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Freyre (apud Ornellas, 1966, p. 129) sobre os moçárabes, impreg<strong>na</strong><strong>do</strong>s da cultura e <strong>do</strong><br />

sangue <strong>do</strong> invasor, resultan<strong>do</strong> no nervo da <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lidade portuguesa. 107 Com base no<br />

argumento de Ornellas, pode-se afirmar que indiretamente fomos coloniza<strong>do</strong>s pelos<br />

mouros, quan<strong>do</strong> se está referin<strong>do</strong> aos portugueses <strong>do</strong> continente.<br />

Sabe-se que significativo contingente de coloniza<strong>do</strong>res eram originários <strong>do</strong>s<br />

Açores, mas eles também traziam no sangue a herança árabe, moura. Segun<strong>do</strong> a tese de<br />

Ornellas (1966, p. 129-130), o arquipélago de Açores foi descoberto no século XV e<br />

para lá Portugal enviou homens e mulheres <strong>do</strong> Algarve, província que era “(...)<br />

totalmente árabe, totalmente moura.” O pesquisa<strong>do</strong>r recupera relatos <strong>do</strong>s sociólogos<br />

ilhéus Padre Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Agostinho da Silva e Carlos Azeve<strong>do</strong> de Menezes que destacam<br />

a introdução de avultadas multidões de mouros legítimos para fomentar a povoação <strong>do</strong>s<br />

Açores e da Madeira, forma encontrada para compensar a reduzida disponibilidade de<br />

indivíduos no continente português.<br />

Para fi<strong>na</strong>lizar sua tese, Ornellas (1966, p. 131) conclui:<br />

E, ao fi<strong>na</strong>l destes estu<strong>do</strong>s, após o exame de contribuição árabe e berbere <strong>na</strong><br />

Espanha <strong>em</strong> geral, e <strong>na</strong> Maragateria <strong>em</strong> particular, e <strong>em</strong> toda a vida da Nação<br />

Portuguesa, não será difícil aceitar, como aceitamos nós, depois de 20 anos de<br />

mergulho no t<strong>em</strong>po, a conclusão de que no tipo e <strong>na</strong> vida <strong>do</strong>s gaúchos sulamericanos<br />

<strong>em</strong> que se enquadra o gaúcho rio-grandense, porque o Pampa é um<br />

território sociologicamente indivisível, esteve e permanece vulnerável e<br />

irr<strong>em</strong>ovível, a pre<strong>do</strong>minância <strong>do</strong>s hábitos e costumes <strong>do</strong> cavaleiro mouro, que,<br />

por oito séculos viveu e imperou <strong>na</strong>s terras de sol del Andaluz.<br />

No entanto, uma outra análise poderia identificar um substrato comum que teria<br />

produzi<strong>do</strong>, por disputas das fronteiras entre Portugal e Espanha <strong>na</strong> região <strong>do</strong>s pampas,<br />

diversos gaúchos, dentre os quais o gaúcho brasileiro.<br />

Os próximos autores consulta<strong>do</strong>s sobre a formação étnica <strong>do</strong> gaúcho<br />

desconhec<strong>em</strong> ou não julgam relevantes as contribuições de Ornellas (1966), refer<strong>em</strong>-se<br />

à pecuária européia como atividade de rebanhos limita<strong>do</strong>s <strong>em</strong> que o cavalo praticamente<br />

inexistia como instrumento de trabalho, por ex<strong>em</strong>plo, Freitas (1980, p. 27).<br />

Para Freitas (1980, p. 27), a gênese <strong>do</strong> gaúcho está no índio, foi este que<br />

desenvolveu as técnicas de trabalho e produção utilizadas <strong>na</strong> pecuária <strong>do</strong> extr<strong>em</strong>o-sul <strong>do</strong><br />

Brasil, estas, posteriormente, transmitidas aos brancos e mestiços que se aventuravam<br />

<strong>na</strong> Campanha para a captura <strong>do</strong> ga<strong>do</strong> chimarrão (xucro) – “(...) os futuros <strong>integra</strong>ntes <strong>do</strong><br />

grupo social denomi<strong>na</strong><strong>do</strong> gaúcho.” Segun<strong>do</strong> o autor, os índios criaram e transmitiram ao<br />

europeu a maioria <strong>do</strong>s instrumentos de trabalho da lida com o ga<strong>do</strong>, por ex<strong>em</strong>plo: a<br />

boleadeira, o laço, o tira<strong>do</strong>r; o vestuário adequa<strong>do</strong> para a atividade, como a bota de<br />

couro, o xiripá e o poncho; a forma de construir abrigos primitivos com teto e paredes<br />

de couro; e <strong>na</strong> alimentação, o churrasco, o charque e o mate (chimarrão); e no<br />

transporte, travessia <strong>do</strong>s rios, o uso das pelotas – <strong>em</strong>barcação feita de couro de ga<strong>do</strong>.<br />

Com a apropriação <strong>do</strong> conhecimento indíge<strong>na</strong> pelos europeus, muitos destes foram<br />

modifica<strong>do</strong>s e aperfeiçoa<strong>do</strong>s para adequar<strong>em</strong> a uma outra forma de trabalho. 108<br />

de laranjais, e ainda hoje encontramos, até <strong>na</strong>s propriedades menos afortu<strong>na</strong>das, pomares de laranjeiras,<br />

muitas vezes a única plantação desti<strong>na</strong>da exclusivamente ao autoconsumo familiar. Talvez influência da<br />

cultura moura que veio com os primeiros coloniza<strong>do</strong>res portugueses e espanhóis. Ornellas destaca outro<br />

ex<strong>em</strong>plo de influência moura <strong>na</strong>s tradições portuguesas, agora <strong>na</strong> cultura musical, os músicos e<br />

trova<strong>do</strong>res carregam, como o árabe e o gaúcho, o cordeo<strong>na</strong>, segun<strong>do</strong> o autor, a mesma gaita zamora<strong>na</strong>,<br />

originária <strong>do</strong> Maghreb, ou a sua guitarra também de orig<strong>em</strong> mourisca. Influências que também aparec<strong>em</strong><br />

<strong>na</strong>s vestimentas <strong>do</strong> gaúcho.<br />

107 Sobre a miscige<strong>na</strong>ção portuguesa anterior ao t<strong>em</strong>po <strong>do</strong> descobrimento <strong>do</strong> Brasil, ver Holanda (1995).<br />

108 Roche (1969, p. 28-29) refere-se á idade <strong>do</strong> couro, perío<strong>do</strong> que este material era utiliza<strong>do</strong> para a<br />

confecção de inúmeros apetrechos, peças de vestuário, meio de transporte (pelotas) e <strong>na</strong> construção de<br />

casas (cobertura, portas e divisões inter<strong>na</strong>s) – “tu<strong>do</strong> era de couro”.<br />

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