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Company” para explorar e lucrar com a extração <strong>do</strong> couro. Cabe salientar que, <strong>na</strong>quele<br />
perío<strong>do</strong>, a carne não tinha valor comercial <strong>na</strong> região, era ape<strong>na</strong>s utilizada <strong>na</strong><br />
alimentação da população e o excedente era descarta<strong>do</strong>. Entretanto, no fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> século<br />
XVII, o ciclo açucareiro entrou <strong>em</strong> decadência, e o ciclo <strong>do</strong> ouro iniciava-se <strong>na</strong> região<br />
das Gerais, região que concentrava contingente populacio<strong>na</strong>l e poder <strong>aqui</strong>sitivo, crian<strong>do</strong><br />
merca<strong>do</strong> interno para o ga<strong>do</strong>. Pesavento (1994) l<strong>em</strong>bra que, nesse perío<strong>do</strong>, começaram a<br />
descer paulistas 69 e lagunistas para arrebanhar o ga<strong>do</strong> e levá-lo até as regiões<br />
minera<strong>do</strong>ras, crian<strong>do</strong> as vias de ligação <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul com o restante <strong>do</strong><br />
Brasil. 70 O tropeiro não levava somente o ga<strong>do</strong> para corte, mas também buscava, <strong>em</strong><br />
território argentino, as mulas que abasteciam as mi<strong>na</strong>s de Potosi. Mi<strong>na</strong>s de prata que, no<br />
momento que se iniciava o ciclo <strong>do</strong> ouro <strong>na</strong>s Gerais, começaram a reduzir a produção,<br />
orientan<strong>do</strong> a criação de muares para as mi<strong>na</strong>s das Gerais. Para Furta<strong>do</strong> (1969, p. 83), a<br />
principal fonte de renda <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul era a comercialização de mulas: “Cada<br />
ano subiam <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul deze<strong>na</strong>s de milhares de mulas, as quais constituíam a<br />
principal fonte de renda da região”; o ga<strong>do</strong> figurava como secundário <strong>na</strong> geração de<br />
renda, talvez pela concorrência com o da região açucareira. Efeitos indiretos da<br />
economia mineira, permitin<strong>do</strong> articular diferentes regiões <strong>do</strong> Brasil e proporcio<strong>na</strong>n<strong>do</strong><br />
transformações <strong>na</strong>s economias regio<strong>na</strong>is como, por ex<strong>em</strong>plo, relata Furta<strong>do</strong> (1969, p.<br />
82):<br />
A pecuária, que encontrara no sul um habitat excepcio<strong>na</strong>lmente favorável para<br />
desenvolver-se – e que, não obstante sua baixíssima rentabilidade, subsistia<br />
graças às exportações de couro – passará por uma verdadeira revolução com o<br />
advento da economia mineira.<br />
Dois anos após a fundação da Colônia de Sacramento, os jesuítas retor<strong>na</strong>m ao<br />
Rio Grande <strong>do</strong> Sul (1682) e constitu<strong>em</strong> os Sete Povos das Missões (São Borja, São<br />
Nicolau, São Miguel, São Luis Gonzaga, São Lourenço, São João Batista e Santo<br />
Ângelo). Pesavento (1994, p. 11) relata que, ao retor<strong>na</strong>r<strong>em</strong>, os jesuítas começam a<br />
capturar o ga<strong>do</strong> para estabelecer<strong>em</strong>, próximo às reduções, estâncias 71 de criação de<br />
ga<strong>do</strong>. Da<strong>do</strong> o caráter predatório da atividade de captura de bovinos xucros, os jesuítas<br />
levaram parte <strong>do</strong> rebanho para a região noroeste <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul, crian<strong>do</strong> nova<br />
reserva de ga<strong>do</strong> – Vacaria <strong>do</strong>s Pinhais ou Campos de Vacaria. A atividade econômica<br />
<strong>do</strong>s jesuítas era baseada <strong>na</strong> exportação <strong>do</strong> couro para Buenos Aires e <strong>na</strong> produção de<br />
erva-mate, também trabalhavam com artesa<strong>na</strong>tos, tecelagens, metalurgia e trabalhos de<br />
fiação, arquitetura, escultura e outros, além da agricultura de subsistência.<br />
Com a adaptação <strong>do</strong>s índios ao regime imposto pelos jesuítas e o conseqüente<br />
desenvolvimento econômico, a Companhia de Jesus começou a expandir <strong>em</strong> direção ao<br />
sul disputan<strong>do</strong> o ga<strong>do</strong>, as terras e o comércio. Pesavento (1994) aponta que, no decorrer<br />
<strong>do</strong> século XVIII, os jesuítas constituíram ameaça aos portugueses e espanhóis, tanto que<br />
a região <strong>do</strong>s Sete Povos foi questão importante <strong>na</strong>s disposições <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> de Madrid<br />
(1750), resultan<strong>do</strong> <strong>na</strong> expulsão e confisco das propriedades, <strong>na</strong> América, <strong>em</strong> 1768,<br />
anteriormente expulsos de Portugal (1759) e Espanha (1767). 72<br />
69<br />
Segun<strong>do</strong> Roche (1969), os bandeirantes, a partir <strong>do</strong> século XVII, desceram várias vezes ao Rio Grande<br />
<strong>do</strong> Sul à procura de ouro, escravo e ga<strong>do</strong>.<br />
70<br />
Pesavento (1994) destaca as duas principais vias abertas pelos tropeiros foram a estrada <strong>do</strong> litoral<br />
(1703) e a estrada da serra (1727). Vian<strong>na</strong> (1987, p. 21) salienta que, com a abertura das estradas, fruto<br />
das incursões <strong>do</strong> clã de Magalhães, abre-se para o Rio Grande <strong>do</strong> Sul <strong>do</strong>is ciclos históricos – o pequeno<br />
ciclo da preia ao ga<strong>do</strong> e o grande ciclo da colonização.<br />
71<br />
Segun<strong>do</strong> Décio Freitas (1980, p. 33), a orig<strong>em</strong> da palavra estância (no Rio Grande <strong>do</strong> Sul utiliza-se<br />
como sinônimo de fazenda de criação de ga<strong>do</strong>) proveio <strong>do</strong> arcaico estanciar, estançar, lugar onde se<br />
parava ou permanecia por algum t<strong>em</strong>po.<br />
72<br />
Sobre o Trata<strong>do</strong> de 1750, ver Fortes (1999).<br />
28