117podemos nos perguntar se eles agiam/agem por dever ou conforme o dever?Acreditamos que diante do exposto por La Taille, a resposta é que as pessoasagem/agiam ou ―não agiam‖ por medo do castigo, repreensão, conforme um dever.Os valores assim postos não são desenvolvidos. São tomados como um deverpelo exercício do autoritarismo. Autoritarismo por ser arbitrário. As regras podem atéserem boas, porém, nega-se a compreensão da origem e o sentido à pessoa quedeve obedecer. Nesse caso, os alunos não se manifestavam/manifestam na sala deaula não por dever ou porque estariam fazendo o bem, mas, porque agiam/agemconforme um dever.Consideramos importante essa análise, porque ainda hoje encontramosprofessores que assumem posturas como essa e esperam que o aluno aja conformeum dever, não importando as consequências que esses atos possam trazer. Importa―que eu vou dar a minha aula, conforme planejei‖. ―Assim é‖. ―Assim será‖.Acreditamos que em muitos casos na educação, ainda hoje, tomamos a teoriade Durkheim (sociólogo/ 1901-1974) como referência, onde cada um recebe osistema moral pronto, devendo adaptar-se. Ou seja, não há desenvolvimento moral,mas a aprendizagem de um modelo.Se por um lado colocamos a autonomia em todas as nossas PropostasPedagógicas, na prática queremos que os alunos respeitem as morais ou regrasimpostas. Não possibilitamos a construção de uma moral. Queremos que prevaleçao sentimento do sagrado em relação à sociedade.Parece-nos que em situações como essa, a autonomia que tanto queremos efalamos em nossos projetos pedagógicos, não é alcançável. Se o nosso objetivo éque o aluno haja conforme um dever, estamos contribuindo com a produção de umsujeito heterônomo que age porque a regra existe em função de uma autoridade.Se estivermos certos nesta afirmação em que acreditamos, para que tenhamosum sujeito autônomo, é necessário que o aluno tenha possibilidade de pensar emprincípios para legitimação das suas ações morais.Partindo do pressuposto que é função educativa das instituições refletir ediscutir sobre a importância do agir por dever com o objetivo de fazer o bem,podemos atuar como agentes de transformação da condição humana e ir além demeras reproduções de aquisições sociais e históricas já desenvolvidas. Acrescenta-
118se a essa questão, o fato de que os valores aceitos por temor ficam enfraquecidosou desaparecem quando a autoridade não estiver mais atuando.A obrigatoriedade, conforme nos explica o psicólogo, é a ―forma‖ e não oconteúdo da moral. Essa forma pode receber diferentes conteúdos de acordo comas diversas culturas. O que é dever para alguma cultura, pode não ser para outra. Odever fica então entendido como a forma da moral.La Taille defende a ideia de que o dever moral não é absoluto, pois essedepende das consequências como, por exemplo, mentir para proteger um inocenteda morte. Já para Kant, a moral é composta de imperativos categóricos, ou seja, dedeveres absolutos (o valor não depende das consequências dos atos). Assim,interessa mais à psicologia, à força do sentimento da obrigatoriedade (energética) enão se as pessoas são morais ou não.Assinala também La Taille, que mesmo o sentimento de obrigatoriedade nãolivra o sujeito moral de muitas vezes estar diante de um dilema moral. Em algumassituações, o dever leva a caminhos diretos sem obstáculos, como ―condenar umestupro‖, ―ajudar pessoas que perderam tudo numa tempestade‖. Porém, em outroscomo no ―caso do suicídio, do aborto, da eutanásia, das clonagens para finsterapêuticos e outros mais‖ (LA TAILLE, 2006, p. 33), são necessárias posturas,reflexões, argumentos e critérios que nos levem a uma decisão.Nos primeiros exemplos, parece-nos que fica clara a atitude a ser tomada pelomenos para a maioria da população em várias partes do mundo. As pessoas semobilizam diante de situações como essa. O estupro é condenado, inclusive dentrodas próprias prisões. Ser solidário numa situação de tempestade, enchente, doença,frequentemente mobiliza cidades, estados e países. As pessoas não ficam comdúvidas se devem ou não ajudar.Porém, a eutanásia, clonagens, suicídios são ações que nos deixam ainda commuitas dúvidas, pois não há um consenso. Enquanto que para alguns o direito à vidaé que prevalece, para outros é a liberdade de escolha do indivíduo. Ainda podeacontecer de, em alguns casos, as pessoas se colocarem a favor do aborto, comoem caso de estupro, por exemplo, e em outros casos se colocarem contra. Mas, osentimento de dever encontra-se presente da mesma forma.Outro aspecto que La Taille (2006) nos chama atenção é de que o sentimentode obrigatoriedade nem sempre encontra sanções jurídicas na sociedade, como é o
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