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ude e ociosa”, referin<strong>do</strong> aos <strong>do</strong>is momentos, o trabalho com o ga<strong>do</strong> e a espera <strong>na</strong><br />

estância. 121<br />

Freitas (1980, p. 50) resgata Juan A. Alsi<strong>na</strong> para descrever a jor<strong>na</strong>da diária <strong>do</strong><br />

gaúcho <strong>na</strong>s estâncias argenti<strong>na</strong>s; o peão começava suas atividades muito antes <strong>do</strong> sol<br />

<strong>na</strong>scer e termi<strong>na</strong>va noite adentro, eram de 13 a 14 horas sobre o lombo <strong>do</strong> cavalo, no<br />

trato com os animais, sobrava-lhe poucas horas para alimentar-se e descansar, retor<strong>na</strong>va<br />

a lida de campo, no dia seguinte, ainda cansa<strong>do</strong> <strong>do</strong> dia anterior. 122<br />

Nas últimas décadas <strong>do</strong> século XIX foram percebidas mudanças que<br />

influenciaram o mo<strong>do</strong> de vida <strong>do</strong> peão, e que compunham, como postula Pesavento<br />

(1989, p. 19), um lento processo de transformação capitalista que compreendia no<br />

cercamento <strong>do</strong>s campos, no confi<strong>na</strong>mento <strong>do</strong> ga<strong>do</strong>, no refi<strong>na</strong>mento <strong>do</strong> rebanho, <strong>na</strong><br />

formação de pastagens, etc. Essas inovações contribuíram <strong>na</strong> liberação da mão-de-obra<br />

para o meio urbano e <strong>na</strong> transformação cultural de parte da população rio-grandense.<br />

Perío<strong>do</strong> de transformação e de novas significações para velhas concepções; foi nesse<br />

momento histórico que a palavra gaúcho, utilizada anteriormente como sinônimo de<br />

características depreciativas, incorpora senti<strong>do</strong> de valor, de apreço, atributos que só os<br />

bons possu<strong>em</strong>. Esse gaúcho carrega<strong>do</strong> de predica<strong>do</strong>s estava relacio<strong>na</strong><strong>do</strong> ao gaúcho<br />

estancieiro, o que detinha o poder nos pampas. Ao gaúcho peão, parece que essas<br />

qualidades não eram muito adequadas a sua condição de subalternidade, pelo menos de<br />

acor<strong>do</strong> com a classe <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte da época. Essas qualidades lhe eram atribuídas <strong>em</strong><br />

perío<strong>do</strong>s que a classe <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte necessitava da fidelidade <strong>do</strong> gaúcho peão para lutar<br />

pelos interesses <strong>do</strong> gaúcho estancieiro. Em certa medida, uma forma de trabalhar com o<br />

psicológico <strong>do</strong> gaúcho peão para utilizá-lo como massa de manobra. Num outro senti<strong>do</strong>,<br />

pode-se inferir que essa mudança de significação da palavra gaúcho esteja, <strong>em</strong><br />

determi<strong>na</strong><strong>do</strong> grau, relacio<strong>na</strong>da com uma forma de diferenciação e oposição às<br />

oligarquias <strong>do</strong> centro <strong>do</strong> país.<br />

Para a lida de campo, as arreadas e os rodeios, o principal instrumento de<br />

trabalho <strong>do</strong> gaúcho peão era o cavalo, com o qual tinha uma relação de profun<strong>do</strong> apego;<br />

vários são os autores que relatam tal relação como, por ex<strong>em</strong>plo, Vian<strong>na</strong> (1987, p. 180):<br />

“(...) o gaúcho t<strong>em</strong> no cavalo o camarada, o amigo, o mais seguro confidente;” e Roche<br />

(1969, p. 26): “(...) montava-o com destreza, atravessan<strong>do</strong> o imenso pampa, forman<strong>do</strong><br />

com ele um só corpo <strong>na</strong>s batalhas, mas tratava-o com um cuida<strong>do</strong> ciumento e<br />

aparelhava-o luxuosamente.” Era, muitas vezes, sua única companhia, <strong>na</strong> solidão <strong>do</strong>s<br />

campos rio-grandenses, e seu único patrimônio, isso pode explicar, <strong>em</strong> parte, a ligação<br />

profunda entre o hom<strong>em</strong> rio-grandense e o cavalo.<br />

A atividade exercida e a região de extensas planícies faziam <strong>do</strong> cavalo o<br />

companheiro indispensável <strong>do</strong> peão, ao contrário <strong>do</strong> centro-sul <strong>em</strong> que o cavalo era um<br />

objeto de luxo. Roche (1969, p. 28) resume o papel <strong>do</strong> cavalo <strong>na</strong> sociedade riograndense<br />

no perío<strong>do</strong> colonial: “(...) o cavalo era o indispensável meio de locomoção,<br />

de trabalho, de defesa ou de ataque, o instrumento de conquista <strong>do</strong> espaço e da fortu<strong>na</strong>.”<br />

Para o gaúcho, o cavalo era símbolo de representação social, o indivíduo<br />

desprovi<strong>do</strong> de montaria era um ser desprezível e degradante, como mencio<strong>na</strong> Vian<strong>na</strong><br />

(1987, p. 178-179). O bom cavalo devia passar a imag<strong>em</strong> de força, de bravura, de<br />

121<br />

Roche, <strong>em</strong> alguns momentos, diferencia o gaúcho estancieiro <strong>do</strong> peão, mas, <strong>em</strong> outros, parece uni-los<br />

numa mesma categoria.<br />

122<br />

Décio Freitas (1980) recorre inúmeras vezes às obras argenti<strong>na</strong>s para explicar ou ex<strong>em</strong>plificar aspectos<br />

da cultura gaúcha rio-grandense, por julgar s<strong>em</strong>elhante o sist<strong>em</strong>a pastoril platino com o sul rio-grandense.<br />

Talvez deveria tomar alguns cuida<strong>do</strong>s <strong>na</strong> utilização dessas obras, já que levanta diferenças referentes à<br />

produtividade <strong>do</strong> trabalho <strong>em</strong> função da fertilidade da terra, além de outras tantas críticas sobre aspectos<br />

aborda<strong>do</strong>s pelos autores platinos.<br />

52

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