Faça aqui o download do texto na integra em pdf.
Faça aqui o download do texto na integra em pdf.
Faça aqui o download do texto na integra em pdf.
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Canguçu, que, no passar <strong>do</strong>s anos, incorpora parte <strong>do</strong>s imigrantes e descendentes<br />
al<strong>em</strong>ães <strong>em</strong> seus limites. Atualmente boa parte da população <strong>do</strong> município de Canguçu<br />
é de ascendência al<strong>em</strong>ã, ten<strong>do</strong> localidades com significativa presença de agricultores<br />
descendentes de imigrantes al<strong>em</strong>ães.<br />
Conforme Roche (1969), a colônia de São Leopol<strong>do</strong> foi estabelecida <strong>em</strong> terras<br />
de propriedade da Coroa, da Real Feitoria <strong>do</strong> Linho Cânhamo que anteriormente, como<br />
argumenta Bento (1983), se situava <strong>na</strong> atual localidade de Canguçu-Velho. Em março<br />
de 1824, o primeiro Presidente da Província recebeu ord<strong>em</strong> de proceder a liquidação <strong>do</strong><br />
estabelecimento e de preparar a instalação <strong>do</strong>s colonos recruta<strong>do</strong>s <strong>na</strong> Al<strong>em</strong>anha. Para<br />
atrair os colonos, o Governo Brasileiro (Imperial) oferecia condições extr<strong>em</strong>amente<br />
favoráveis: os colonos viajariam com as despesas pagas pelo Governo Brasileiro, seriam<br />
logo <strong>na</strong>turaliza<strong>do</strong>s, gozariam de liberdade de culto, receberiam como livre propriedade<br />
160.000 braças quadradas de terra (77 hectares) por família, cavalos, vacas, bois, etc.;<br />
durante o primeiro ano receberiam ajuda fi<strong>na</strong>nceira, seriam isentos de impostos pelo<br />
prazo de dez anos, entre outras vantagens.<br />
Em 1825 inicia a mobilização brasileira para a Guerra de Cisplati<strong>na</strong> que<br />
novamente faz <strong>do</strong> Sul <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul o cenário para mais um conflito. Roche<br />
(1969, p. 16) destaca os al<strong>em</strong>ães (voluntários e mercenários) que compunham as tropas<br />
brasileiras, muitos desses recruta<strong>do</strong>s <strong>na</strong> colônia recém-criada de São Leopol<strong>do</strong>. No<br />
relato de Avé-Lall<strong>em</strong>ant (1980), que percorreu o Rio Grande <strong>do</strong> Sul <strong>em</strong> 1858, encontrase<br />
referência a al<strong>em</strong>ães <strong>na</strong> região da fronteira, provavelmente alguns r<strong>em</strong>anescentes da<br />
Guerra de Cisplati<strong>na</strong>. Segun<strong>do</strong> Bento (1983), durante esse perío<strong>do</strong>, a região de Canguçu<br />
e Piratini foi visitada por tropas inimigas; com o término <strong>do</strong> conflito (1828) e a<br />
desmobilização das tropas, muitos militares radicaram-se <strong>na</strong>s freguesias de Pelotas (São<br />
Francisco de Paula), Canguçu e Piratini. A formação da sociedade canguçuense parece<br />
ter si<strong>do</strong> influenciada pelos inúmeros conflitos que usaram como cenário a Campanha<br />
rio-grandense. Conforme Bento (1983), ao retomar a calmaria (perío<strong>do</strong>s de paz), muitos<br />
<strong>integra</strong>ntes das tropas, de ambos os la<strong>do</strong>s, fixaram-se <strong>na</strong>s proximidades de Canguçu.<br />
Essas migrações decorrentes das guerras também foram referenciadas pelo autor <strong>na</strong><br />
disputa entre os dita<strong>do</strong>res Oribe (Uruguai) e Rosas (Argenti<strong>na</strong>) – 1848-1851, <strong>na</strong> ocasião<br />
muitos brasileiros e uruguaios estabeleceram-se <strong>em</strong> Canguçu, famílias que ainda hoje se<br />
encontram no município. 183<br />
Durante a Revolução Farroupilha (1835-1845), Canguçu, conheci<strong>do</strong> reduto<br />
farrapo, fornecera suprimentos e refugio para as tropas farroupilhas. De acor<strong>do</strong> com<br />
Bento (1983, p. 75-76), os farroupilhas abasteciam-se de trigo, milho e erva-mate. O<br />
trigo e o milho eram leva<strong>do</strong>s a moinhos da região para ser<strong>em</strong> transforma<strong>do</strong>s <strong>em</strong> farinha<br />
para alimentar os militares. Em Canguçu havia um curtume, que confeccio<strong>na</strong>va<br />
equipamentos usa<strong>do</strong>s nos arreios <strong>do</strong>s cavalos, denomi<strong>na</strong><strong>do</strong> de “Fábrica Nacio<strong>na</strong>l de<br />
Curtumes e Lombilhos”. Os farroupilhas, após algumas incursões, retor<strong>na</strong>vam à região<br />
de Canguçu para repor cavalos e solda<strong>do</strong>s, esses últimos representa<strong>do</strong>s por escravos,<br />
muitos desses <strong>integra</strong>ram os corpos de Lanceiros Farroupilhas (Lanceiros Negros),<br />
incentiva<strong>do</strong>s a <strong>integra</strong>r as tropas farroupilhas <strong>em</strong> troca da liberdade. Canguçu, como<br />
reporta<strong>do</strong> anteriormente, foi utiliza<strong>do</strong> <strong>em</strong> vários momentos da história como lugar de<br />
refúgio, o terreno montanhoso e pedregoso era procura<strong>do</strong> como proteção por escravos<br />
fugi<strong>do</strong>s das charqueadas e estâncias e pelos farroupilhas.<br />
183 Conforme Pesavento (1994), o trata<strong>do</strong> assi<strong>na</strong><strong>do</strong> <strong>em</strong> 1851, que assi<strong>na</strong>lou a derrota de Oribe, favoreceu<br />
as charqueadas rio-grandenses, desoneran<strong>do</strong> de impostos o ga<strong>do</strong> uruguaio, ao entrar no Brasil, e taxan<strong>do</strong> a<br />
importação <strong>do</strong> charque platino. Esse trata<strong>do</strong> levou à redução <strong>do</strong>s custos com matéria-prima (ga<strong>do</strong>) e<br />
restringiu a concorrência (imposto de importação sobre o charque), proporcio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> relativas condições de<br />
crescimento para as charqueadas rio-grandenses.<br />
82