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Estética - OUSE SABER!

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136 Michel Foucault - Ditos c Escritos<br />

mens, diria Burns). Lembro-me de uma discussão, em Royau-<br />

mont. onde se atacava Robbe-Grillet com uma ferocidade espantosa.<br />

dizendo: este homem renega o homem, mas eu não<br />

amo os objetos, amo os homens; Robbe-Grillet é o homem que<br />

prefere aos homens os cinzeiros, os cigarros, uma espécie de<br />

inimigo do gênero humano. Mas, finalmente, o que é buscado<br />

em tudo isso talvez sejam mais os deslocamentos do que os objetos,<br />

são os deslocamentos dos objetos, mas também gestos e<br />

papéis. Talvez seja o que há de comum a toda uma série de perfurações<br />

estéticas, de brechas que têm sido tentadas aqui e ali.<br />

Há um universo onde se deslocam os objetos e igualmente os<br />

observadores, e, em seguida, há os papéis que os observadores<br />

desempenham uns em relação aos outros ou em relação aos objetos.<br />

Pois esses observadores, exceto no mundo de Einstein,<br />

não fazem mais do que observar. No mundo efetivo, eles fazem<br />

outra coisa, eles observam, e essa observação influencia perpetuamente<br />

a observação dos outros, e isso se chama ação, isso se<br />

chama conversação, isso se chama guerra e se chama combate<br />

pela vida e pela morte, se chama assassinato no romance policial.<br />

Finalmente, eu me pergunto se não é isso que está em causa<br />

em todas essas tentativas, e talvez seja o que atravessa, o que<br />

percorre certos romances de Robbe-Grillet. Desse ponto de vista,<br />

parece-me que La jalousie15 é o romance mais ambíguo e o<br />

que constitui o maior avanço em relação ao que o autor quis fazer.<br />

É alguma coisa que Ricardou havia enfatizado de uma maneira<br />

muito surpreendente em um artigo de M édiations publicado<br />

a respeito de um texto muito belo de Claude Ollier16. Ricardou<br />

retomava esse texto de Ollier fazendo nele aparecer<br />

seus perfis sutis e sucessivos; esses perfis que, em uma primeira<br />

abordagem, parecem completamente cristalizados e que depois<br />

se movem lentamente e, sobretudo, indicam que alguma<br />

coisa se move por trás, alguma coisa que não se vê.<br />

M. Foucault: Desculpe-me interrompê-lo, mas talvez fosse<br />

possível, a partir disso, retomar uma pergunta que se dirigiria a<br />

Claude Ollier.<br />

15. Robbe-Grillet (A.), La jalousie. Paris, Éd. de Minuit, 1957.<br />

16. Ricardou (J.), "Aspects de la description créatrice. Comme à une postface à<br />

Description panoramique d’un quartier moderne, de Claude Ollier", Mediations.<br />

Revue des expressions contemporaines, n- 3, outono de 1961, ps. 13-32.

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