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Retoman<strong>do</strong> as atitudes <strong>do</strong>s agricultores descritas alguns parágrafos acima,<br />

pod<strong>em</strong>os destacar algumas formas de comportamento ou de perso<strong>na</strong>lidade, que estariam<br />

associa<strong>do</strong>s às posições nos campos de possibilidades <strong>em</strong> diferentes conjunturas.<br />

Observamos, rapidamente, três tipos de perso<strong>na</strong>lidades: 1) as que <strong>em</strong>pregam os novos<br />

conhecimentos técnicos dentro das recomendações; 2) as que adaptam segun<strong>do</strong> seu<br />

ponto de vista; e 3) as que retor<strong>na</strong>m às práticas tradicio<strong>na</strong>is. A primeira caracteriza-se<br />

por atitudes de reconhecimento quanto à importância <strong>do</strong> aprimoramento <strong>do</strong><br />

conhecimento técnico para o desenvolvimento da atividade agrícola, assume o risco <strong>em</strong><br />

confiança <strong>na</strong>s inovações baseadas <strong>na</strong>s pesquisas e <strong>na</strong> própria experiência como<br />

experimenta<strong>do</strong>r. O senhor Quincas, agricultor <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia, dedica<strong>do</strong> ao plantio<br />

<strong>do</strong> pêssego, s<strong>em</strong>pre está buscan<strong>do</strong> o aperfeiçoamento, com visitas a outras regiões<br />

produtoras onde aprende novas técnicas de cultivo, e destaca de forma entusiasta a<br />

importância <strong>do</strong> conhecimento: “Barbaridade! Para qu<strong>em</strong> vive <strong>na</strong> terra, e quer produzir,<br />

não t<strong>em</strong> coisa melhor <strong>do</strong> que o cara fazer uma passag<strong>em</strong> (viag<strong>em</strong>) num lugar assim! (...)<br />

Tu<strong>do</strong> que o cara aprende <strong>na</strong> tecnologia é pouco!” O segun<strong>do</strong> d<strong>em</strong>onstra resistência e<br />

certo grau de individualismo, assumin<strong>do</strong> risco pela incorporação de inovações baseadas<br />

<strong>na</strong> sua própria percepção, s<strong>em</strong> <strong>em</strong>basamento técnico-científico. Observamos relatos de<br />

agricultores que modificaram os procedimentos indica<strong>do</strong>s para adequá-los à sua<br />

realidade, ou, também, rejeitavam o apoio técnico, mas copiavam, alguma coisa, <strong>do</strong>s<br />

vizinhos que aplicavam corretamente os ensi<strong>na</strong>mentos técnicos. De certa forma, a<br />

concepção de tecnologia própria (diferente <strong>do</strong>s d<strong>em</strong>ais) pode levar, <strong>em</strong> parte, ao<br />

isolamento social, não se identifican<strong>do</strong> com os principais grupos de produtores<br />

(inova<strong>do</strong>res ou tradicio<strong>na</strong>is). O senhor Jo<strong>aqui</strong>m (57 anos) é um ex<strong>em</strong>plo desses:<br />

Os técnicos vieram várias vezes <strong>aqui</strong>, mas é muito acidentada e fica difícil fazê<br />

alguma coisa. Aprendi muitas técnicas, apliquei umas duas ou três vezes, mas<br />

depois achei que não devia. Acho que a técnica maior é a gente mesmo aprenda a<br />

trabalhá com a terra, vive <strong>na</strong> terra, porque a terra é a nossa primeira mãe!<br />

Sobre este tipo de comportamento o senhor Hugo (61 anos) faz uma crítica:<br />

T<strong>em</strong> gente dentro <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia, ainda, que não concorda com os técnicos.<br />

Ele quer ser arbitrário <strong>do</strong> trabalho dele, acho que é egoísta porque ele acha que só<br />

ele sabe, que só ele é importante, ninguém sabe <strong>na</strong>da, ele não quer ouvir o<br />

conselho de ninguém. A gente fala para fazer curva de nívele <strong>na</strong> lavoura, ele diz:<br />

pra que fazer valo no meio da lavoura. Eu digo: curva de nívele não é valo, a<br />

curva de nívele t<strong>em</strong> norma. ‘Tu já parô pra pensar que tu tá isolan<strong>do</strong> a tua terra?’;<br />

o cara ficava quieto, não me dava resposta, tava tocan<strong>do</strong> <strong>na</strong> ferida dele. ‘Mas<br />

como é que eu faço’. Eu respondia: ‘Tchê, tu não acredita <strong>em</strong> técnico!’. Ainda<br />

t<strong>em</strong> agricultor cabeçu<strong>do</strong>, teimoso, não é dizê que ele não acredite, ele tá ven<strong>do</strong><br />

hoje que tá erra<strong>do</strong>, mas ele não quer dar o braço a torcer. Ele quer fica<br />

<strong>em</strong>paca<strong>do</strong>! 488<br />

Por fim há os produtores que retomam, paulati<strong>na</strong>mente, as práticas tradicio<strong>na</strong>is<br />

de cultivo, aban<strong>do</strong><strong>na</strong>n<strong>do</strong> sucessivamente as inovações incorporadas através <strong>do</strong><br />

acompanhamento técnico, de alguma forma resig<strong>na</strong><strong>do</strong>s, sau<strong>do</strong>sos e avessos a<br />

transformações significativas de aspectos culturais e ao risco. Nas palavras <strong>do</strong> senhor<br />

Daniel (54 anos), encontramos indicativos desse comportamento: “Eu me criei com<br />

pessegueiro, a gente fica achan<strong>do</strong> difícil trocar de cultura depois que a gente tá<br />

acostuma<strong>do</strong> com um tipo de cultura. A gente fica achan<strong>do</strong> tão difícil!” 489 Tanto no caso<br />

deste agricultor como de outros com idade acima <strong>do</strong>s 50 anos, ou com os filhos <strong>em</strong><br />

488 Antigo mora<strong>do</strong>r e agricultor no Rincão <strong>do</strong>s Maia.<br />

489 Parece-nos dizer algo como: “minha cultura, meus hábitos sociais e produtivos, meus valores sociais, a<br />

estrutura e lógica cultural das diversas atividades familiares e as possibilidades já experimentadas de<br />

minha existência social imped<strong>em</strong>-me de trocar o pessegueiro pelo fumo.”<br />

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