83realidade e de suas possibilidades. Essa atitude consiste numa prática coerente edemocrática, onde homens e mulheres se reconhecem como sujeitos da sua históriae, à medida que vão refletindo sobre si e sobre o mundo, vão aumentando o campode percepção de que a realidade está em transformação, em processo.A coerência para Paulo Freire é determinada fundamentalmente por opçõeséticas, por sua vez, entende que:[...] estar no mundo necessariamente significa estar com o mundo e com osoutros. Estar no mundo sem fazer história, sem por ela ser feito, sem fazercultura, sem "tratar" sua própria presença no mundo, sem sonhar, semcantar, sem musicar, sem pintar, sem cuidar da terra, das águas, sem usaras mãos, sem esculpir, sem filosofar, sem pontos de vista sobre o mundo,sem fazer ciência, ou teologia, sem assombro em face do mistério, semaprender, sem ensinar, sem ideias de formação, sem politizar não épossível. (1996, p. 64).Como se vê em Freire, a ―ética está inseparável da prática educativa‖. Assim,entendemos que a prática educativa não é individualista e se dá com sujeitos eminteração, sendo que deve fazer parte das construções e da prática diária a partir domundo e da vida.Os caminhos a serem percorridos, ética e esteticamente na educação,perpassam desde a concepção da educação formal, o compromisso, a coerência, orespeito profissional e a mudança na busca de sujeitos conscientes de seu papelnuma sociedade democrática.Ainda segundo Freire, a formação ética acontece na educação, maisprecisamente na sala de aula, quando a sociedade, a escola, o professor e o alunolutam por uma educação transformadora, dialógica e conscientizadora. Aconsciência não se dá no vazio, mas na troca, na interpretação, que são condiçõesde cidadania.O respeito é uma condição indispensável aos fundamentos de uma escola e deuma sociedade democrática. Mas, para que aconteça essa passagem, é necessário"uma rigorosa formação ética ao lado sempre da estética. Decência e boniteza demãos dadas". (1996, p. 32). Complementando, então, "a prática educativa tem deser, em si, um testemunho rigoroso de decência e de pureza". (FREIRE, 1996, p.36).Sem uma postura ética não é possível vislumbrar um mundo mais humano e maisfeliz.
84Assim, também a defesa de Freire (1996) se dá na direção de que aexperiência educativa e o ensino de conteúdos não podem dar-se alheios àformação moral do educando, numa neutralidade objetivante. Os alunos,principalmente falando de jovens e adultos, chegam à escola com muitos saberessocialmente construídos. No entanto, Freire nos provoca a discutir com os alunos arazão de ser de alguns desses saberes em relação ao ensino dos conteúdos.Questiona-nos:Por que não discutir com os alunos a realidade concreta com que se devaassociar a disciplina cujo conteúdo se ensina, a realidade agressiva em quea violência é a constante e a convivência das pessoas é muito maior com amorte do que com a vida? Por que não estabelecer uma ―intimidade‖ entreos saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social queeles têm como indivíduos? Por que não discutir as implicações políticas eideológicas de um tal descaso dos dominantes pelas áreas pobres dacidade? (FREIRE, 1996, p. 30).A citação que transcrevemos aponta para um aspecto de grande importânciaque é fazer com que os alunos pensem sobre sua realidade, problematize. Assim, oprofessor estará estimulando a capacidade criadora dos alunos para ir além da―consciência ingênua‖ em que se encontram.Estimulando a capacidade criadora de análise crítica e de expressãolinguística, no sentido de competência comunicativa dos alunos, estaremoscontribuindo para que esses façam parte da história que está se construindo e sedesenhando em nossos tempos. Quer dizer, contribuindo para que olhem para omundo com a criticidade e curiosidade que se fazem necessárias. Ainda podemosrefletir no que Freire (1996) nos coloca, no sentido de que pensar certo demandaprofundidade e não superficialidade na compreensão e interpretação dos fatos e,principalmente,significa reconhecer que somos seres condicionados mas nãodeterminados. Reconhecer que a História é tempo de possibilidade e não dedeterminismo, que o futuro, permita-se-me reiterar, é problemático e nãoinexorável. (1996, p. 19).Aceitar essas questões pontuadas por Freire implica perceber que a escolacumpre um papel importante no desenvolvimento humano, compreendendo quemulheres e homens são seres históricos e inacabados. Essa inconclusão, como jáexplicitado, faz com que estejam num constante movimento de procura. Escreve
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