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masculi<strong>na</strong>. As transformações que aparec<strong>em</strong> nos depoimentos são frutos <strong>do</strong> acesso a<br />

informação através da educação escolar, <strong>do</strong>s meios de comunicação (rádio e televisão) e<br />

no conhecimento de outras realidades, processos de inter-relação social.<br />

Na sociedade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Marques, matar o porco, fazer o charque, tirar o<br />

leite, cuidar da casa e das crianças era e ainda é, <strong>em</strong> boa parte das famílias, trabalho da<br />

mulher, além de ajudar o mari<strong>do</strong> <strong>na</strong> lavoura e <strong>em</strong> outros serviços mais leves. Para o<br />

hom<strong>em</strong> são reservadas as ocupações da lavoura, da criação de ga<strong>do</strong> e <strong>do</strong> trabalho fora<br />

da propriedade, atividades de geração de renda, como relatam os entrevista<strong>do</strong>s.<br />

As atividades começam ainda de madrugada, tirar o leite para o café e para<br />

entregar ao caminhão de coleta da indústria de laticínios. 280 Logo depois a família segue<br />

para a lavoura (plantar ou capi<strong>na</strong>r). Antes <strong>do</strong> meio-dia, a mulher retor<strong>na</strong>, com as<br />

crianças menores, para preparar o almoço. Após breve descanso, voltam ao trabalho <strong>na</strong><br />

lavoura até o fi<strong>na</strong>l da tarde. Em casa, tratam os animais, tomam o chimarrão, jantam e<br />

<strong>do</strong>rm<strong>em</strong> para no dia seguinte retomar a roti<strong>na</strong>.<br />

As famílias <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Marques tinham, e ainda têm, <strong>na</strong> criação de animais,<br />

<strong>na</strong>s plantações, no extrativismo e no trabalho fora da propriedade os meios para suprir<br />

as necessidades para a subsistência familiar, atualmente agregaram a estes meios a<br />

aposenta<strong>do</strong>ria rural. 281 A criação de animais, herança <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> colonial, era a<br />

principal atividade da localidade, ocupan<strong>do</strong> os campos com rebanhos, principalmente,<br />

de bovinos e, <strong>em</strong> menor escala, de ovinos. Com os anos e a progressiva redução das<br />

áreas das propriedades, a pecuária foi perden<strong>do</strong> espaço para outras atividades produtivas<br />

adequadas a cada momento social e econômico que se configurava ao longo <strong>do</strong> processo<br />

de desenvolvimento dessa sociedade. No presente, a criação de bovinos de corte ainda<br />

se destaca como uma das principais atividades econômicas, fort<strong>em</strong>ente sustentada pelas<br />

heranças culturais, caracterizan<strong>do</strong> parte da sociedade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Marques como de<br />

pecuaristas familiares. 282<br />

As plantações de feijão e milho ocupam determi<strong>na</strong>da importância para a<br />

subsistência das famílias <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Marques, como também para as d<strong>em</strong>ais famílias<br />

das outras localidades de Canguçu. No passa<strong>do</strong>, além <strong>do</strong> feijão e <strong>do</strong> milho, a abóbora, o<br />

alpiste, a aveia, a cevadinha, o fumo de corda, a linhaça e o trigo eram produzi<strong>do</strong>s <strong>na</strong>s<br />

propriedades para subsistência das famílias ou para a venda no comércio local ou<br />

leva<strong>do</strong>s para as localidades de Cerro da Bue<strong>na</strong>, Estação Cerrito, ou, ainda, para as<br />

cidades de Canguçu e Pelotas. 283 Segun<strong>do</strong> os relatos, até a década de 1970 os<br />

agricultores enfrentavam dificuldades para comercializar qualquer produto, realizavam<br />

longas e d<strong>em</strong>oradas viagens <strong>em</strong> carretas de boi até encontrar compra<strong>do</strong>r para a<br />

produção. Hoje não precisam mais se deslocar <strong>em</strong> busca de compra<strong>do</strong>res, os<br />

intermediários bat<strong>em</strong> à porta dispostos a comprar qualquer produto, mas impon<strong>do</strong> o<br />

preço. Na década de 1970, os agricultores, por incentivo da indústria de conservas de<br />

Pelotas, tiveram uma rápida experiência com o plantio de ervilhas e tomates (reflexo da<br />

política agroindustrial). Cultivos que motivaram os produtores pela assistência técnica,<br />

garantia de comercialização e preço; poucos anos depois, no entanto, a indústria deixa<br />

de estimular a produção, pela superprodução e pelo fim <strong>do</strong>s incentivos gover<strong>na</strong>mentais,<br />

280 Anos atrás, o trabalho de tirar leite das vacas começava pelas 3h 30min da manhã, hoje, com os<br />

resfria<strong>do</strong>res de leite, o agricultor pode <strong>do</strong>rmir um pouco mais.<br />

281 Vian<strong>na</strong> (1987, p. 82-83) lista a produção <strong>do</strong>s açorianos no arquipélago <strong>do</strong>s Açores, entre eles: o trigo, a<br />

cevada, a criação de ga<strong>do</strong>, de ovelhas, de colméias, e a madeira. Itens que encontramos no Rincão <strong>do</strong>s<br />

Marques <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, d<strong>em</strong>onstran<strong>do</strong> que as mudanças <strong>na</strong> produção não foram tão significativas, mas que<br />

se acentuaram <strong>na</strong>s últimas décadas, identifican<strong>do</strong> um processo de <strong>em</strong>pobrecimento econômico e cultural.<br />

282 Ver Cotrim (2003).<br />

283 Cerro da Bue<strong>na</strong>, Estação Cerrito e Canguçu distam aproximadamente 40 km da localidade, e Pelotas,<br />

um pouco mais de 70 km.<br />

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