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constrói sua argumentação no passa<strong>do</strong> de constantes conflitos por disputa de território<br />

ou de interesses e <strong>na</strong> vida de cavaleiro. Neste último, para sustentar seu argumento, ele<br />

traz o ex<strong>em</strong>plo de outras sociedades que o cavaleiro era um tipo comum, como a região<br />

<strong>do</strong>s campos de Goitacazes e os sertões <strong>do</strong> norte – “(...) parece condição <strong>na</strong>tural de to<strong>do</strong>s<br />

os nossos grupos regio<strong>na</strong>is que se encontraram, ou se encontram economicamente<br />

organiza<strong>do</strong>s sob uma base pastoril;” 126 ten<strong>do</strong> o cavalo a função social de ampliar os<br />

círculos da sociabilidade, reduzin<strong>do</strong> distâncias e aproximan<strong>do</strong> pessoas. Com as<br />

facilidades de locomoção, o gaúcho encontra <strong>na</strong>s vendas à beira das estradas (armazéns<br />

de secos e molha<strong>do</strong>s) um ponto de encontro – segun<strong>do</strong> Vian<strong>na</strong> (1987, p. 189), “o cavalo<br />

corrige, assim, a dispersão social.” 127<br />

Adiante, Vian<strong>na</strong> (1987, p. 187) retoma a discussão sobre jovialidade e<br />

sociabilidade e conclui que: “to<strong>do</strong> hom<strong>em</strong> jovial é, por força, um hom<strong>em</strong> sociável (...).”<br />

No caso <strong>em</strong> questão, os habitantes da região da Campanha,<br />

(...) essa correlação ressalta com uma evidência maior <strong>do</strong> que <strong>em</strong> qualquer outro<br />

<strong>do</strong>s nossos grupos regio<strong>na</strong>is. O gaúcho é jovial porque é sociável e é sociável<br />

porque o pastoreio <strong>na</strong> sava<strong>na</strong> – desenvolven<strong>do</strong> os hábitos da cooperação e da<br />

solidariedade – é, de si mesmo, uma escola incomparável de sociabilidade.<br />

Refere-se ao pastoreio como escola incomparável de sociabilidade, pela sua<br />

própria característica de atividade coletiva. O trabalho no campo, a lida com o ga<strong>do</strong>,<br />

não é um trabalho individual, necessita de um grupo de homens para cercar os animais,<br />

para conduzir os animais ao destino, que trabalh<strong>em</strong> de forma coorde<strong>na</strong>da e imbuí<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

sentimento corporativo – cooperação; “(...) trata-se <strong>do</strong> trabalho combi<strong>na</strong><strong>do</strong>, <strong>do</strong> trabalho<br />

conjuga<strong>do</strong>, da solidariedade forçada no trabalho. (...) uma aprendizag<strong>em</strong> quotidia<strong>na</strong> da<br />

solidariedade e à pratica de um regime obrigatório de cooperação.”<br />

No convívio com a família, as características acima se repet<strong>em</strong> – expansivos,<br />

alegres. A mulher absorve a educação desafogada e livre da Campanha, é forte,<br />

des<strong>em</strong>baraçada, segura, não se intimida diante <strong>do</strong> sexo oposto e n<strong>em</strong> de estranhos, como<br />

no relato de Avé-Lall<strong>em</strong>ant (1980, p. 264) sobre a formosura de uma gaúcha que chega<br />

a cavalo e logo “pôs-se à vontade”, não se intimidan<strong>do</strong> com a presença <strong>do</strong> viajante.<br />

Também se t<strong>em</strong> ex<strong>em</strong>plos <strong>na</strong> literatura regio<strong>na</strong>l, como, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>na</strong> figura de A<strong>na</strong><br />

Terra, mulher de perso<strong>na</strong>lidade marcante, da trilogia “O T<strong>em</strong>po e o Vento” de Érico<br />

Veríssimo.<br />

Arriscamos a dizer que essa alegria e espontaneidade que no gaúcho aflora<br />

quan<strong>do</strong> está desfrutan<strong>do</strong> <strong>do</strong> convívio social são frutos da solidão que o acompanha. Um<br />

mecanismo de defesa, <strong>do</strong> qual se utiliza toda vez que está se relacio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> com outros<br />

indivíduos. Sobre a nossa suposição, referente a este comportamento social,<br />

encontramos, num senti<strong>do</strong> aparent<strong>em</strong>ente próximo, 128 apoio <strong>na</strong>s palavras de Holanda<br />

(1995, p. 147) que desenvolve seu argumento sobre o hom<strong>em</strong> cordial <strong>na</strong> idéia de que a<br />

solidão é algo inerente a sua situação de ser humano – <strong>na</strong> perspectiva de homo<br />

clausus: 129<br />

126 Vian<strong>na</strong> (1987, p. 186).<br />

127 A título de curiosidade, <strong>na</strong>s localidades estudadas encontramos a substituição <strong>do</strong> cavalo pela<br />

motocicleta; poucas famílias de agricultores não dispõ<strong>em</strong> deste meio de transporte.<br />

128 Pressupomos, pelas características ecossistêmicas e sociais, que a solidão <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> da Campanha<br />

seja, <strong>em</strong> certo grau, distinta da <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> <strong>do</strong> centro <strong>do</strong> país, entretanto, <strong>na</strong> essência, é o mesmo<br />

sentimento; permitin<strong>do</strong>, com cautela, comparar o hom<strong>em</strong> jovial, de Vian<strong>na</strong>, com o hom<strong>em</strong> cordial, de<br />

Holanda. Nossa cautela diz respeito à crítica indireta de Holanda, <strong>em</strong> Raízes <strong>do</strong> Brasil, a abordag<strong>em</strong> de<br />

Vian<strong>na</strong> sobre a sociedade.<br />

129 Ver Elias (1999, p. 130). A imag<strong>em</strong> <strong>do</strong> homo clausus é considerada, por Elias, probl<strong>em</strong>ática. Segun<strong>do</strong><br />

o autor, essa imag<strong>em</strong> dá “(...) poder e convicção a idéia de que a sociedade existe para além <strong>do</strong>s<br />

indivíduos ou que os indivíduos exist<strong>em</strong> para além da sociedade (...)”, pressupon<strong>do</strong> a separação entre os<br />

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