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Mas qu<strong>em</strong> era esse gaúcho? O gaúcho, enquanto prea<strong>do</strong>r de ga<strong>do</strong> e nômade, era<br />

um mestiço ladrão de ga<strong>do</strong> e amante da liberdade; posteriormente, cria<strong>do</strong>r de ga<strong>do</strong> e<br />

estancieiro, passou a um campea<strong>do</strong>r viril, um guerreiro com predica<strong>do</strong>s de mito, 91<br />

argucioso e defensor <strong>do</strong>s interesses coletivos. 92 Os <strong>do</strong>is momentos, depreciação e<br />

exaltação <strong>do</strong> tipo social gaúcho, são apresenta<strong>do</strong>s por Costa (1988, p. 79). Aos olhos<br />

<strong>do</strong>s coloniza<strong>do</strong>res, o gaúcho era o libertino, o vagabun<strong>do</strong>, guerreiro s<strong>em</strong> terra n<strong>em</strong> lei,<br />

parte da sociedade que deveria ser excluída <strong>do</strong> processo de formação <strong>do</strong> território riograndense.<br />

Com a distribuição das sesmarias e posteriormente com o estabelecimento<br />

das estâncias cria<strong>do</strong>ras de ga<strong>do</strong>, fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> século XIX, há a valorização da herança<br />

cultural <strong>do</strong> gaúcho, identificada com a sociedade pastoril, como afirma o autor, por<br />

absoluta conveniência.<br />

Atualmente o termo gaúcho foi apropria<strong>do</strong> por outras etnias que chegaram<br />

depois <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> de ocupação <strong>do</strong>s campos gaúchos e que se instalaram <strong>em</strong> área à<br />

marg<strong>em</strong> <strong>do</strong> complexo pastoril, caso <strong>do</strong>s al<strong>em</strong>ães e italianos, aproprian<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> linguajar<br />

campeiro, <strong>do</strong> cavalo, <strong>do</strong> chimarrão, passan<strong>do</strong> a representar um tipo social livre e bravo.<br />

Segun<strong>do</strong> Oliven (1996), tais fatos d<strong>em</strong>onstram que a cultura gaúcha, no senti<strong>do</strong><br />

pampeano, é heg<strong>em</strong>ônica num Esta<strong>do</strong> <strong>em</strong> que há forte presença da cultura germânica e<br />

italia<strong>na</strong>, capaz de unir os habitantes <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul dentro da representação da<br />

figura <strong>do</strong> gaúcho.<br />

A representação <strong>do</strong> gaúcho reuniu etnias distintas <strong>na</strong> formação da identidade<br />

regio<strong>na</strong>l – <strong>em</strong> contraposição às d<strong>em</strong>ais regiões <strong>do</strong> país. No interior <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong><br />

Sul, a distinção étnica e cultural está latente, há regiões características de colonização<br />

portuguesa (incluin<strong>do</strong> açoria<strong>na</strong>), al<strong>em</strong>ã e italia<strong>na</strong>, sen<strong>do</strong> as duas últimas mais<br />

representativas <strong>do</strong> que a primeira no interior <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Interessante contradição, que no<br />

ambiente interno (Rio Grande <strong>do</strong> Sul) menospreza os herdeiros legítimos da cultura<br />

gaúcha (habitantes da região sul e herdeiros étnicos da miscige<strong>na</strong>ção de portugueses,<br />

espanhóis, negros e índios) e exalta as raízes culturais próprias, mas que utiliza dessa<br />

cultura gaúcha para se diferenciar e afirmar como cultura superior quan<strong>do</strong> transborda as<br />

fronteiras <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul. Com base <strong>na</strong> reflexão sobre identidade, Costa (1988, p.<br />

78) ressalta: “(...) mais que a simples resistência <strong>do</strong> espaço e da sociedade tradicio<strong>na</strong>is,<br />

o atual resgate da identidade regio<strong>na</strong>l reflete um quadro b<strong>em</strong> mais complexo, forja<strong>do</strong> <strong>em</strong><br />

relação à idéia de que o Rio Grande <strong>do</strong> Sul como um to<strong>do</strong> está sen<strong>do</strong> ameaça<strong>do</strong> (...).”<br />

Para o autor, a exaltação da identidade regio<strong>na</strong>l <strong>do</strong>s gaúchos não é simplesmente uma<br />

forma de diferenciação e resistência, mas um mo<strong>do</strong> de enfrentar e reivindicar a perda da<br />

sua posição de destaque econômico e político frente ao cenário <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.<br />

No âmbito <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, o estereotipo <strong>do</strong> gaúcho adquiriu maior notoriedade que<br />

outros, como, por ex<strong>em</strong>plo, o colono al<strong>em</strong>ão e o italiano, também identifica<strong>do</strong>s como<br />

91 Para José de Alencar, o gaúcho incorporava o signo <strong>do</strong> Centauro <strong>do</strong>s Pampas. Talvez Alencar, ao<br />

denomi<strong>na</strong>r o gaúcho como Centauro <strong>do</strong>s Pampas, tenha busca<strong>do</strong> inspiração <strong>na</strong> descrição das noites riograndenses<br />

feita por Avé-Lall<strong>em</strong>ant, e assim identificá-lo com o ser mitológico meio hom<strong>em</strong>, meio<br />

cavalo, não só pelo fato de o gaúcho passar boa parte de sua vida <strong>em</strong> cima de um cavalo. A descrição<br />

sobre a noite de Avé-Lall<strong>em</strong>ant (1980, p. 262): “E o céu meridio<strong>na</strong>l nessas noites brilha com ple<strong>na</strong><br />

limpidez; claramente resplandec<strong>em</strong> o Cruzeiro <strong>do</strong> Sul e a cintilante figura <strong>do</strong> Centauro e lentamente<br />

<strong>na</strong>vega, para oeste, a constelação <strong>do</strong> Argos, através <strong>do</strong> mar celeste, cuja fosforescência ainda é mais bela<br />

que a <strong>do</strong> mar terrestre.” Passag<strong>em</strong> recheada de símbolos que estão relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s com a vida <strong>na</strong> Campanha,<br />

como, por ex<strong>em</strong>plo: a) o mar, sinônimo de imensidão, como as extensas campi<strong>na</strong>s rio-grandenses; b) o<br />

lento <strong>na</strong>vegar, tanto no céu como no pampa tu<strong>do</strong> passa lentamente, reflexo das proporções entre o<br />

solitário cavaleiro e as vastas planícies.<br />

92 Vian<strong>na</strong> (1987) no estu<strong>do</strong> sobre a formação <strong>do</strong> gaúcho (produto <strong>do</strong> pampa e da guerra) chega às margens<br />

de um <strong>do</strong>cumento apológico.<br />

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