103Hoje, assistimos à chamada terceirização, a vendas e compras deempresas umas pelas outras, à ―deslocalização‖ (empresas que mudam seulugar de produção para outros países, em geral de mão-de-obra maisbarata), ao nascimento e à morte precoce de muitos pequenos negócios, auma ―valsa‖ de trabalhadores que mudam de emprego conforme a músicado mercado, às escolhas das profissões que seguem a mesma música, etc.(p. 57).Ou seja, permanece o sentimento de imprevisibilidade do ―enxame‖. Por isso,o trabalhador não pode ser mais aquele que somente executa e que recebe ordens.O trabalhador precisa ter iniciativa, aprender permanentemente, se adaptar emdiversas situações e locais de trabalho. Também precisa aceitar mudanças deconvívio constante, porque ―nada garante que o companheiro de voo de agora seja omesmo do instante posterior nem que o rumo da viagem permaneça o mesmo‖ (p.57). Da mesma forma que pode estar em um setor, está sujeito à mudança segundoà necessidade e interesse da empresa.Logo, as pessoas que não se comunicam e que não estão em constantecontato com o outro, que não respondem a mensagens, que não ligamconstantemente ou que não estejam conectadas correm o risco de serem excluídas.Do mesmo modo, o trabalhador que não estiver preparado para se ―conectar‖ e―desconectar‖, diz La Taille (2009), corre o risco de ser excluído do ―enxame‖.O autor igualmente reflete sobre as fragilidades das relações matrimoniaisque não vamos aqui explicitar, mas as relações de amizade merecem também umamaior atenção. Citando uma abordagem da psicóloga Rosely Sayão, La Taille falada confusão que as pessoas têm feito entre ter amigos e colegas.Esse tema para nós já há muito é visto dessa forma. Entendemos que oscritérios para eleição de amigos devem perpassar as relações superficiais de umtorpedo aqui, outro acolá, de uma troca de duas ou três linhas no MSN, de umconvite para uma reunião social e assim por diante. É evidente que encontraremosmuitas definições sobre amizade, mas, entendemos, assim como La Taille, queessas pessoas para assim serem chamadas de amigas, devem ser criteriosamenteescolhidas para podermos ter um convívio intenso (p. 64).É interessante observar, principalmente entre os adolescentes, como essaconfusão está bem presente. Muitas vezes trocam uma palavra e outra e jáconsideram o outro como amigo. Em algumas situações que ocorrem, por exemplo,algum boato, desentendimento entre os mesmos e ouve-se deles: ―mas a fulana eraminha amiga, como pode agir assim‖. Se perguntarmos desde quando se conhecem,
104respondem que se conheceram ontem aqui na escola. Falei com ela a semanapassada e assim por diante.Mas, não é privilégio somente de adolescentes e de jovens esses conceitosdistorcidos. Frequentemente ouvimos também dos adultos a generalização doconceito de amigo para aqueles que são somente conhecidos e colegas. E, porquenão dizer que muitas vezes sentem-se frustrados e até sofrem com a atitude deisolamento do (a) suposto (a) amigo (a), ou porque não há um maior envolvimentodaquela pessoa com sua vida, com sua pessoa.Todas as questões aqui trazidas apresentam uma leitura sobre variadosaspectos da chamada pós-modernidade, que se relacionam com o plano ético.Essas questões se relacionam ao plano ético, porque nos levam a responder asperguntas: ―que vida quero viver‖? E, de acordo com La Taille, implica outra, ―paraque viver‖? Uma vida boa com sentido.Como veremos a seguir, quando tratamos sobre as dimensões intelectuais eafetivas da moral e da ética a partir da teoria de La Taille, o psicólogo nos explicaque há duas condições para se viver uma vida feliz ―é se sentir evoluir no ―fluxo dotempo‖ e atribuir sentido à existência‖. De acordo com o exposto, essas questões secolocam mais como um desafio do que como uma realidade.Após relacionarmos algumas características da sociedade atual, podemosnos perguntar se encontramos essas condições contempladas nas nossas formasde viver ou conforme nos questiona La Taille, os ―turistas‖ estarão felizes?Responde-nos o autor que acredita que não, que os turistas não estão felizes, casocontrário, o tema da felicidade não seria tão recorrente como vem sendo nos últimostempos. ―Se, hoje, o referido tema volta a ser objeto de reflexão, é provavelmenteporque as pessoas se sentem infelizes, porque suas vidas perderam ou nuncativeram rumo, porque estão insatisfeitas com suas existências [...]‖ (p. 66-67).De acordo com o autor, há dois indícios que nos mostram a insatisfação naforma de levarmos a vida, que são ―a depressão e a alta freqüência de suicídios‖. (p.67). Apresenta-nos dados da Organização Mundial da Saúde que expõem umnúmero de 121 milhões de pessoas que sofrem de depressão, além de estudos deChristian Baudelot e Roger Establet, datados de 2006, onde constatam que, noconjunto do planeta, o suicídio mata 100 pessoas por hora e que, de 1975 até hoje,
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