06.05.2013 Views

Faça aqui o download do texto na integra em pdf.

Faça aqui o download do texto na integra em pdf.

Faça aqui o download do texto na integra em pdf.

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Afixar o rótulo de valor humano inferior a outro grupo é uma das armas usadas<br />

pelos grupos superiores <strong>na</strong>s disputas de poder, como meio de manter sua<br />

superioridade social. Nessa situação, o estigma social imposto pelo grupo mais<br />

poderoso ao menos poderoso costuma penetrar <strong>na</strong> auto-imag<strong>em</strong> deste último e,<br />

com isso, enfraquecê-lo e desarmá-lo.<br />

Nesse jogo pelo poder, o estigma é uma das formas usadas para enfraquecer o<br />

adversário, conforme os autores, há uma gama de termos usa<strong>do</strong>s para estigmatizar<br />

grupos que estão presentes no con<strong>texto</strong> de relações entre estabeleci<strong>do</strong>s e outsiders. 136 Os<br />

autores destacam alguns ex<strong>em</strong>plos como crioulo, gringo, carcamano, sapatão e papahóstia,<br />

usa<strong>do</strong>s, respectivamente, com referência aos negros, judeus, italianos, lésbicas e<br />

católicos. No Rio Grande <strong>do</strong> Sul também se t<strong>em</strong> ex<strong>em</strong>plos de termos usa<strong>do</strong>s para<br />

estigmatizar, talvez o mais conheci<strong>do</strong> é o pêlo-duro utiliza<strong>do</strong> para identificar os<br />

descendentes de portugueses que viv<strong>em</strong> <strong>na</strong> Metade Sul. Costa (1988, p. 69) transcreve<br />

passag<strong>em</strong> onde aparece a segregação racial, revelan<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> o autor, “(...) a<br />

ideologia de que o colono europeu, agricultor comerciante ou industrial, é<br />

<strong>em</strong>preende<strong>do</strong>r, progressista, e o pecuarista, de orig<strong>em</strong> lusa, é retrógra<strong>do</strong> e<br />

conserva<strong>do</strong>r”:<br />

(...) a Colônia Nova Esperança é composta por aproximadamente 700 pessoas e a<br />

maioria t<strong>em</strong> colabora<strong>do</strong>, com exceção, infelizmente, de alguns pelos duros que<br />

boicotam o fecun<strong>do</strong> trabalho da cooperativa, tentan<strong>do</strong> mais complicar <strong>do</strong> que<br />

mesmo trabalhar. 137<br />

Neste pequeno ex<strong>em</strong>plo percebe-se, <strong>em</strong> primeiro plano, a distinção implícita<br />

entre descendentes de portugueses (pêlo-duro) e os de ascendência al<strong>em</strong>ã ou italia<strong>na</strong>; de<br />

alguma forma, um discurso segregacionista. Também está subentendida a distinção<br />

entre complica<strong>do</strong>r (vagabun<strong>do</strong>) e trabalha<strong>do</strong>r, para explicar o atraso de uns (lusobrasileiros)<br />

frente aos d<strong>em</strong>ais (europeus). Esse processo de inferiorização resulta <strong>em</strong><br />

conseqüências psicológicas danosas ao desenvolvimento humano, as pessoas vítimas<br />

desse processo incorporam os estigmas, cria<strong>do</strong>s pelo imaginário heg<strong>em</strong>ônico, e<br />

submeten<strong>do</strong>-se a situação de inferioridade. Para reverter essa situação, uma das<br />

alter<strong>na</strong>tivas, segun<strong>do</strong> Elias e Scotson (1980), seria a contra-estigmatização <strong>do</strong>s antigos<br />

“outsiders”, ressuscitar o orgulho, elevar a auto-estima, como se vê no movimento<br />

negro no Brasil e <strong>na</strong> África que estão <strong>em</strong> busca de sua negritude e de seu próprio sonho.<br />

Retomamos a discussão sobre o gaúcho rio-grandense. Para não fazermos como<br />

alguns estudiosos, insistir nos defeitos; comentar<strong>em</strong>os as qualidades. Report<strong>em</strong>o-nos a<br />

Vian<strong>na</strong> (1987a, p. 50-54), <strong>na</strong> análise sobre as qualidades <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> rural. O caipira, o<br />

matuto, o tabaréu, e outras denomi<strong>na</strong>ções, são conheci<strong>do</strong>s pelas suas qualidades,<br />

qualidades, segun<strong>do</strong> o autor, comuns ao hom<strong>em</strong> rural brasileiro. Dentre elas, Vian<strong>na</strong><br />

(1987a) destaca quatro: a fidelidade à palavra dada, a probidade, a respeitabilidade e a<br />

independência moral.<br />

Sobre a fidelidade à palavra dada, Vian<strong>na</strong> (1987a) reporta-se à aristocracia rural,<br />

a qual o fazendeiro, no sul o estancieiro, d<strong>em</strong>onstra esse sentimento de fidelidade aos<br />

seus compromissos, esse se sentiria desonra<strong>do</strong> no dia <strong>em</strong> que, s<strong>em</strong> justa causa, faltasse<br />

com sua palavra. O cumprimento da palavra é observa<strong>do</strong> rigorosamente pela<br />

aristocracia, uma falta representa descrédito perante a sociedade. Vian<strong>na</strong> (1987a, p. 51)<br />

l<strong>em</strong>bra que “(...) o sentimento de responsabilidade moral <strong>na</strong>sce <strong>do</strong> sentimento da<br />

similitude social. Os homens só se sent<strong>em</strong> realmente responsáveis entre si quan<strong>do</strong> se<br />

reconhec<strong>em</strong> mutuamente como compatriotas sociais.” 138 Vian<strong>na</strong> destaca que este<br />

136 Sobre a relação entre estabeleci<strong>do</strong>s e “outsiders”, ver Elias e Scotson (2000).<br />

137 Costa (1988) retira tal citação <strong>do</strong> <strong>texto</strong> “A CAMAL e a colonização” de autoria de Vieira, L. s<strong>em</strong> data<br />

e citação da fonte, cedi<strong>do</strong> a Costa pela Cooperativa Mista Aceguá Ltda. (CAMAL) – Bagé/RS.<br />

138 Para a expressão compatriotas sociais, Vian<strong>na</strong> inspira-se <strong>em</strong> Tarde (Philosophie Pe<strong>na</strong>le).<br />

62

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!