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afro-brasileiro, ape<strong>na</strong>s el<strong>em</strong>entos formais de orig<strong>em</strong> africa<strong>na</strong>. Oliven reporta a Meyer<br />

para ex<strong>em</strong>plificar o tratamento desdenhoso que o negro recebe quanto a sua participação<br />

<strong>na</strong> formação da cultura gaúcha. Bernd e Bakos (1998, p. 81), <strong>em</strong> estu<strong>do</strong> sobre a<br />

contribuição <strong>do</strong> negro <strong>na</strong>s lendas <strong>do</strong> sul, destacam que “(...) a presença <strong>do</strong> negro está<br />

vinculada de forma tão definitiva às coisas <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul (...).” Para Lazzarotto<br />

(1978, p. 106-107) a influência <strong>do</strong> negro <strong>na</strong> cultura rio-grandense “(...) parece ser maior<br />

<strong>do</strong> que indicam alguns autores,” foram cento e cinqüenta anos de comunhão que só<br />

podia resultar <strong>em</strong> “(...) marcos profun<strong>do</strong>s <strong>na</strong> cultura de nossos pampas.”<br />

Duas etnias que carregam o estigma da inferioridade racial imposta pelo grupo<br />

racial heg<strong>em</strong>ônico, desti<strong>na</strong>das a servir (como mão-de-obra e objeto sexual). A<br />

miscige<strong>na</strong>ção das raças dava-se, <strong>na</strong> maioria das vezes, entre a branca e a indíge<strong>na</strong> e<br />

entre a branca e a negra, resultan<strong>do</strong> <strong>na</strong> preponderância numérica <strong>do</strong> mameluco e <strong>do</strong><br />

mulato. O cafuzo era pouco representativo, resulta<strong>do</strong> da repulsa <strong>do</strong> índio pela negra.<br />

Segun<strong>do</strong> Vian<strong>na</strong> (1987a, p. 68-69), os portugueses procuravam as senzalas para<br />

satisfazer suas necessidades sexuais, lá encontravam a índia lânguida e meiga, de<br />

formas aristocráticas e belas, e a negra ardente e amorosa, de capacidades de caseira<br />

excelente. 110 “Os mestiços são, pois, um produto histórico <strong>do</strong>s latifúndios,” o meio rural<br />

como “centro <strong>integra</strong>liza<strong>do</strong>r de três raças distintíssimas,” para o autor, aí reside a gênese<br />

e a formação da própria <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lidade. 111 O autor deixa transparecer, sutilmente, a<br />

forma rude como eram trata<strong>do</strong>s os escravos, servos a serviço <strong>do</strong> senhor. Vian<strong>na</strong> (1987,<br />

p. 170) destaca a diferença de tratamento dispensa<strong>do</strong> aos escravos no centro-sul, nos<br />

sertões <strong>do</strong> norte e no extr<strong>em</strong>o sul:<br />

Entre os pastores rio-grandenses há, por ex<strong>em</strong>plo, uma tradição, cuja gênese só é<br />

possível no pampa e que de mo<strong>do</strong> algum poderia surgir entre os grupos de base<br />

agrícola <strong>do</strong> centro-sul, ou entre os grupos de base pastoril <strong>do</strong>s sertões <strong>do</strong> norte. É<br />

essa tradição de igualdade e familiaridade entre patrões e servi<strong>do</strong>res, essa<br />

interpenetração das duas classes rurais – a alta e a baixa, a senhoril e a servil;<br />

fenômeno este que constitui, <strong>na</strong> sua substancialidade, o espírito da d<strong>em</strong>ocracia<br />

rio-grandense.<br />

Não se pode iludir pelos discursos de um Rio Grande igualitário (d<strong>em</strong>ocrático)<br />

como seguidamente retratam a relação senhor e escravo, provavelmente o grau de<br />

exploração e exigência sobre o trabalho escravo era menor <strong>do</strong> que no restante da<br />

colônia, principalmente <strong>na</strong>s estâncias. Saint-Hilaire constata essa diferença de<br />

tratamento, mas não se pode esquecer que se tinham, pelo menos, quatro diferentes<br />

situações <strong>em</strong> que a mão-de-obra escrava era explorada, nos serviços <strong>do</strong>mésticos, <strong>na</strong>s<br />

atividades agrícolas, <strong>na</strong>s estâncias de criação de ga<strong>do</strong> e <strong>na</strong>s charqueadas, esta última<br />

representava o maior contingente de trabalha<strong>do</strong>res escravos, estes, dada à lógica da<br />

exploração econômica, submeti<strong>do</strong>s a jor<strong>na</strong>das mais extensas e intensas,<br />

conseqüent<strong>em</strong>ente, maus tratos dignos <strong>do</strong> Brasil central.<br />

Recuperan<strong>do</strong> a questão <strong>do</strong> estigma racial, inferioridade <strong>do</strong> índio e <strong>do</strong> negro,<br />

observamos a percepção racista de Saint-Hilaire (1974, p. 164) <strong>na</strong> breve descrição que<br />

faz das características físicas e psíquicas (inter-relacio<strong>na</strong>das) desses <strong>do</strong>is grupos étnicos:<br />

Os índios são geralmente os homens mais frios e mais indiferentes que exist<strong>em</strong> no<br />

mun<strong>do</strong>. Sua imprevidência origi<strong>na</strong>-se <strong>do</strong> organismo menos delica<strong>do</strong> que o nosso e<br />

é provavelmente essa rudeza de órgãos que os tor<strong>na</strong> ao mesmo t<strong>em</strong>po insensíveis<br />

110 De acor<strong>do</strong> com Barcellos (1996, p. 137), as relações, historicamente, davam-se entre homens brancos e<br />

mulheres pretas escravas, modelo que continuou vigente após a abolição.<br />

111 Não vamos a<strong>na</strong>lisar o conteú<strong>do</strong> das colocações de Vian<strong>na</strong> (1987a). A miscige<strong>na</strong>ção étnica trouxe ao<br />

Brasil uma riqueza cultura impar, lastimável, no nosso entendimento, foi o mo<strong>do</strong> como se deu, e que, de<br />

certa forma, Vian<strong>na</strong> trata com certo ar de aprovação. Não se deve esquecer que Vian<strong>na</strong> escreveu<br />

“Populações Meridio<strong>na</strong>is <strong>do</strong> Brasil” <strong>na</strong>s primeiras décadas <strong>do</strong> século XX, havia nesse perío<strong>do</strong> um outro<br />

pensar, distinto <strong>do</strong> atual, o que nos leva a amenizar o senso crítico sobre suas opiniões.<br />

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