71perfil dos alunos no que diz respeito às suas histórias, cultura, e costumes. Cadasujeito vem com experiências de vida bem distintas.Alguns adultos foram afastados da escola, outros nunca tiveram acesso aosestudos e, esse fato, deve-se principalmente por fatores sociais, econômicos,culturais, entre outros. Muitos têm suas trajetórias marcadas pelo ingressoprematuro no mundo do trabalho, pela discriminação de gênero (mulheres nãoprecisam estudar, devem cuidar da família e afazeres domésticos), pela nãovalorização do estudo por parte da família, pela dificuldade de acesso à escola,entre outros.Entre os adolescentes que chegam até a EJA, predomina a reprovação, aexclusão e a evasão do Ensino Fundamental. Por isso, assim como os adultos,trazem consigo marcas e modelos internalizados, tanto de vivências escolares comode outras instâncias da sociedade. A responsabilidade do nosso trabalho na EJA émuito grande, porque diante do contexto em que se encontram estes alunos, algunschegam a EJA com muitas perspectivas e buscas, outros, por outro lado, chegamsem perspectivas, o que também devemos considerar.Todos os anos realizamos o que chamamos de diagnóstico para conhecer maisos nossos alunos. Esse mecanismo revela os mais distintos objetivos: aprender a lere a escrever para poder ver o mundo de forma independente; porque querem fazeruma carteira de motorista; para poder ajudar os filhos nos seus estudos; por sesentirem inferiorizados diante da família ou para socializar. Muitas donas de casasentem que já fizeram o que deveriam em prol da família e agora se sentem nodireito de estudar. Outros, porque o empregador exige. Enfim, são muitos osobjetivos que os alunos adultos nos revelam.Dos adolescentes, ouvimos constantemente que chegaram até à EJA devido àincidência de reprovação, porque se sentem grandes para conviver com criançasmenores, por dificuldade de aprendizagem, porque querem trabalhar e assim pordiante. Além disso, os jovens e adultos que voltam a estudar têm uma característicaem comum, ou seja, o mundo do trabalho ou do não trabalho está presente em suasvidas.Alguns buscam através dos estudos uma ocupação de melhor remuneração,outros desejam simplesmente uma colocação no mercado de trabalho. Nãopodemos esquecer, também, dos jovens que estão à procura de sua identidade e
72não conseguem se inserir no mercado. Enfim, pensar sobre o trabalho na Educaçãode Jovens e Adultos perpassa a preocupação de um currículo que pense o empregoseguro, formal, pois os jovens e adultos que chegam até a EJA vivem em grandeparte da instabilidade.A indagação de todos nós que estamos comprometidos com EJA,provavelmente, é a mesma de Kuenzer (1998, p.69).O que dizer aos trabalhadores? Reforçar, pura e simplesmente, a teseoficial de que a escolarização complementada por alguma formaçãoprofissional confere 'empregabilidade', é no mínimo de má fé. Por outrolado, afirmar que não adianta lutar por mais e melhor educação, é mais doque matar a esperança, eliminar um espaço importante para a construçãode um outro projeto, contra-hegemônico.Muitas dessas perguntas e dúvidas nos acompanham e têm sido objeto dereflexão daqueles que, de alguma forma, se comprometem com a educação dejovens e adultos, tendo como horizonte a superação de um mundo de opressão einjustiça e que reconhecem que o cotidiano nos exige respostas rápidas eapropriadas à realidade.É comum ouvirmos dos alunos depoimentos em que relatam marcas de umprocesso de exclusão, de não pertencimento, preconceito, falta de acesso ouoportunidades na sociedade em que vivem. Entre os adultos, ainda percebe-semuito medo, timidez e sentimento de inferioridade promovido pela própria família,pela mídia e pela sociedade em geral.Evidencia-se na nossa prática o esforço que os adultos realizam para conciliarestudo, família e trabalho, assim como o empenho que dedicam para aprender a lere escrever e concluir o EF - Ensino Fundamental. Para alguns, as jornadas sãobastante desgastantes e extensas. Trabalham oito horas diárias, estudam, precisamcuidar dos afazeres domésticos e de outras atividades que fazem parte do dia-a-diado aluno adulto.Os adolescentes, por sua vez, buscam na EJA uma oportunidade de mudar asituação em que se encontram. Na escola regular já não tem lugar para eles, porquesão grandes entre os pequenos, e isso lhes envergonha, assim como seenvergonham e se sentem frustrados por repetirem várias vezes a mesma série.
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