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Antecedentes<br />

INTRODUÇÃO<br />

Neste trabalho <strong>em</strong>penhamo-nos <strong>em</strong> compreender e explicar o processo de<br />

desenvolvimento de duas sociedades rurais, através da análise <strong>do</strong> comportamento<br />

humano <strong>em</strong> interação no t<strong>em</strong>po e no espaço. Esforço <strong>em</strong> compreender as sociedades<br />

como coletividades <strong>em</strong> contínua relação com o ambiente, num processo aberto e<br />

interdependente. Ambiente constituí<strong>do</strong> por um conjunto de el<strong>em</strong>entos materiais,<br />

culturais, psicológicos e morais inter-relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s. Grosso mo<strong>do</strong>, acreditamos que um<br />

processo consistente de desenvolvimento da sociedade, independente <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s<br />

(econômicos e sociais), habita, num primeiro momento, <strong>na</strong> psique das pessoas,<br />

refletin<strong>do</strong>, no momento seguinte, no comportamento. Qualquer iniciativa que antecipe<br />

ou transponha estes estágios ou ignore aspectos relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s à psicologia da sociedade<br />

poderá alcançar resulta<strong>do</strong>s efêmeros, como, por ex<strong>em</strong>plo, políticas pontuais<br />

desvinculadas <strong>do</strong> con<strong>texto</strong> social. Ao decidirmos estudar o processo de<br />

desenvolvimento de sociedades locais, tínhamos como uma das fontes inspira<strong>do</strong>ra as<br />

políticas públicas de combate à pobreza rural, 1 justifican<strong>do</strong>, relativamente, a escolha das<br />

localidades – uma que superou a condição de pobreza e a outra que permanece nela,<br />

situadas no município de Canguçu, região sul <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul. 2<br />

Pobreza, palavra que aguça a criatividade de estudiosos <strong>do</strong> t<strong>em</strong>a. Na ânsia de<br />

salientar sua relevância, descrev<strong>em</strong>-<strong>na</strong> com rigores cin<strong>em</strong>atográficos, a ex<strong>em</strong>plo de<br />

Castro (1980, p. 55): “Imagens de homens, mulheres e crianças perambulan<strong>do</strong> como<br />

fantasmas num mun<strong>do</strong> perdi<strong>do</strong>, com os olhos esbugalha<strong>do</strong>s flutuan<strong>do</strong> fora das órbitas e<br />

com os molambos de vestuários balançan<strong>do</strong> grotescamente sobre a armação <strong>do</strong>s<br />

esqueletos saltan<strong>do</strong> à flor da pele.” Percepção destacada por Salama e Destr<strong>em</strong>au (2001,<br />

p. 17): “A figura mais comum <strong>do</strong> pobre, <strong>na</strong> imaginária de Espi<strong>na</strong>l, é a da criança<br />

esquelética, de barriga inchada, que a mídia divulga quan<strong>do</strong> a fome se espalha num<br />

país.” Formas que estimulam a construção, <strong>na</strong> psique, de imagens tristes e<br />

desagradáveis, crianças, adultos e velhos agonizan<strong>do</strong>, introduzi<strong>do</strong>s num ambiente de<br />

fome e degradação.<br />

Os estudiosos também utilizam frases de impacto quan<strong>do</strong> se refer<strong>em</strong> à pobreza.<br />

Destacamos a frase de Luiz Gonzaga Belluzzo no prefácio da obra “O Tamanho da<br />

Pobreza” de Salama e Destr<strong>em</strong>au (2001, p. 12): “Os pobres canibalizam os pobres.”<br />

Outro destaque cabe a frase de Castro (1980): “Enquanto metade da humanidade não<br />

come, a outra metade não <strong>do</strong>rme, com me<strong>do</strong> da que não come.” 3 Frases que pouco<br />

contribu<strong>em</strong> para melhorar a dura e sofrida vida <strong>do</strong>s margi<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>s, transforman<strong>do</strong>-os<br />

<strong>em</strong> seres não sociáveis. Motivan<strong>do</strong>, talvez, o me<strong>do</strong> e a segregação social. Em parte<br />

entend<strong>em</strong>os tal comportamento, mecanismo de preservação, parafrasean<strong>do</strong> Elias (2001),<br />

sobre a conduta <strong>do</strong>s jovens e adultos <strong>em</strong> relação aos i<strong>do</strong>sos, os não-pobres pod<strong>em</strong>, de<br />

maneira s<strong>em</strong>iconsciente, sentir que a pobreza é contagiosa e ameaça<strong>do</strong>ra; afastam-se<br />

involuntariamente <strong>do</strong>s pobres. 4 Salama e Destr<strong>em</strong>au (2001, p. 122), de certa forma,<br />

ajudam-nos a entender os sentimentos e os me<strong>do</strong>s que estão por detrás de cada frase:<br />

1 Como fonte de inspiração, este t<strong>em</strong>a não será, propriamente dito, discuti<strong>do</strong> neste trabalho.<br />

2 Empregamos a primeira pessoa <strong>do</strong> plural para destacar a nossa interpretação ou posição.<br />

3 Benko (1996, p. 55) apresenta outro ex<strong>em</strong>plo de frase de impacto: “(...) ‘subdesenvolvimento’ de uns<br />

seria o desenvolvimento de outros, e a riqueza desses últimos se alimentaria da miséria <strong>do</strong>s primeiros.” O<br />

autor parece entender que o desenvolvimento da sociedade se dá entre <strong>do</strong>is extr<strong>em</strong>os dependentes e<br />

necessários para o processo.<br />

4 A frase de Elias (2001, p. 37): “Os viventes pod<strong>em</strong>, de maneira s<strong>em</strong>iconsciente, sentir que a morte é<br />

contagiosa e ameaça<strong>do</strong>ra; afastam-se involuntariamente <strong>do</strong>s moribun<strong>do</strong>s.”

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