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Estética - OUSE SABER!

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1962 - Um Saber Tão Cruel 21<br />

da consciência. Em sua modalidade próxima, é um olhar falso.<br />

O que olha se aloja sub repticiamente na câmara escura que encerra<br />

o espelho: ele se interpõe na imediata satisfação própria.<br />

Ele se coloca lá onde o volume do corpo vai se abrir, mas para<br />

logo se fechar do outro lado da superfície que habita, tornando-se<br />

o menos espacial possível: geómetra astuto, lúdio de duas<br />

dimensões, ei-lo que aninha sua invisível presença na visibilidade<br />

do que é olhado por si mesmo.<br />

O espelho mágico, verdadeira e falsa "psique", reúne essas<br />

duas modalidades. Está colocado entre a mâos do que olha, a<br />

quem permite a soberana vigilância: mas tem a estranha propriedade<br />

de espiar o que é olhado no gesto retardado e um<br />

tanto indeciso que ele tem diante do espelho. Tal é o papel do<br />

“Sopha” encantado, espaço envolvente e tépido onde o corpo se<br />

abandona ao prazer de estar só e em presença de si mesmo, espaço<br />

secretamente habitado, que se inquieta em surdina e logo,<br />

por sua vez, põe-se a desejar o primeiro corpo inocente que,<br />

oferecendo-se completamente, dele se esquiva.<br />

O que vê o estranho mágico de Crébillon. no fundo do seu espelho<br />

de seda? Nada mais, na verdade, do que seu desejo e o segredo<br />

do seu coração ávido. Ele reflete, nada mais. Mas esta ai<br />

mesmo a escapatória absoluta do que é olhado. Um. olhando, não<br />

sabe, no fundo, que se vê: o outro, não se sabendo olhado, tem<br />

a obscura consciência de ser visto. Tudo é organizado por esta<br />

consciência que está ao mesmo tempo à flor da pele e abaixo<br />

das palavras. Do outro lado do malicioso espelho se esta só e<br />

enganado, mas em uma solidão tão prevenida que a presença<br />

de outro é imitada no vazio pelos gestos que. permitindo dele se<br />

defender, piedosamente, timidamente, o invocam Assim, na<br />

superfície de encontro, sobre a face lisa do espelho, compõe-se.<br />

em um êxtase um instante suspenso, o gesto-limite por excelência<br />

que. desnudando, mascara o que ele revela. Figura na qual<br />

vêm atar-se os fios tênues dos saberes recíprocos, mas em que<br />

o núcleo do desejável escapa definitivamente ao desejo, como<br />

Zeinis à alma de Sopha.<br />

Mas todos esses corredores se desmoronam na aventura de<br />

Pauliska. O chefe dos salteadores, conta ela. "dá um golpe de<br />

calcanhar bastante forte no chão; sinto minha cadeira descer<br />

rapidamente por um alçapão que se fecha imediatamente sobre<br />

minha cabeça: e me encontro 110 meio de oito a dez homens<br />

com o olhar ávido, espantado, assustador". A inocência esta na<br />

presença do próprio olhar: a voracidade do desejo não tem ne-

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