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depoimentos, permaneceu praticamente a mesma, talvez aumentan<strong>do</strong> um pouco as áreas<br />

de cobertura verde pela proibição <strong>do</strong> corte de matas <strong>na</strong>tivas e pela substituição da fonte<br />

de energia (gasoli<strong>na</strong>, eletricidade e gás).<br />

Um aspecto aborda<strong>do</strong> <strong>na</strong>s entrevistas foi quanto às condições de moradia das<br />

famílias residentes no Rincão <strong>do</strong>s Marques. No passa<strong>do</strong>, mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XX, as casas<br />

eram construídas basicamente de três formas: de tijolos a vista, de pau-a-pique ou de<br />

torrão. As famílias de melhor poder <strong>aqui</strong>sitivo, pertencentes à classe produtores<br />

(descendentes de estancieiros), construíam suas casas <strong>em</strong> pontos eleva<strong>do</strong>s, locais<br />

estratégicos de observação, herança <strong>do</strong>s perío<strong>do</strong>s de conflitos, para controlar a<br />

movimentação <strong>do</strong>s animais e das pessoas que adentrass<strong>em</strong> <strong>na</strong> propriedade. As casas<br />

desse grupo social eram geralmente de tijolos cobertas com telhas de barro, as famílias<br />

abastadas rebocavam as paredes exter<strong>na</strong>s o que representava certo status social. 272 As<br />

divisões inter<strong>na</strong>s eram feitas de taquaras amarradas com tiras de couro e cobertas de<br />

barro, e o piso era de chão-bati<strong>do</strong> ou de tijolos. As aberturas exter<strong>na</strong>s, janelas e portas,<br />

eram de madeira e as inter<strong>na</strong>s eram geralmente de teci<strong>do</strong>s. As casas eram compostas de<br />

quartos, sala e cozinha, o banheiro eram as matas, os riachos e as sangas. A cozinha<br />

resumia-se ao fogão a lenha, confeccio<strong>na</strong><strong>do</strong> <strong>em</strong> barro e pedras, uma estante para guardar<br />

os alimentos e utensílios, e uns poucos bancos de madeira e uma mesa. Entretanto, a<br />

cozinha era lugar de sociabilidade da família: refeições e atividades conjuntas,<br />

proximidade <strong>do</strong> calor <strong>do</strong> fogo no inverno, lugar de causos e de avaliações e decisões<br />

familiares.<br />

As famílias mais humildes podiam morar <strong>em</strong> casas de tijolos, s<strong>em</strong> revestimento<br />

externo, ou <strong>em</strong> casas de pau-a-pique ou de torrão, esta última era construída com<br />

pedaços de terra retira<strong>do</strong>s de áreas de banha<strong>do</strong>, eram denomi<strong>na</strong>das de casas de torrão<br />

devi<strong>do</strong> ao formato de tijolos largos <strong>do</strong>s pedaços de terra. As casas de pau-a-pique e de<br />

torrão eram usualmente cobertas com palha e raramente com telhas de barro, não tinham<br />

a mesma divisão inter<strong>na</strong> das casas de tijolos, eram constituídas de uma ou duas peças<br />

(quarto e cozinha), divididas, algumas vezes, por teci<strong>do</strong>s colori<strong>do</strong>s. 273 No Rincão <strong>do</strong>s<br />

Marques, observa-se que há muitas casas de tijolos expostos e algumas poucas de pau-apique,<br />

parte destas foram substituídas, <strong>na</strong> segunda metade da década de 1990, por casas<br />

de alve<strong>na</strong>ria distribuídas por programas sociais <strong>do</strong> governo estadual e federal. Há alguns<br />

anos passa<strong>do</strong>s a região rural <strong>do</strong> município era foco <strong>do</strong> barbeiro (denomi<strong>na</strong><strong>do</strong><br />

popularmente de chupão), inseto transmissor da <strong>do</strong>ença de Chagas, 274 que habitava<br />

principalmente as casas cobertas com palha (capim santa-fé). Observa-se poucas casas<br />

novas ou <strong>em</strong> construção. Essas, segun<strong>do</strong> informação, são de propriedade de<br />

funcionários <strong>do</strong> poder municipal residentes <strong>na</strong> localidade. De mo<strong>do</strong> geral, as residências<br />

passam a imag<strong>em</strong> de que a localidade de Rincão <strong>do</strong>s Marques se encontra, digamos,<br />

num processo de estag<strong>na</strong>ção, muitas delas <strong>em</strong> esta<strong>do</strong> de degradação, necessitan<strong>do</strong> de<br />

cuida<strong>do</strong>s de conservação.<br />

As famílias e as relações afetivas entre seus m<strong>em</strong>bros foram t<strong>em</strong>a das conversas,<br />

identifican<strong>do</strong> mudanças <strong>na</strong> estrutura e no comportamento. Segun<strong>do</strong> os relatos, as<br />

famílias eram numerosas, muitos filhos com pouca diferença de idade entre eles, mas<br />

hoje são menores, encontramos famílias com <strong>do</strong>is ou um filho. As dificuldades <strong>do</strong><br />

passa<strong>do</strong>, as restrições <strong>do</strong>s meios de produção, o conhecimento de méto<strong>do</strong>s<br />

anticonceptivos e as informações passadas pelas escolas, assistentes sociais, e pelos<br />

272 Segun<strong>do</strong> o senhor Inácio (71 anos – agricultor no Rincão <strong>do</strong>s Marques), “(...) as casas rebocadas era<br />

<strong>do</strong>s grandão, o cimento vinha da România, (...) vinha numas barriquinha.”<br />

273 Felix de Azara, apud Freitas (1980, p. 50), descreve a moradia <strong>do</strong>s gaúchos peões muito próxima às<br />

relatas pelos mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Marques, e que ainda encontramos alguns ex<strong>em</strong>plares.<br />

274 Encontramos algumas poucas pessoas porta<strong>do</strong>ras desta <strong>do</strong>ença.<br />

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