de produção mais<br />

adequa<strong>do</strong>s, repercutin<strong>do</strong> <strong>na</strong> dieta alimentar pouco variada, produzin<strong>do</strong>,<br />

conseqüent<strong>em</strong>ente, subnutrição e desenvolvimento físico inferior ao de uma dieta<br />

diversificada. A referência às carretas e bois de menor tamanho são explicadas pela<br />

herança cultural da sociedade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia e pelas condições econômicas a que<br />

estavam submeti<strong>do</strong>s. Herdeiros de gaúchos e índios, estes possivelmente tenham<br />

trabalha<strong>do</strong> <strong>na</strong>s estâncias de criação de ga<strong>do</strong> da região no perío<strong>do</strong> das charqueadas,<br />

conheciam as técnicas de <strong>do</strong>ma de animais. A lida <strong>do</strong>s animais desti<strong>na</strong><strong>do</strong>s a tração<br />

(junta de bois) começa quan<strong>do</strong> ainda jovens, para isso precisam de equipamentos<br />

adequa<strong>do</strong>s às condições físicas. O que confere com os relatos que destacam o menor<br />

tamanho das carretas e <strong>do</strong>s animais, são animais jovens e carretas feitas especificamente<br />

para estes. O senhor Nuno, agricultor no Rincão <strong>do</strong>s Maia, l<strong>em</strong>bra <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> quan<strong>do</strong><br />

comprava terneiros para trei<strong>na</strong>r como animal de tração e depois revendia para adquirir<br />

outros. As carretas eram produção própria, artesa<strong>na</strong>l, somente compravam as rodas<br />

(roda<strong>do</strong>s), o restante cabia a eles manufaturar.<br />

Sob o olhar da própria sociedade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia, as pessoas eram isoladas,<br />

fechadas, individualistas, as regras sociais eram mais flexíveis, possibilitan<strong>do</strong> um mo<strong>do</strong><br />

de vida menos adequa<strong>do</strong> aos padrões <strong>do</strong> resto da sociedade canguçuense. Por essas<br />

características, os desentendimentos eram comuns <strong>na</strong> localidade, segui<strong>do</strong>s, por vezes, de<br />

atitudes de violência. Como resume o senhor Antônio (63 anos): “Antigamente o<br />

pessoal era meio fecha<strong>do</strong>, cada um pra si. Era mais baguale!” 399 esta última palavra<br />

utilizada para referir-se as atitudes precipitadas das pessoas. A vida familiar era reflexo<br />

desse comportamento. Afetividade quase não era d<strong>em</strong>onstrada, a relação familiar era<br />

fria, seca e superficial. Nos relatos observa-se ressentimentos por atitudes violentas,<br />

pela forma como eram administradas as relações entre as pessoas. Principalmente<br />

aquelas que ocasio<strong>na</strong>ram perdas de entes queri<strong>do</strong>s, a <strong>do</strong>r ainda aperta corações de pais e<br />

mães.<br />

Hoje a relação entre as pessoas mu<strong>do</strong>u, são passivos, receptivos e alegres – uma<br />

comunidade <strong>integra</strong>da à sociedade como um to<strong>do</strong>. Para o senhor Raul (39 anos), 400 tal<br />

comportamento é resulta<strong>do</strong> da educação escolar, da vivência com outras sociedade, da<br />

aproximação com a igreja católica e da associação comunitária. O acesso à informação<br />

colaborou para a transformação da mentalidade da sociedade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia,<br />

mu<strong>do</strong>u a percepção sobre si e sobre os outros, incorporan<strong>do</strong> atitudes que lhes<br />

apresentavam como mais civilizadas. Reconheciam-se como menos civiliza<strong>do</strong>s, o<br />

senhor Raul destaca: “Eram mais selvagens <strong>em</strong> quase to<strong>do</strong>s os senti<strong>do</strong>s. (...) Eram<br />

xucros até d<strong>em</strong>ais!” A inferioridade admitida pelas pessoas da localidade, e atribuída<br />

pela sociedade exter<strong>na</strong>, pode ter produzi<strong>do</strong> a reação necessária para a transformação<br />

rápida <strong>do</strong> modelo de vida das pessoas <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia, <strong>em</strong> consonância com a<br />

vontade <strong>do</strong> poder público que disponibilizou meios que colaboraram com o processo. O<br />

senhor Hugo (61 anos), concluin<strong>do</strong> seu depoimento, <strong>em</strong> tom de satisfação profere:<br />

“Hoje eu vejo que Rincão <strong>do</strong>s Maia mu<strong>do</strong>u <strong>em</strong> desenvolvimento e mu<strong>do</strong>u <strong>em</strong> idéia!” 401<br />

399 Agricultor no Rincão <strong>do</strong>s Maia. Comum entre a população <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia a introdução <strong>na</strong> última<br />

sílaba da letra “e” <strong>em</strong> algumas palavras, produzin<strong>do</strong>, de certa forma, um dialeto próprio. A palavra<br />

“baguale” é uma mutação da palavra origi<strong>na</strong>l bagual que t<strong>em</strong> por acepção pessoa que não foi educada,<br />

mas utilizada, principalmente, para identificar cavalos machos inteiros ou não <strong>do</strong>ma<strong>do</strong>s.<br />

400 Agricultor no Rincão <strong>do</strong>s Maia.<br />

401 Antigo mora<strong>do</strong>r e agricultor no Rincão <strong>do</strong>s Maia. Atualmente reside <strong>na</strong> cidade de Canguçu, mas<br />

freqüenta assiduamente a localidade de orig<strong>em</strong>.<br />

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