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As denomi<strong>na</strong>ções utilizadas pelo autor diz<strong>em</strong> respeito a sua percepção sobre<br />

essas raças, destacan<strong>do</strong> el<strong>em</strong>entos psicológicos que identifica como característicos de<br />

cada uma delas. Do índio destaca sua relação íntima com a <strong>na</strong>tureza, com a mãe terra, a<br />

qual supre as necessidades vitais e estava intimamente ligada ao imaginário <strong>do</strong> índio,<br />

<strong>em</strong> suas lendas e crenças. Seus Deuses eram el<strong>em</strong>entos <strong>do</strong> cotidiano, as florestas, os<br />

rios, os animais e os fenômenos <strong>na</strong>turais, como, por ex<strong>em</strong>plo, o Deus Tupã – divindade<br />

cria<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s trovões e <strong>do</strong>s relâmpagos. Talvez seja esta a associação que Avé-Lall<strong>em</strong>ant<br />

tenha feito para identificar o índio como hom<strong>em</strong>-<strong>do</strong>-ventre. 113 O negro, segun<strong>do</strong> relato<br />

de Saint-Hilaire (1974), era sentimental e infantil, generoso e afetivo, deixava<br />

transparecer suas <strong>do</strong>res interiores, saudades <strong>do</strong>s íntimos. Sentimentos relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s ao<br />

coração, daí a denomi<strong>na</strong>ção de hom<strong>em</strong>-<strong>do</strong>-peito. Freyre (1998) destaca esses<br />

sentimentos <strong>do</strong> peito característicos <strong>do</strong>s escravos africanos – escravas e mucamas que,<br />

com ternura, zelavam pelos filhos <strong>do</strong>s senhores. O europeu, o branco, inter<strong>na</strong>liza a<br />

racio<strong>na</strong>lidade econômica, além <strong>do</strong> poder <strong>do</strong> controle e <strong>do</strong> man<strong>do</strong>; está preocupa<strong>do</strong> com<br />

a acumulação de bens para conquistar “status” e garantir seu futuro. Saint-Hilaire (1974,<br />

p. 164), quan<strong>do</strong> compara as três raças, destaca no índio a sua imprevidência, no negro a<br />

sua não estranheza à concepção de futuro, deixan<strong>do</strong> subentender sua lógica de<br />

avaliação, pautada <strong>na</strong> noção de t<strong>em</strong>po e, conseqüent<strong>em</strong>ente, <strong>na</strong> preocupação com o<br />

futuro. É no próprio Saint-Hilaire, <strong>na</strong> sua racio<strong>na</strong>lidade econômica, que se identifica a<br />

última denomi<strong>na</strong>ção de Avé-Lall<strong>em</strong>ant, a qual atribui ao europeu o nome de hom<strong>em</strong>-dacabeça.<br />

114<br />

1.2.3 Aspectos característicos <strong>do</strong> gaúcho primitivo e da sua vida cotidia<strong>na</strong><br />

No processo de formação <strong>do</strong> gaúcho primitivo, uma série de el<strong>em</strong>entos<br />

contribuiu direta ou indiretamente para a constituição da estrutura psicológica.<br />

El<strong>em</strong>entos referentes à formação étnica, as características físicas da região, e as coisas<br />

que compunham seu dia-a-dia. El<strong>em</strong>entos que são aborda<strong>do</strong>s nesta seção, objetivan<strong>do</strong><br />

identificar aspectos característicos desse tipo social.<br />

Há várias descrições sobre o tipo físico e a aparência <strong>do</strong> habitante da Campanha<br />

rio-grandense, geralmente descrev<strong>em</strong>-no de tez clara, estatura acima da media<strong>na</strong> e<br />

robusto, passan<strong>do</strong> a imag<strong>em</strong> de hom<strong>em</strong> viril, enérgico e ativo, certamente a<br />

caracterização <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> europeu. 115 Vian<strong>na</strong> (1987, p. 175) refere-se ao gaúcho como<br />

um hom<strong>em</strong> que se destaca pela galhardia, elegância, “(...) não parece um trabalha<strong>do</strong>r<br />

grosseiro.”<br />

Sobre as mulheres, européias, não há tantas descrições, já que o pampa riograndense<br />

não era lugar para mulheres distintas. O gaúcho tinha, muitas vezes, uma<br />

vida solitária, sua família reduzia-se a ele e o seu cavalo, um <strong>do</strong>s motivos da estima <strong>do</strong><br />

gaúcho pelo animal. No perío<strong>do</strong> colonial, o contingente era pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nt<strong>em</strong>ente<br />

masculino, para formar uma família os portugueses e espanhóis recorriam às índias,<br />

como observa<strong>do</strong> pelos viajantes; 116 ou, conforme Fontoura (2000), uniam-se<br />

matrimonialmente com mozuelas que eram enviadas pelas autoridades <strong>do</strong> Rio de<br />

Janeiro.<br />

113 Em relação à cultura indíge<strong>na</strong> ver, Lazzarotto (1978) e Flores (2003).<br />

114 Entretanto, uma forma alter<strong>na</strong>tiva de análise, para fugir dessa construção com base <strong>na</strong> cor da pele,<br />

seria ressaltar os aportes culturais: mo<strong>do</strong> de ser, vestir, comer, produzir e falar, que se origi<strong>na</strong>m das<br />

culturas indíge<strong>na</strong>s, africa<strong>na</strong>s, potuguesas, espanholas; sincretismos culturais media<strong>do</strong>s pelos ecossist<strong>em</strong>as<br />

<strong>do</strong>s pampas e pelas relações de construção das fronteiras entre Portugal e Espanha.<br />

115 Ver Roche (1969).<br />

116 Tanto Saint-Hilaire (1974) como Avé-Lall<strong>em</strong>ant (1980) hospedaram-se <strong>em</strong> estâncias que o casal era<br />

forma<strong>do</strong> pelo mari<strong>do</strong> europeu e a esposa índia.<br />

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