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Retoman<strong>do</strong> a questão sobre os habitantes origi<strong>na</strong>is de Canguçu, Bento (1983, p.<br />

13-14) traz outras informações relevantes sobre os indíge<strong>na</strong>s. Segun<strong>do</strong> o autor, no<br />

século XVIII as tropas de José da Silva Pais, funda<strong>do</strong>r da freguesia de São Pedro de Rio<br />

Grande, enfrentaram a resistência de índios tapes que habitavam a região de Canguçu.<br />

O autor supõe que esses índios estavam sob orientação <strong>do</strong>s jesuítas, para restringir o<br />

avanço <strong>do</strong>s portugueses <strong>em</strong> direção ao interior <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul, evitan<strong>do</strong> ou<br />

retardan<strong>do</strong> o ataque às estâncias de criação de ga<strong>do</strong> <strong>do</strong>s jesuítas (Sete Povos das<br />

Missões). Em algum grau a suposição <strong>do</strong> autor reforça a nossa hipótese, referida no<br />

capítulo anterior, de que os jesuítas contribuíram <strong>na</strong> qualificação <strong>do</strong>s gaúchos como<br />

bandi<strong>do</strong>s, vagabun<strong>do</strong>s, etc. enquanto apropria<strong>do</strong>res de ga<strong>do</strong> que eram ou foram de<br />

propriedade <strong>do</strong>s jesuítas. 158 Outra informação refere-se aos relatórios de Rafael Pinto<br />

Bandeira 159 que reporta vagamente sobre esses índios <strong>em</strong> suas passagens pela Serra <strong>do</strong><br />

Tapes, mas Bento (1983) destaca a lenda que Pinto Bandeira, quase à morte, vivera um<br />

romance com uma índia minuano, filha de um cacique. Presumin<strong>do</strong> que a lenda tenha,<br />

de certa forma, base verídica, e que esse romance tenha ocorri<strong>do</strong> <strong>na</strong> região da Serra <strong>do</strong><br />

Tapes, como afirma o autor, pod<strong>em</strong>os inferir que Canguçu era uma área de fronteira<br />

entre os índios tapes – guaranis (ao norte) – e os índios minuanos – pampianos (ao sul),<br />

com intensa movimentação dessas tribos. 160<br />

Com a instalação, pelos portugueses, <strong>do</strong> forte de São Gonçalo, <strong>na</strong> marg<strong>em</strong><br />

direita <strong>do</strong> rio Piratini, <strong>em</strong> 1755, criaram-se condições de segurança para iniciar a<br />

exploração das terras de Pelotas e de Canguçu. Bento (1983, 2000) l<strong>em</strong>bra que a região<br />

da Serra <strong>do</strong> Tapes é um nó orográfico de <strong>na</strong>scentes de arroios que deságuam nos rios<br />

Piratini, Camaquã e Lagoa <strong>do</strong>s Patos, caminho entre Rio Grande e Rio Par<strong>do</strong>.<br />

Inicialmente este caminho era percorri<strong>do</strong> pelos militares portugueses que estavam <strong>em</strong><br />

constante deslocamento entre as duas vilas, <strong>em</strong> virtude das disputas territoriais entre<br />

Portugal e Espanha. Com a invasão e conquista de Rio Grande pelos espanhóis, a região<br />

de Canguçu passou a servir de base para as tropas guerrilheiras, associadas aos<br />

portugueses, de Rafael Pinto Bandeira (1763-76). Os constantes <strong>em</strong>bates entre<br />

espanhóis e portugueses, <strong>na</strong>s proximidades da Vila de Rio Grande, levaram muitos<br />

açorianos, já estabeleci<strong>do</strong>s entre a Vila de Rio Grande e Pelotas, a buscar<strong>em</strong> proteção <strong>na</strong><br />

Serra <strong>do</strong> Tapes, ao logo <strong>do</strong> caminho entre Rio Grande e Rio Par<strong>do</strong>. Provavelmente, foi<br />

nesse perío<strong>do</strong> que se inicia a ocupação, por famílias açoria<strong>na</strong>s, da região de Canguçu.<br />

Outro fato relevante, destaca<strong>do</strong> por Bento (1983), refere-se à conquista da Colônia de<br />

Sacramento pelos espanhóis <strong>em</strong> 1777, o que levou as famílias a retirar<strong>em</strong>-se da região e<br />

procurar<strong>em</strong> se estabelecer <strong>na</strong>s imediações de Pelotas e Canguçu. Parece-nos que<br />

Canguçu representava para os portugueses uma posição estratégica frente às invasões<br />

espanholas, pelas características geográficas – região próxima a Pelotas (Lagoa <strong>do</strong>s<br />

158 O ga<strong>do</strong> fora introduzi<strong>do</strong> pelos jesuítas e por motivo contra a própria vontade aban<strong>do</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>. Ao<br />

retor<strong>na</strong>r<strong>em</strong> ao atual território rio-grandense iniciaram a recaptura <strong>do</strong> ga<strong>do</strong> que outrora foram obriga<strong>do</strong>s a<br />

deixar <strong>na</strong> região (parte <strong>do</strong> rebanho fora conduzi<strong>do</strong> pelos jesuítas para os Campos de Cima da Serra –<br />

Vacaria <strong>do</strong>s Pinhais), entretanto, aos jesuítas, a captura de ga<strong>do</strong> xucro pelos gaúchos representava<br />

apropriação alheia, origi<strong>na</strong>n<strong>do</strong>, <strong>em</strong> certa medida, a estigmatização <strong>do</strong> gaúcho.<br />

159 Bento (1983, p. 17) apresenta uma foto das ruí<strong>na</strong>s da estância de Luiz Francisco Marques de Souza<br />

(uma das primeiras estâncias de Canguçu), <strong>na</strong> qual Rafael Pinto Bandeira teria utiliza<strong>do</strong> como base de<br />

suas operações <strong>na</strong> região. Estas ruí<strong>na</strong>s estão <strong>na</strong> divisa entre as duas atuais localidades de Rincão <strong>do</strong>s<br />

Cravos e Rincão <strong>do</strong>s Marques, esta última possivelmente tenha recebi<strong>do</strong> este nome por ter si<strong>do</strong>, no<br />

passa<strong>do</strong>, terras <strong>do</strong>s Marques. Além de Luiz Francisco Marques de Souza, Manuel Marques de Souza<br />

(marechal) também recebera terras <strong>na</strong> região.<br />

160 Inferência com base nesta informação de Bento (1983, p. 14) e no mapa apresenta<strong>do</strong> por Flores (2003,<br />

p. 11).<br />

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