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caudilho local. Essa íntima convicção de fraqueza, de desamparo, de incapacidade<br />

se radica <strong>na</strong> sua consciência com a profundeza e a te<strong>na</strong>cidade de um instinto.<br />

O sentimento de incapacidade está incrusta<strong>do</strong> <strong>na</strong> psique <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> rural<br />

(subalterno, gaúcho peão, etc.), desprovi<strong>do</strong> de autoconfiança, desacredita<strong>do</strong> de si<br />

mesmo, aproxima-se <strong>do</strong>s poderosos para aliviar sua insegurança. O estreitamento <strong>na</strong><br />

relação de amizade (amizade entre diferentes, diferentes <strong>em</strong> poder) com os poderosos<br />

locais pode render prestígio, principalmente aos olhos <strong>do</strong>s que estão no mesmo nível<br />

social ou inferior. Há uma dependência psicológica tanto <strong>do</strong> subalterno como <strong>do</strong><br />

superior; o subalterno necessita da proximidade para abrandar suas angústias, e o<br />

superior adquire no reconhecimento, <strong>na</strong> dependência, <strong>do</strong> subalterno a auto-afirmação.<br />

Essa relação t<strong>em</strong> no econômico (bens materiais) um <strong>do</strong>s media<strong>do</strong>res, 150 estabelecen<strong>do</strong><br />

uma das vias principais de acesso ao poder, e, <strong>em</strong> certa medida, determi<strong>na</strong>n<strong>do</strong> o<br />

superior e o subordi<strong>na</strong><strong>do</strong>.<br />

De acor<strong>do</strong> com Elias (1999, p. 80-81), os indivíduos constant<strong>em</strong>ente med<strong>em</strong><br />

suas forças, situação básica das relações interpessoais, poden<strong>do</strong>, passa<strong>do</strong> algum t<strong>em</strong>po,<br />

alcançar certo equilíbrio de poder (estável ou instável). Entend<strong>em</strong>os como equilíbrio de<br />

proporções diferentes, algumas pessoas com possibilidades relativamente maiores de<br />

acesso ao poder que outras, mas que se relacio<strong>na</strong>m harmoniosamente; nessa harmonia<br />

que reside o equilíbrio. No <strong>em</strong>aranha<strong>do</strong> das relações huma<strong>na</strong>s, l<strong>em</strong>bra Elias, deve-se ter<br />

presente que o equilíbrio de poder é pelo menos bipolar e, usualmente, multipolar.<br />

Ressalta Elias (1999, p. 81), “(...) o poder não é um amuleto que um indivíduo possua e<br />

outro não; é uma característica estrutural das relações huma<strong>na</strong>s – de todas as relações<br />

huma<strong>na</strong>s.”<br />

Na região da Campanha rio-grandense, <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> colonial, pode-se,<br />

grosseiramente, referir a um equilíbrio de poder bipolar, constituí<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is grupos<br />

sociais: estancieiros e peões (subalternos). 151 O equilíbrio de poder está <strong>na</strong>s relações de<br />

trocas materiais e abstratas, geralmente, para satisfazer necessidades materiais e<br />

psicológicas – caso da relação estancieiro e peão. O estancieiro vê no peão o el<strong>em</strong>ento<br />

necessário para executar a lida com o ga<strong>do</strong> (produção) e exercitar poder de man<strong>do</strong><br />

(autoridade) para satisfazer o ego. No caso <strong>do</strong> peão, o estancieiro representa a garantia<br />

de subsistência (alimentação, habitação e r<strong>em</strong>uneração – troca por trabalho) e a<br />

incorporação <strong>do</strong> sentimento de segurança à psique. Há relação de poder entre o<br />

estancieiro e o peão, desde que um atribua qualquer tipo de valor ao outro – desde que<br />

haja interdependência funcio<strong>na</strong>l entre ambos. 152<br />

Talvez o gaúcho estancieiro represente o tipo ideal ou, conforme Giddens<br />

(2002), o eu ideal <strong>do</strong> gaúcho peão, 153 mas saben<strong>do</strong> da impossibilidade de atingi-lo, o<br />

gaúcho peão alivia sua frustração com a proximidade <strong>na</strong> relação com o estancieiro. Em<br />

contrapartida, o estancieiro deve ter conhecimento, pelo menos intuitivamente, das<br />

frustrações <strong>do</strong> peão, levan<strong>do</strong>-o a uma relação de companheirismo, descrita por vários<br />

estudiosos da história rio-grandense. Companheirismo <strong>na</strong>da desinteressa<strong>do</strong>, media<strong>do</strong><br />

pelas necessidades de ambos.<br />

Vian<strong>na</strong> (1987a, p. 147) pode ajudar a entender a dupla perso<strong>na</strong>lidade <strong>do</strong> gaúcho,<br />

perso<strong>na</strong>g<strong>em</strong> que oscila entre o altivo e o vexa<strong>do</strong>.<br />

Valente, bravo, altivo, arrogante mesmo, o nosso campônio só está b<strong>em</strong> quan<strong>do</strong><br />

está sob um chefe, a qu<strong>em</strong> obedece com uma passividade de autômato perfeito. É<br />

150 Não esquecen<strong>do</strong> outros media<strong>do</strong>res como afetividade, carisma, poder público (Esta<strong>do</strong>), etc.<br />

151 Como ex<strong>em</strong>plos de polaridades, pode-se ainda citar: estancieiros e escravos, militares dirigentes e<br />

solda<strong>do</strong>s. T<strong>em</strong>os conhecimento de outros atores, mas, a título de simplificação, optamos <strong>em</strong> reduzir a<br />

análise para esses <strong>do</strong>is grupos sociais (estancieiros e peões).<br />

152 Sobre equilíbrio de poder, ver Elias (1999, p. 81).<br />

153 Segun<strong>do</strong> Giddens (2002, p. 67), inspira<strong>do</strong> <strong>em</strong> Heinz Kohut, o eu ideal é o “(...) eu como quero ser.”<br />

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