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pela restrição de terra, mas, entre outros fatores, pela relação de proximidade espacial<br />

com localidade de orig<strong>em</strong> germânica e italia<strong>na</strong>, vizinhas a Rincão <strong>do</strong>s Maia.<br />

Procuramos um ex<strong>em</strong>plar das antigas casas de pau-a-pique descritas pelos<br />

entrevista<strong>do</strong>s, mas não tiv<strong>em</strong>os oportunidade de conhecê-las. Encontramos somente<br />

uma velha tapera <strong>em</strong> meio a uma lavoura de milho. As l<strong>em</strong>branças da vida nessas casas<br />

ainda machucam os mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia, evocam <strong>do</strong>r, frio, fome e<br />

humilhação. Como o senhor Manuel, depoimento transcrito anteriormente, a maioria<br />

<strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s enfatiza a ausência das casas barreadas, por vezes, <strong>na</strong> forma como se<br />

expressam, dan<strong>do</strong> a interpretar que a elimi<strong>na</strong>ção delas também elimi<strong>na</strong>ria os traumas<br />

vivi<strong>do</strong>s <strong>na</strong>quele perío<strong>do</strong>.<br />

De acor<strong>do</strong> com os relatos, as casas eram comuns <strong>na</strong> localidade, eram de pau-apique,<br />

chão bati<strong>do</strong> (terra) e cobertas com capim santa-fé (palha) ou telhas s<strong>em</strong> forro, a<br />

cada chuva eram novamente rebocadas de barro. Casas de duas, três ou quatro peças, as<br />

maiores eram compostas por uma cozinha, um quarto, uma sala e a dispensa, esta última<br />

chamada de quartinho, ali guardavam o feijão, o carvão e a carne quan<strong>do</strong> carneavam<br />

algum animal. Banheiro não existia, como relatam, era no mato que faziam as<br />

necessidades fisiológicas. Ten<strong>do</strong> <strong>em</strong> vista estas características, segun<strong>do</strong> representante da<br />

secretaria da saúde <strong>do</strong> município, a incidência da Doença de Chagas e verminoses era e<br />

ainda é elevada <strong>na</strong> localidade. Esta última favorecida pelo hábito de criar<strong>em</strong> os animais<br />

soltos ao re<strong>do</strong>r da casa, facilitan<strong>do</strong> o conta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s animais com as fezes huma<strong>na</strong>s. Além<br />

<strong>do</strong>s animais, perto das casas geralmente localiza-se um pequeno pomar de frutas<br />

cítricas, como laranjeiras, bergamoteiras (tangeri<strong>na</strong>s), limoeiros e limeiras. O cultivo de<br />

hortaliças praticamente não existia, com raras exceções.<br />

O inverno <strong>na</strong> Serra <strong>do</strong> Sudeste, além da baixa t<strong>em</strong>peratura, é úmi<strong>do</strong>, acentuan<strong>do</strong><br />

a sensação térmica de frio, o que nos leva a imagi<strong>na</strong>r o sofrimento das pessoas quan<strong>do</strong><br />

escutamos relatos como o <strong>do</strong> senhor Frederico (44 anos): “Naquela época nós passava<br />

mais <strong>em</strong> cima das brasas. Nós não tinha roupa tchê! Muito frio e de pé no chão. (...) nós<br />

éramos nu, se criamos nu, e os vizinhos aí <strong>na</strong> volta também.” Estas informações ajudam<br />

a entender os motivos que levaram o senhor Nuno a perder três <strong>do</strong>s sete filhos, “(...)<br />

morreram quan<strong>do</strong> eram pequenos. Morreram <strong>do</strong>entes, <strong>na</strong>quela época não tinha médico,<br />

(...) nós travava com erva.” 395 Interroga<strong>do</strong> sobre diferenças físicas com pessoas de<br />

localidades vizinhas, o senhor Sérgio destaca: “Tinha uma certa diferença numa certa<br />

época pra trás. Eu l<strong>em</strong>bro, observava, que tinha crianças fracas.” 396<br />

Atualmente as casas são, <strong>na</strong> grande maioria, de alve<strong>na</strong>ria, amplas e confortáveis,<br />

com instalações de energia elétrica, água e banheiro completo (chuveiro e vaso<br />

sanitário). Poucos não dispõ<strong>em</strong> de habitação neste padrão, encontramos duas ou três<br />

famílias que, apesar da casa de alve<strong>na</strong>ria, não têm instalações sanitárias, continuam<br />

fazen<strong>do</strong> as necessidades <strong>em</strong> meio à vegetação. Quanto à disponibilidade de conforto<br />

interno, as casas são equipadas com televisão, fogão a gás e a lenha, geladeira e freezer,<br />

entre outros eletro<strong>do</strong>mésticos e mobílias. Também encontramos, com freqüência,<br />

motocicletas e carros. Diferença marcante entre o descrito nos relatos sobre o passa<strong>do</strong> e<br />

o presencia<strong>do</strong> <strong>na</strong>s visitas às residências das famílias.<br />

No passa<strong>do</strong>, as pessoas <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia eram reconhecidas facilmente pelos<br />

mora<strong>do</strong>res da cidade ou de outras localidades, pelo tipo físico, pela forma de vestir,<br />

pelos gestos e pela fala. Com os anos, estas marcas, estigmas, foram dissipadas pela<br />

395 Agricultor no Rincão <strong>do</strong>s Maia. Destacamos <strong>na</strong> fala deste senhor a utilização de ervas medici<strong>na</strong>is,<br />

provavelmente herança de antepassa<strong>do</strong>s indíge<strong>na</strong>s. Segun<strong>do</strong> Bento (1983), há relatos que a região <strong>do</strong><br />

Rincão <strong>do</strong>s Maia, até a primeira metade <strong>do</strong> século XX, era habitada por índios guaranis.<br />

396 Comerciante <strong>na</strong> Chácara <strong>do</strong> Paraíso, localidade vizinha a Rincão <strong>do</strong>s Maia. O local era ponto de<br />

passag<strong>em</strong> de mora<strong>do</strong>res de diversas localidades que rumavam <strong>em</strong> direção à cidade de Canguçu.<br />

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