06.05.2013 Views

Faça aqui o download do texto na integra em pdf.

Faça aqui o download do texto na integra em pdf.

Faça aqui o download do texto na integra em pdf.

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

abelhas, milho, trigo, e galinhas e patos. No retorno, abasteciam os armazéns ou<br />

bolichos 291 com açúcar, arroz, erva-mate (<strong>em</strong> barricas), fazenda (teci<strong>do</strong>s), querosene,<br />

rapadura, sal, entre outros produtos. Com os anos, o transporte de carretas de boi foi<br />

substituí<strong>do</strong> pelo de caminhões. Atualmente os armazéns da região praticamente<br />

desapareceram, sobran<strong>do</strong> ape<strong>na</strong>s pequenos estabelecimentos comerciais (botecos) que<br />

vend<strong>em</strong> bebidas e alguns gêneros alimentícios. O desaparecimento <strong>do</strong>s armazéns devese<br />

à crise no setor agrícola, ao êxo<strong>do</strong> <strong>na</strong>s décadas de 1980 e 1990, e à disponibilidade de<br />

linhas regulares de transporte coletivo entre Rincão <strong>do</strong>s Marques e a cidade de Canguçu.<br />

Nos dias atuais, as relações comerciais entre produtores e comerciantes, com relação aos<br />

produtos cita<strong>do</strong>s acima, estão concentradas nos intermediários (atravessa<strong>do</strong>resatacadistas).<br />

Parece-nos que se trata de uma rede extensa e complexa de atividades mercantis,<br />

aparent<strong>em</strong>ente, de merca<strong>do</strong>s locais e regio<strong>na</strong>is, que sofreram mudanças nos padrões de<br />

acumulação (antes <strong>do</strong>s anos 1970 e depois <strong>do</strong>s anos 1970). 292 Indican<strong>do</strong>, de um la<strong>do</strong>,<br />

que as mudanças macroeconômicas e de políticas <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is tiveram efeitos <strong>na</strong><br />

localidade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Marques e, de outro la<strong>do</strong>, como os atores locais acio<strong>na</strong>m<br />

novas redes, buscam novas opções e exploram novas possibilidades que se colocam <strong>em</strong><br />

seus espaços de vivência, regra geral, pelo menos <strong>na</strong>s situações locais, posicio<strong>na</strong>n<strong>do</strong>-se<br />

como mais humildes frente aos processos de concentração e centralização de capitais<br />

(agroindústrias, supermerca<strong>do</strong>s, atravessa<strong>do</strong>res-atacadistas) e aos atores políticos.<br />

A alimentação das famílias <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Marques mu<strong>do</strong>u pouco com o passar<br />

<strong>do</strong>s anos, as alterações ficaram por conta da redução no consumo de carne bovi<strong>na</strong>,<br />

substituída pela suí<strong>na</strong>, e a incorporação de produtos industrializa<strong>do</strong>s <strong>na</strong> substituição de<br />

similar que eram produzi<strong>do</strong>s <strong>na</strong> propriedade. Nas declarações <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s,<br />

observam-se duas dietas alimentares que basicamente perduram até o presente,<br />

diferenciação alimentar que está relacio<strong>na</strong>da com a divisão social descrita<br />

anteriormente, o grupo <strong>do</strong>s produtores e <strong>do</strong>s mais humildes.<br />

Até mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XX, os produtores tinham <strong>na</strong> carne de ga<strong>do</strong> (charque) a<br />

base da alimentação, dieta compl<strong>em</strong>entada com abóbora, angu de milho, arroz<br />

(compra<strong>do</strong>), banha de porco, batata-<strong>do</strong>ce, café, carne de porco, feijão, galinhas, leite,<br />

manteiga, massa (macarrão), mel, milho, pão de trigo e de milho e torresmo. No café da<br />

manhã bebiam leite e café, comiam pão de trigo ou misto (trigo e milho) com banha de<br />

porco (batida com sal e alguns t<strong>em</strong>peros) ou manteiga, torresmo e carne de ga<strong>do</strong>. “A<br />

carne s<strong>em</strong>pre tinha! Tinha que ter café com carne senão o cara não agüentava até o<br />

meio-dia <strong>na</strong> lavoura.” 293 No almoço e <strong>na</strong> janta era carne, feijão, angu de milho e<br />

macarrão, alimentação que pouco variava no decorrer <strong>do</strong> ano e pouco diversificada.<br />

Também consumiam esporadicamente algumas frutas cultivadas no pomar, como<br />

abacate, bergamota (tangeri<strong>na</strong>), laranja e limão, e algumas <strong>na</strong>tivas, como butiá,<br />

guabiroba, maracujá, pitanga, entre outras. Atualmente, a carne de ga<strong>do</strong> cedeu espaço,<br />

por conta das restrições econômicas, aos animais menores, como o porco e a galinha, e a<br />

inclusão de alguns legumes e verduras, mais compra<strong>do</strong>s de um caminhão-verdureiro <strong>do</strong><br />

que cultiva<strong>do</strong>s <strong>na</strong>s hortas <strong>do</strong>mésticas.<br />

No passa<strong>do</strong>, a única forma de conservação da carne de ga<strong>do</strong> era transformá-la<br />

<strong>em</strong> charque (salga da carne) ou no caso de excesso distribuí-la <strong>na</strong> vizinhança, já que a<br />

venda era difícil. A matança de um animal reunia a família e alguns vizinhos, era um dia<br />

de trabalho e de celebração pela fartura. Reservavam as partes <strong>do</strong> animal que julgavam<br />

291 Denomi<strong>na</strong>ção regio<strong>na</strong>l para pequenos estabelecimentos comerciais de secos e molha<strong>do</strong>s.<br />

292 Ver Moreira (1999), sobre as mudanças nos padrões de acumulação.<br />

293 Miguel (59 anos), agricultor no Rincão <strong>do</strong>s Marques.<br />

121

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!