137―Eu trabalho na EJA há dez anos com alfabetização de jovens e adultos e a cada diatenho um novo desafio. Conhecer o aluno, estabelecer uma relação de confiança, tersensibilidade, compreender e considerar a sua história são elementos fundamentaisna EJA. Acredito que essa interação contribui efetivamente para as relações e,consequentemente, para aprendizagem.É comum ouvir dos alunos depoimentos onde relatam marcas de um processo deexclusão, de não pertencimento, de negação, preconceito, falta de acesso ouoportunidades, ou seja, de imagens quebradas. E tudo isso reflete no dia a dia da salade aula. Observa-se medo, timidez, sentimento de inferioridade, promovido pelaprópria família, pela mídia e sociedade em geral. Essas situações tem impactonegativo, pois muitas vezes é possível observar o sentimento de incapacidade pararealizar atividades do contexto diário da alfabetização como, por exemplo,argumentação, construção palavras, frases, textos ou qualquer forma de manifestaçãooral.Outro desafio é a própria diversidade, característica própria dessa modalidade ensino.Faz parte deste universo jovens e adultos com objetivos e situações bem distintas.Muitos alunos com laudos de transtorno mental, com deficiência, em regimesemiaberto, frequentando os abrigos municipais e trabalhadores em geral. É umarealidade que demanda toda uma rede de apoio e de recursos humanos que muitasvezes é disponibilizada de forma precária.Especificamente quanto aos jovens que chegam na EJA oriundos da escola regular,são marcados pelo fracasso escolar com raízes muito profundas.Penso que para esses jovens seria salutar o ensino profissionalizante paralelo à EJAcomo uma alternativa, possibilitando o acesso e a realização pessoal.Mas o quê fazer diante desta realidade?Esse questionamento é constante na minha prática diária. São indagações que dãosentido a minha ação.É necessário investir neste aluno, acreditar, considerar suas vivências, fazer odiagnóstico e ter isso como ponto de partida. Trabalhar a conscientização de todo oprocesso em que estão inseridos. Potencializar suas habilidades e talentosaproveitando suas trajetórias como referência.Portanto, o meu objetivo é ir muito além da alfabetização. É educação como umprocesso mais amplo.A educação de jovens e adultos desacomoda e te leva a fazer uma análise maisprofunda dos problemas sociais.É uma grande oportunidade conviver e estar próximo dessa parcela específica dasociedade, e aprender lapidando a minha prática diária.Eu sinto um profundo respeito por esses sujeitos, sobretudo, pela luta, pela ousadia,pelas conquistas, pelo desejo de ser e fazer melhor, mesmo diante das adversidades.A minha realização é quando observo o crescimento dos alunos, autonomia para leruma notícia do jornal, interagindo, argumentando, modificando o seu meio, a suacomunidade, o ambiente escolar. Contribuindo com seu olhar, escrevendo um bilhete,uma carta, enfim, comunicando-se. Pois, acredito que esse é realmente o processo deemancipação”. (Professora A).Nessa primeira narrativa temos uma visão de quem são os alunos da EJA e osdesafios que a constituem. A professora fala de suas constantes indagações, tendopresente o sentimento moral ―como devo agir? Quando diz: ―Mas o que fazer diantedessa realidade?‖. Fala-nos do respeito necessário a essa prática, das constantesbuscas, da desacomodação necessária, do sentimento de não pertencimento e
138inferioridade que os alunos trazem consigo e de sua realização como professora,diante do crescimento e autonomia que cada aluno consegue desenvolver.Conforme Freire:O que importa, na formação docente, não é a repetição mecânica do gesto,este ou aquele, mas a compreensão do valor dos sentimentos, dasemoções, do desejo, da insegurança a ser superada pela segurança, domedo que, ao ser ―educado‖ vai gerando coragem. (1996, p. 45).Importante também destacar a preocupação das dimensões do ―ser mais‖enfatizado nessa narrativa. Sente respeito pelas lutas, conquistas e ousadia doaluno que, mesmo diante de tantas adversidades, tem o desejo de ―ser e fazermelhor‖, ou seja, os alunos querem mudar a situação em que se encontram, têmprojetos de vida e perspectivas futuras.São sujeitos que buscam a ―expansão de si‖, conforme nos coloca La Taille,sendo essa uma condição para a felicidade. Essa busca, tendência de elevar-sedepende de uma avaliação subjetiva. Os ideais a serem alcançados podem ser umaeleição pessoal como também podem ocorrer por influências sociais. ―Mas, impostosou não, eles são concebidos como metas pessoais e a magnitude das excelências aserem alcançadas variam, e muito, de pessoa para pessoa‖ (2006. p.47). É o casode muitos dos nossos alunos que chegam até a EJA por imposição (porque aempresa, local de trabalho exige), porém, no momento que vão descobrindo que sãocapazes e que podem aprender, essa meta se torna pessoal.Já tivemos a oportunidade de ouvir muitos depoimentos a esse respeito. Numcaso especial de uma aluna que voltou a estudar e depois de um pequeno tempo seaposentou. Ela mesma com muito orgulho veio relatar que continuaria estudando eque estava se sentindo muito bem estudando.Também, a fala da professora, assim como a manifestação que sempre temosouvido dos alunos, confirma a teoria de La Taille que afirma que, a ―vida boa‖ étambém alçada da subjetividade, do ―sentir‖ (2006, p. 37). Depois da superação dafase de não pertencimento, de pessoas incapazes, sentem-se felizes e realizadospor estarem descobrindo seus potenciais e capacidade de ―SER MAIS‖ que Freirenos ensina.Os alunos adultos, apesar de toda a exclusão porque já passaram anecessidade de trabalhar e cuidar da família, seja economicamente,
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