97A lógica de que o mundo não tem história, diz Cortella (2010), faz com que seviva o presente até o esgotamento. Por isso, os jovens vivem no limite doturbinamento. É preciso que saibam que as coisas precisam de um processo paraexistir. Se não partilharmos ideias e valores que vivemos, as coisas não têm sentidopara nós. Já temos em Platão (ou Aristóteles) que a vida não examinada nãomerece ser vivida.A ética e o ―bem viver‖ envolvem o agir, a busca da compreensão racional dosprincípios que nos levam a agir e a sensibilidade diante do outro. Pensemos comoessas questões se apresentam na contemporaneidade.5.1.2 Valores, cognição e afetividadeOs valores, segundo La Taille, são os investimentos afetivos. É o que nos levaa nos interessarmos pelos objetos, pelas pessoas, pelos sentimentos. Por isso,contraria o que propõe Baumann (1997, p. 36), ―esquecer mais do que aprender‖.Pois, entende que esquecer é ―não dar valor‖, não se fixar em valores. E, umacultura que não conserva valores ou numa cultura que tudo se vale, é muito difícilconstruir projetos de vida (2009, p. 47).A afetividade, defende La Taille, nos guia para estabelecer prioridades e fazcom que nos interessemos pelo mundo ou não. Repetindo suas palavras já citadas,―a cognição [...] permite-nos conceber o mundo, a afetividade permite nosinteressarmos por ele‖ (2009, p.38). Por isso, não podem estar dissociados, porqueprecisamos conhecer e participar do mundo, nos interessarmos por ele. Esse pareceser um dos maiores desafios da educação, ou seja, conseguir com que os jovens seinteressem pelo mundo (pessoas, objetos, natureza...).Para lembrarmo-nos de alguma coisa, pessoa ou objeto, precisamos conhecêlos,e para que fiquem em nossa memória têm que ser significativos, devem teralgum valor para nós. O exemplo clássico dessa questão que pode ser trazido é odo aluno que estuda para uma avaliação, porque precisa naquele momento de umanota, mas depois esquece tudo. Já o que aprendeu e que teve valor em determinadomomento, aquilo que foi passível de investimento afetivo ficará na memória.Concordamos com a defesa de La Taille, pois há, por exemplo, professores,músicas, livros, filmes, fatos, sentimentos e lembranças que têm valores
98diferenciados em nossas vidas. Não são todos os fatos, tudo o que vivemos e queconhecemos que tem igual valor. Isso equivale admitir e aceitar também que existeuma hierarquia de valores.A esse aspecto, La Taille demonstra também sua preocupação, pois em nossasociedade estamos perdendo critérios para julgar o que achamos errado. Vive-se emum momento em que todo tipo de música, todo o livro, toda a cultura deve serpercebido como de igual valor:[...] o que importa é o que existe, não o que deveria existir. O que importa éreconhecer uma presença, não avaliá-la. O que importa é o fato, não ovalor. Ou, melhor dizendo, tudo o que existe tem valor pelo simples fato deexistir. (2009, p. 41).Se aceitarmos a hipótese de que não podemos hierarquizar e que devemosaderir todas as ideias e valores que circulam no nosso entorno social sem quenossas convicções pessoais sejam validadas e priorizadas, revelamos um quadro defalta de autonomia. De acordo com La Taille, ―em primeiro lugar, porque não hárelação necessária entre julgar e massacrar. Trata-se de uma questão moral: julgarinferior não implica desrespeitar‖ (2009, p.42). Não podemos proibir críticas e querersempre estar na posição do ―politicamente correto‖ e achar que tudo que se produztem igual valor. De acordo com o autor, ―negar hierarquias de valores é se privar debalizas para a construção do próprio sentido da vida‖ (2009, p. 42). Ou seja, é deixara vida me levar.Essa hierarquização de que o autor nos fala está presente em todas as esferasde nossa vida. É o que nos leva a priorizar essa ou aquela música, esse àquelefilme, o envolvimento com essa ou aquela pessoa, escolher entre esse ou aqueletrabalho. É o que nos baliza para dar sentido aos nossos projetos de vida. É o quenos leva a aceitar, seguir ou não os modismos do nosso contexto. Sobre os projetosde vida e as relações com os valores, La Taille, nos explica:Ter um projeto, seja lá qual for, implica ter uma intenção de realizar algumacoisa. Há um propósito, um alvo, uma finalidade. E há, naturalmente, umaprojeção no futuro: algo deverá ser feito, ser conquistado, ser adquirido,algo deverá se tornar realidade. Mas há muitas coisas que podem se tornarprojeto. Logo, entre as diversas possibilidades, uma ou umas devem serescolhidas, e outras devem ser descartadas. Uma ou umas devem terprioridade sobre outras. Ter um projeto de vida implica, portanto,hierarquizar possibilidades de realização. (2009, p. 43).
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