95depois. A viagem é significativa, porque o que importa é o caminho que se percorre,as pessoas com as quais cruza, o que se ouve, o que se contempla.O autor nos questiona: ―qual metáfora que mais retrata o homemcontemporâneo? A do peregrino ou a do turista‖? (2009, p. 25). A resposta a essapergunta, conforme nos escreve La Taille, comumente, tem sido a de que somos―turistas‖. Entendemos também que não podemos negar que algum dia fomos ouque ainda somos turistas, pois vivemos num contexto que nos leva a viver a vida emfragmentos. O nosso tempo é uma sucessão de momentos. Da mesma formatambém se sucede nas relações humanas, no conhecimento e na afetividadeOs telejornais nos apresentam shows em imagem, sonoplastia, decorações euma sequência de eventos que se sucedem sem transição e sem relação entre si. Ojornalista-apresentador põe diante do público as diversas notícias, eliminando ossentidos, as histórias e suas possíveis consequências. Explica La Taille (2009),falam em guerra, política, crime, bolsa de valores, novo filme, contratação de umnovo jogador e tantos outros fatos todos no mesmo tom de voz. A preocupação dohomem moderno é saber o que aconteceu e não o porquê.Recebemos informações de todos os tipos, de todas as origens. ―Trata-se do―mundo da informação‖. A informação é o fragmento do conhecimento. O queimporta é ver, ficar sabendo e mudar de assunto, assim o turista olha, parte e não sefixa. Conhecimento é colocar em relação às diversas informações (LA TAILLE, 2009,p.30). É entender o porquê, como, o que pode ser feito para mudar, qual o sentidoda informação recebida.La Taille nos chama atenção para uma característica que tem se manifestadoque é a ―falta de passado‖ e a ―ausência de futuro‖, fazendo com que ―o presente setorne fragmento do tempo‖ (2009, p.31). É só o hoje que importa, a vida é breve,então faça tudo o que puder hoje.Com a modernidade, veio a desvalorização da tradição e do passado que deulugar à criação, construção e valorização de um futuro. Se as riquezas herdadas nãoserviam mais como referências, os olhares, os sonhos, utopias, expectativasdirecionam-se para o futuro confiando no progresso da humanidade e na capacidadecriadora.Na verdade, como nos esclarece o psicólogo, o fluxo do tempo é concebidopor riquezas conquistadas e não mais herdadas. Os tempos idos dão lugar ao devir.
96A partir dessa compensação, o tempo continua fluindo. A aposta estava no amanhãdo homem, da ciência, da tecnologia, da política e de tantas outras áreas.Esse futuro, justifica La Taille, deixou de ser referência, porque está carentede planos de mudanças, de alternativas à realidade vigente. Temos a nossa frenteum cenário que nos traz a miséria, a ausência de trabalho, a exclusão, a violência, ainsegurança, o aquecimento global, a falta de água potável para todos, entre tantasoutras questões que se apresentam. Dessa forma, fica-se nas resoluções depequenas urgências e não há projetos para erradicar os problemas, ou, melhordizendo, o futuro deixa de ser uma utopia.As colocações de La Taille expressam de alguma forma também o cotidiano daeducação, pois as atitudes que tomamos frente a um ato de violência, de falta derespeito com o outrem, assim como outros fatos que se apresentam, quase sempreas intervenções são superficiais, não nos aprofundando nas questões.Em muitas ocasiões, até temos vontade e desejo de refletir, examinar einvestigar, mas, pela falta de tempo diante de tantas ―pequenas urgências‖ quesurgem, é dessa forma que agimos. Nosso fazer tem se restringido a ―apagarincêndio‖. Ou seja, não conseguimos projetar, trabalhar para um futuro melhor.Todos esperam uma ação rápida. Seguimos o fluxo da modernidade tornando-nosimediatistas com atitudes ansiosas e não reflexivas e, em alguns casos, até atitudesagressivas e equivocadas.Da mesma forma, os cenários políticos parecem estar aceitando o status deque ―não há mais nada a fazer‖, resolvendo os problemas a partir de pequenasurgências. La Taille nos traz o exemplo do Brasil que oferece o Programa Bolsa-Família. ―Resolve-se a fome no dia após dia, não se apresenta um projeto políticopara erradicá-la‖ (2009, p. 33). Freire também se preocupava com esse tema eentendia que ―no assistencialismo não há responsabilidade. Não há decisão. Só hágestos que revelam passividade e domesticação do homem‖ (1983, p. 58). E adefesa de ambos é de um ser comprometido, capaz de ir além.Nesse sentido, concordamos com o que propõe La Taille:Esse mesmo ―presente contínuo‖, mesmo essa pequena fatia de tempo,também carece de solidez, de mínimas referências, de balizas confiáveis,pois está sob o signo da imprevisibilidade, da arbitrariedade, dahorizontalidade de valores. (2009, p. 37).
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