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Estética - OUSE SABER!

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1970 - Sctc Proposições sobre o Sélimo Anjo 307<br />

rias. Em R oussel, com o em Brisset, há a anterioridade de um<br />

discurso encontrado ao acaso ou anonimamente repetido; tan­<br />

to em um com o em outro, há série, no interstício das quase-<br />

identidades, de aparições de cenas maravilhosas às quais as<br />

palavras aderem . M as Roussel faz surgir suas mãos, seus tri­<br />

lhos de m iúdos de vitela, seus autômatos cadavéricos no espa­<br />

ço, estranhamente vazio e tão difícil de preencher, que é aberto,<br />

no cerne de um a frase arbitrária, pela ferida de uma instância<br />

quase imperceptível. A falha de um a diferença fonológica (entre<br />

peb, por exem plo) não redunda, para ele, em uma simples dis­<br />

tinção de sentido, m as em um abism o quase intransponível que<br />

exige todo um d iscu rso p a ra ser reduzido; e quando, de uma<br />

extremidade d a diferença, se em barca para a outra, ninguém<br />

está seguro, afinal, de que a história chegará a essa margem tão<br />

próxima, tão idêntica. B risset salta, em um instante mais breve<br />

que qualquer pensam ento, de um a palavra à outra: salaud.<br />

sale eau, salle a u x p rix . salle aux prts(onniers). saloperie. e o<br />

menor desses m in úsculos saltos que modificam minimamente<br />

o som faz su rgir a cada vez todo o colorido de uma nova cena:<br />

uma batalha, u m pântano, prisioneiros degolados, um merca­<br />

do de antropófagos. E m torno do som que permanece tão pró­<br />

ximo quanto possível do seu eixo de identidade, as cenas giram<br />

como na periferia de u m a gran de roda; e assim, chamaclas cada<br />

uma por su a vez p o r gritos quase idênticos, que elas estão en­<br />

carregadas de justificar e de qualquer forma trazer em si mes­<br />

mas, elas form am , de um a m aneira absolutamente equivoca,<br />

uma história de p a la v ra s (in duzida em cada um desses episo-<br />

dios pelo im perceptível, inaudível deslizamento de uma palavra<br />

à outra) e a história d essas palavras (a seqüência das cenas<br />

onde esses ru íd o s n asceram , cresceram, depois se imobiliza­<br />

ram para form ar palavras).<br />

Para W olfson, o q u ase e um meio de revirar sua própria lin- .<br />

gua como se revira um dedo de luva; de passar para o outro |<br />

lado no mom ento em que ela chega a você, e onde ela vai cnvol-<br />

vê-lo, invadi-lo, se fazer ingurgitar à força, encher o seu corpo }<br />

com objetos m au s e ru idosos, e ressoar por muito (empo em<br />

sua cabeça. É o m eio de se encontrar subitamente no exterior, e<br />

de ouvir enfim expatriado ( “exm atriado", se poderia dizer) uma<br />

linguagem neutralizada. O quase assegura, de acordo com o ^<br />

furtivo ponto de contato sonoro, o afloramento semântico, en­<br />

tre uma língua m aterna que é preciso ao mesmo tempo não fa-

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