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também, pelos mesmos fatores da anterior, mas, <strong>em</strong> contrapartida, amplian<strong>do</strong> sua<br />

capacidade de reprodução. Dentre as duas sociedades, Rincão <strong>do</strong>s Marques, aos nossos<br />

olhos, traz consigo el<strong>em</strong>entos mais visíveis da cultura tradicio<strong>na</strong>l da Campanha riograndense<br />

que a <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia. Em ambos os casos, relações sociais mediadas,<br />

<strong>em</strong> parte, pelo diferencial de poderes. Nesse processo de diferenciação, não pod<strong>em</strong>os<br />

deixar de destacar a contribuição <strong>do</strong> meio físico e social, <strong>em</strong> que ambas as sociedades<br />

estão inseridas, como el<strong>em</strong>entos de estímulo à perpetuação ou transformação <strong>do</strong> mo<strong>do</strong><br />

de vida, referin<strong>do</strong>-nos aos campos de possibilidades que o con<strong>texto</strong> proporcio<strong>na</strong> para o<br />

desenvolvimento <strong>do</strong>s laços de sociabilidade tanto no interior da própria sociedade local<br />

como com a sociedade abrangente.<br />

A sociedade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Marques traz <strong>na</strong> sua mentalidade el<strong>em</strong>entos da<br />

sociedade pastoril, preservan<strong>do</strong> parte <strong>do</strong> modelo de criação extensiva e da cultura <strong>do</strong>s<br />

antepassa<strong>do</strong>s. Observamos traços no comportamento, <strong>na</strong> crença, no costume que<br />

identificam a sociedade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Marques com a <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>. Os mesmos estigmas<br />

ainda estão presentes no discurso da sociedade exter<strong>na</strong> como forma de justificar as<br />

dificuldades de desenvolvimento desta sociedade, os mesmos que estão inter<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>s<br />

<strong>na</strong> auto-imag<strong>em</strong> desta sociedade, funcio<strong>na</strong>n<strong>do</strong>, por força <strong>do</strong> diferencial de poder, como<br />

justificativa da própria incapacidade de desenvolver. Observamos palavras que, de certa<br />

forma, exter<strong>na</strong>m el<strong>em</strong>entos presentes <strong>na</strong> auto-imag<strong>em</strong> social das pessoas <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s<br />

Marques como, por ex<strong>em</strong>plo, acomodação, desânimo, desconfiança, desunião,<br />

irresponsabilidade, submissão, entre outras; palavras que expressam a visão<br />

heg<strong>em</strong>ônica <strong>do</strong> imaginário social gaúcho. Entretanto, <strong>em</strong> momentos quan<strong>do</strong> a sociedade<br />

<strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Marques foi acio<strong>na</strong>da por entidades exter<strong>na</strong>s (por ex<strong>em</strong>plo, agroindústria<br />

-tomate) respondeu, nos parece, de forma satisfatória, n<strong>em</strong> um pouco identificada com<br />

as palavras destacadas acima.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> trabalho d<strong>em</strong>onstram que os estigmas atribuí<strong>do</strong>s à sociedade <strong>do</strong><br />

Rincão <strong>do</strong>s Marques, como, por ex<strong>em</strong>plo, de acomoda<strong>do</strong>s, entre outros, são produtos <strong>do</strong><br />

processo histórico de formação da sociedade rio-grandense, construí<strong>do</strong>s <strong>na</strong> relação com<br />

a sociedade gaúcha abrangente. Como a sociedade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Marques não t<strong>em</strong><br />

el<strong>em</strong>entos que favoreçam a união inter<strong>na</strong> - coesão (como religiosidade ou alguma<br />

ameaça exter<strong>na</strong>), não consegue reagir com mecanismos de contra-estigmatização,<br />

resig<strong>na</strong>-se, de certa forma, à identidade construída <strong>na</strong> relação com a sociedade exter<strong>na</strong>,<br />

esta com maiores poderes.<br />

A expansão das redes de sociabilidade e solidariedade representaria maior<br />

possibilidade de desenvolvimento, contribuin<strong>do</strong>, <strong>em</strong> certa medida, para o di<strong>na</strong>mismo<br />

social e econômico da sociedade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Marques. No entanto, perceb<strong>em</strong>os que<br />

as relações de afetividade e os laços de amizade pouco favorec<strong>em</strong> a coesão social desta<br />

sociedade, destituin<strong>do</strong>-a de poder para enfrentar questões como o descaso <strong>do</strong> poder<br />

público e a estigmatização da sociedade exter<strong>na</strong>.<br />

A localidade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Marques dista, aproximadamente, 40 km da cidade<br />

de Canguçu, <strong>em</strong> região afastada e de baixa densidade populacio<strong>na</strong>l, limitan<strong>do</strong>, <strong>em</strong><br />

algum grau, os ca<strong>na</strong>is de sociabilidade com a sociedade exter<strong>na</strong>. A análise <strong>do</strong> con<strong>texto</strong><br />

das relações sociais <strong>em</strong> que a sociedade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Marques está assentada indica<br />

que a homogeneização da região (localidades vizinhas, por ex<strong>em</strong>plo, com a mesma<br />

estrutura fundiária, mesma forma de sociabilidade), tanto <strong>em</strong> aspectos ambientais como<br />

culturais e sociais, contribui pouco para o exercício da crítica e autocrítica das pessoas<br />

(comparação com sociedades distintas), possibilitan<strong>do</strong> visualizar outros modelos de<br />

sociedade, reduzin<strong>do</strong>, neste senti<strong>do</strong>, as possibilidades de conquista de melhores<br />

condições de vida. Este parágrafo e os <strong>do</strong>is anteriores nos ajudam, <strong>em</strong> certa medida, a<br />

entender e apoiar a segunda e a terceira hipótese que construímos sobre a sociedade <strong>do</strong><br />

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