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Os agricultores <strong>do</strong> município de Canguçu enfrentam dificuldades <strong>na</strong> exploração<br />

da terra, dificuldades apresentadas pelas características topográficas da Serra <strong>do</strong><br />

Sudeste, pela qualidade <strong>do</strong> solo, pelo nível de mecanização, pelo nível técnico, grau de<br />

escolaridade e outros fatores relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s à produção agrícola. Além <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> relevo<br />

acidenta<strong>do</strong>, o solo <strong>do</strong> município apresenta restrições à agricultura pelos índices de<br />

acidez (pH entre 5,1 e 5,8), e pelos baixos teores de Fósforo, Potássio e Nitrogênio. 251<br />

De acor<strong>do</strong> com o Censo Agropecuário (1995-1996), há uso restrito de tratores no<br />

município, para cada dez estabelecimentos só um dispõe desse equipamento, no Esta<strong>do</strong><br />

essa relação está próxima de quatro tratores num universo de dez estabelecimentos. Essa<br />

diferença <strong>na</strong> relação número de tratores por estabelecimento t<strong>em</strong> correspondência com<br />

as condições i<strong>na</strong>propriadas da topografia para a utilização da mecanização <strong>na</strong> atividade<br />

agrícola, com a baixa capacidade de capitalização que os agricultores enfrentam,<br />

impossibilitan<strong>do</strong> a <strong>aqui</strong>sição de equipamentos que proporcio<strong>na</strong>riam maior produtividade<br />

da mão-de-obra, e com os sist<strong>em</strong>as de produção (culturas permanentes, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

pêssego, requer menor <strong>em</strong>prego de tratores, b<strong>em</strong> como a própria pecuária com suas<br />

pastagens <strong>na</strong>turais).<br />

Outro limita<strong>do</strong>r à condição de vida e de trabalho no meio rural diz respeito à<br />

eletrificação rural. No Esta<strong>do</strong> cerca de 72% <strong>do</strong>s estabelecimentos rurais receb<strong>em</strong><br />

energia elétrica, <strong>em</strong> Canguçu esse valor percentual não alcança a metade <strong>do</strong>s<br />

estabelecimentos rurais (49%), muitas vezes fornecida de forma precária – monofásica.<br />

A falta <strong>do</strong> fornecimento de energia elétrica resulta <strong>em</strong> restrições que dificultam a vida<br />

das famílias, contribuin<strong>do</strong> para o baixo nível de qualidade de vida. Com a energia<br />

elétrica os trabalhos relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s com a produção poderiam ser menos penosos e<br />

d<strong>em</strong>ora<strong>do</strong>s, possibilitan<strong>do</strong> ao agricultor realizar outras atividades e tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong>-as mais<br />

agradáveis, além de proporcio<strong>na</strong>r melhor qualidade de vida. Entretanto, encontramos<br />

agricultores que comparam os benefícios da energia elétrica com os custos da mesma,<br />

custos mensais que dev<strong>em</strong> ser honra<strong>do</strong>s com receitas sazo<strong>na</strong>is (de safras). Os<br />

agricultores têm que articular suas estratégias de reprodução <strong>em</strong> distintas dimensões<br />

t<strong>em</strong>porais, grosso mo<strong>do</strong>, a lógica de reprodução das famílias de agricultores é orientada<br />

segun<strong>do</strong> dinâmica t<strong>em</strong>poral da <strong>na</strong>tureza – ciclo da vida: t<strong>em</strong>po de preparar a terra,<br />

t<strong>em</strong>po de plantar, t<strong>em</strong>po de cuidar, realizar alguns tratos culturais e de espera, e t<strong>em</strong>po<br />

de colher – germi<strong>na</strong>ção (gestação), <strong>na</strong>scimento, vida e morte. Noção de t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que a<br />

espera, a paciência, o momento propício para cada ação <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> <strong>na</strong> inter-relação com<br />

a <strong>na</strong>tureza é, de certa forma, determi<strong>na</strong><strong>do</strong> pela própria <strong>na</strong>tureza. A dimensão de t<strong>em</strong>po<br />

orde<strong>na</strong>da pelo ser humano – dia e noite, s<strong>em</strong>a<strong>na</strong>, mês, estações climáticas e ano – de<br />

certa forma também está condicio<strong>na</strong>da à lógica da <strong>na</strong>tureza, mas os ciclos menores<br />

(s<strong>em</strong>a<strong>na</strong>s, meses) escapam desta. Essas incompatibilidades entre as duas dimensões<br />

estimulam os agricultores a l<strong>em</strong>brar<strong>em</strong>, sau<strong>do</strong>sos, <strong>do</strong>s t<strong>em</strong>pos <strong>em</strong> que certos confortos e<br />

compromissos ainda não tinham chego ao rural, como no depoimento <strong>do</strong> senhor Daniel,<br />

<strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia:<br />

Hoje o pessoal t<strong>em</strong> muita facilidade, mas o custo é muito alto. Hoje t<strong>em</strong> luz para<br />

pagar no fim <strong>do</strong> mês, t<strong>em</strong> o gás, a casa era simples, passava uma faxi<strong>na</strong> e tu<strong>do</strong><br />

estava pronto, não tinha telefone, não tinha carro, não tinha combustível, não<br />

tinha tanta despesa. Então facilitava muito. Hoje não! Hoje o pessoal t<strong>em</strong> muito<br />

gasto. Qu<strong>em</strong> não t<strong>em</strong> seu fogão a gás, sua televisão, sua geladeira, telefone? Hoje<br />

t<strong>em</strong> custo que mensalmente é obriga<strong>do</strong> a ter. (...) Hoje o pessoal t<strong>em</strong> melhor<br />

qualidade de vida, mas hoje o pessoal não pode perder muito t<strong>em</strong>po. Ele está<br />

muito preocupa<strong>do</strong> <strong>em</strong> economizar, porque senão falta para cumprir os<br />

compromisso. Naquele t<strong>em</strong>po o pessoal não tinha tanto compromisso como hoje,<br />

251 Informações da análise de 1.000 amostras de solos realizada <strong>em</strong> 1992 pela Emater (PRODER, 1999).<br />

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