14.04.2013 Views

Estética - OUSE SABER!

Estética - OUSE SABER!

Estética - OUSE SABER!

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

1963 - D istancia. A specto, O rigem 69<br />

possa abster-se da fala, a simples experiência que consiste em<br />

pegar uma caneta e escrever franqueia (como se diz: liberar, desenterrar,<br />

retomar um penhor ou retornar a uma fala) uma distância<br />

que não pertence nem ao mundo, nem ao inconsciente,<br />

nem ao olhar, nem à interioridade, uma distância que, em sua<br />

nudez, oferece um quadriculado de linhas de tinta e também<br />

um emaranhado de ruas, uma cidade começando a nascer já ali<br />

há muito tempo:<br />

Os m eses sã o linhas, f a t o s q u a n d o elas se cru zam<br />

rep resen ta ría m os d e sta m a n eira u m a série d e retas<br />

cortadas e m â n g u lo reto p o r uma série d e retas<br />

um a c id a d e.9<br />

(L es m ois son t d e s lignes. d es fa it s lo rsq u elles se croisent<br />

nous rep résen terio n s d e cette f a ç o n une série de droites<br />

cou pées à a n g le droit p a r u n e série d e droites<br />

une ville.)<br />

E se me pedissem para definir, enfim, o fictício eu diria, sem firulas:<br />

a nervura verbal do que não existe, tal como ele é.<br />

Apagarei, para rem eter essa experiência ao que ela é (para<br />

tratá-la, portanto, com o ficção, pois ela nào existe, é sabido),<br />

apagarei todas as palavras contraditórias pelas quais facilmente<br />

se poderia dialetizá-la: nivelamento ou abolição do subjetivo<br />

e do objetivo, do interior e do exterior, da realidade e do imaginário.<br />

Seria necessário substituir todo esse léxico da mistura<br />

pelo vocabulário da distância, e mostrar então que o fictício é<br />

um afastamento próprio da linguagem - um afastamento que<br />

tem nela seu lugar mas que tambem a expõe, dispersa, reparte,<br />

abre. Não há ficção porque a linguagem esta distante das coisas;<br />

mas a linguagem é sua distância, a luz onde cias estão e sua<br />

inacessibilidade, o sim ulacro cm que se dá somente sua presença;<br />

e qualquer linguagem que. em vez de esquecer essa distância,<br />

se mantém nela e a mantém nela, qualquer linguagem<br />

que fale dessa distância avançando nela c uma linguagem dc ficção.<br />

É possível então atravessar qualquer prosa e qualquer poesia.<br />

qualquer romance e qualquer reflexão, indiferentemente.<br />

O estilhaçamento dessa distância, Pleynet o designa com<br />

uma palavra: "Fragmentação é a fonte." Dito de outra forma, e<br />

9. (N A.) Pleynet (M ). Paysciges en rícux: les lignes de la prose. Paris, Éd. du<br />

Seuil. 1963. p. 121.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!