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ou trabalhavam no corte <strong>do</strong> arroz <strong>na</strong>s granjas <strong>do</strong> extr<strong>em</strong>o sul <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul.<br />

Esses contatos eram rápi<strong>do</strong>s e superficiais e, por ser<strong>em</strong> distintas ao con<strong>texto</strong> de<br />

pequenos agricultores, não representavam algum modelo que pudesse ser aplica<strong>do</strong> no<br />

Rincão <strong>do</strong>s Maia. 476 Com os anos, principalmente década de 1970, Pelotas desenvolveu<br />

o pólo industrial de <strong>do</strong>ces e conservas, incentivan<strong>do</strong> regiões de pequenos produtores a<br />

cultivar o pessegueiro. Algumas dessas regiões localizavam-se <strong>na</strong> divisa com o<br />

município de Canguçu, próximas a Rincão <strong>do</strong>s Maia. As famílias <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia<br />

tinham como uma das formas de garantir a sobrevivência o trabalho externo à<br />

propriedade. Com o desenvolvimento <strong>do</strong>s pomares de pêssego <strong>na</strong> vizinhança, muitas<br />

pessoas foram trabalhar de <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s nesses pomares ou <strong>na</strong> indústria de <strong>do</strong>ces e<br />

conservas. Nesse momento começaram a ter contato com uma realidade parecida com a<br />

deles, mas de diferente di<strong>na</strong>mismo – o modelo que poderia servir de inspiração. Com os<br />

anos, os trabalha<strong>do</strong>res rurais foram adquirin<strong>do</strong> conhecimento sobre as técnicas de<br />

cultivo <strong>do</strong> pessegueiro e equipan<strong>do</strong> as propriedades para, posteriormente, iniciar<strong>em</strong> o<br />

cultivo <strong>do</strong> fruto, como l<strong>em</strong>bra o senhor Nuno, aposenta<strong>do</strong> e agricultor: “De primeiro nós<br />

só trabalhava, despois nós só vendia o pêssego.” Conforme relata<strong>do</strong> no decorrer deste<br />

capítulo, os agricultores iniciaram aos poucos no cultivo <strong>do</strong> pessegueiro, inicialmente<br />

<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s <strong>na</strong>s chácaras de pêssego ou <strong>na</strong> indústria de <strong>do</strong>ces e conservas,<br />

posteriormente como fornece<strong>do</strong>res de matéria-prima. Nesse processo, a percepção e<br />

construção de novas redes sociais capacitou parte da sociedade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia de<br />

forma a transformar sua dinâmica de vida.<br />

O trabalho tanto <strong>na</strong> indústria como <strong>na</strong>s propriedades rurais contribuiu para a<br />

aproximação com outras formas de vida, desenvolven<strong>do</strong> a autocrítica e estimulan<strong>do</strong> o<br />

processo de transformação. Acompanhan<strong>do</strong> de perto o argumento de Elias (1994,1999),<br />

pod<strong>em</strong>os refletir sobre o processo de desenvolvimento da sociedade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s<br />

Maia. Inicialmente observa-se que esta sociedade consiste de pessoas e <strong>do</strong>s seus<br />

antepassa<strong>do</strong>s (heranças genéticas e culturais), 477 refletin<strong>do</strong> sobre seres humanos<br />

interdependentes, uni<strong>do</strong>s uns aos outros das mais diversas maneiras <strong>em</strong> complexas redes<br />

de hierarquia e diferenciação de poderes. Essas relações entre pessoas são importantes<br />

para a composição <strong>do</strong> indivíduo, desenvolven<strong>do</strong> um tipo específico de sagacidade e<br />

controle de instintos. Grosso mo<strong>do</strong>, desenvolve uma característica própria para lidar<br />

com a realidade, característica que está <strong>em</strong> constante processo de formação, moldan<strong>do</strong>se<br />

a cada nova informação. Nesse senti<strong>do</strong>, a perso<strong>na</strong>lidade <strong>do</strong> indivíduo depende, <strong>em</strong><br />

boa parte, da <strong>na</strong>tureza das relações entre ele e as outras pessoas. Na visão de Elias<br />

(1994, p. 28), o destino <strong>do</strong> indivíduo, “(...) como quer que venha a se revelar <strong>em</strong> seus<br />

pormenores, é, grosso mo<strong>do</strong>, específico de cada sociedade.” Retoman<strong>do</strong> o caso <strong>em</strong><br />

estu<strong>do</strong>, as relações provenientes da aproximação das pessoas <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia com<br />

as de outras localidades contribuíram para a formação de noções antes inexistentes ou<br />

<strong>na</strong> confirmação das anteriores. 478 O contato com outros grupos sociais estimula a<br />

476 Elias e Scotson (2000), numa configuração de estabeleci<strong>do</strong>s e “outsiders”, refer<strong>em</strong>-se à relação quase<br />

que estritamente comercial. O contato entre indivíduos de grupos superiores e inferiores não podia ir além<br />

de uma relação comercial ou de trabalho, a aproximação por afetividade estava sujeita a sanções por parte<br />

<strong>do</strong> grupo estabeleci<strong>do</strong>. No nosso entendimento, o contato (senti<strong>do</strong> reflexivo) contém uma reação mútua<br />

de identificação e diferenciação (ação de identidade e ação de diferença) e de reconhecimento <strong>do</strong>s<br />

diferenciais de poderes presentes no contato.<br />

477 Elias (1994, p. 27-28) destaca que a constituição que indivíduo “(...) traz consigo ao mun<strong>do</strong>, e<br />

particularmente a constituição de suas funções psíquicas, é maleável. (...) dá marg<strong>em</strong> a uma grande<br />

profusão de individualidades possíveis.”<br />

478 Elias (1994, p. 29) denomi<strong>na</strong> esse processo de imag<strong>em</strong> reticular. Conforme sua explicação, esse<br />

processo dá-se pelo “(...) fato de as pessoas mudar<strong>em</strong> <strong>em</strong> relação umas às outras e através de sua relação<br />

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