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Estética - OUSE SABER!

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1963 - A Linguagem ao Infinilo 5 7<br />

poder absoluto fazendo nascer delas, de todas as suas pobres<br />

palavras, o terror; mas esse m omento é aquele em que justamente<br />

a linguagem não poderá mais nada, em que o fôlego será<br />

cortado, em que ela deverá se calar sem sequer dizer que se<br />

cala. É preciso que no infinito a linguagem recue esse limite que<br />

leva consigo, e que m arque ao m esm o tempo seu reino e seu limite.<br />

Daí, em cada romance, uma série exponencial e sem fim<br />

de episódios; depois, mais além, uma série sem fim de romances...<br />

A linguagem do terror é predestinada a um dispêndio infinito,<br />

mesmo quando ela se propõe a alcançar apenas um efeito.<br />

Ela se priva de qualquer repouso possível.<br />

Sade e os rom ances de terror introduzem na obra de linguagem<br />

um desequilíbrio essencial: eles a lançam na necessidade<br />

de estar sem pre em excesso e em falta. Em excesso, porque a<br />

linguagem não pode mais evitar de ai se multiplicar por si mesma<br />

- como atingida por uma doença interna de proliferação; ela<br />

está sempre em relação a si mesma mais além do limite: não<br />

fala senão em suplência a partir de um desnível tal que a linguagem<br />

da qual ela se separa e recobre aparece ela própria como<br />

inútil, a mais, e boa justamente para ser riscada: mas. por este<br />

mesmo desnível, alivia-se por sua vez de todo peso ontológico:<br />

nesse ponto ela é excessiva e de tão pouca densidade que está<br />

destinada a se prolongar ao infinito sem adquirir jamais o peso<br />

que a imobilizaria. Mas isso tambéin não quer dizer que ela cometeu<br />

um erro, que foi atingida pela ferida do duplo? Que ele<br />

conteste a linguagem para reproduzi-la no espaço virtual (na<br />

transgressão real) do espelho, e para abrir neste um novo espelho<br />

e um outro ainda, sem pre ao infinito? Infinito atual da miragem<br />

que constitui, em sua vacuidade, a espessura da obra -<br />

esta ausência no interior da obra de onde esta. paradoxalmente,<br />

se ergue.<br />

Talvez o que seja preciso chamar com todo rigor de "literatura"<br />

tenha seu limiar de existência precisamente ali, nesse tim<br />

do século XVIII, quando aparece uma linguagem que retoma e<br />

consome em sua fulguração outra linguagem diferente, fazendo<br />

nascer uma figura obscura mas dominadora na qual atuam a<br />

morte, o espelho e o duplo, o ondeado ao infinito das palavras.<br />

Em La b ib lio th è q u c d e B o b e i, tudo o que pode ser dito ja foi<br />

dito: e possível encontrar ali todas as linguagens concebidas.<br />

*

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