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Estética - OUSE SABER!

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1968 - Isto Não É um Cachimbo 255<br />

A partir daí, é possível compreender a última versão que Magritte<br />

deu para Isto não é um cachimbo. Colocando o desenho<br />

do cachimbo e o enunciado que lhe serve de legenda sobre a superfície<br />

bem claramente delimitada de um quadro (na medida<br />

em que se trata de uma pintura, as letras não passam de imagens<br />

das letras; na medida em que se trata de um quadro-negro,<br />

a figura é apenas a continuação didática de um discurso), colocando<br />

este quadro sobre um triedro de madeira compacto e sólido,<br />

Magritte faz tudo o que é preciso para reconstituir (seja<br />

pela perenidade de uma obra de arte, seja pela verdade de uma<br />

lição) o lugar-comum à imagem e à linguagem. Mas essa superfície<br />

é logo contestada: pois o cachimbo que Magritte, com tantas<br />

precauções, havia aproximado do texto, que ele encerrara<br />

com ele no retângulo institucional do quadro, desapareceu: ele<br />

está lá no alto, em uma flutuação sem referência, deixando entre<br />

o texto e a figura da qual ele deveria ter sido a ligação e o<br />

ponto de convergência no horizonte apenas um pequeno espaço<br />

vazio, o estreito rastro de sua ausência - como a marca não assinalada<br />

de sua evasão. Então, sobre seus montantes oblíquos<br />

e tão visivelmente instáveis, ao cavalete resta apenas oscilar, à<br />

moldura, se deslocar, ao quadro e ao cachimbo, rolarem no<br />

chão, às letras, se dispersarem: o lugar-comum - obra banal ou<br />

lição cotidiana - desapareceu.<br />

Klee, Kandinsky, Magritte<br />

Dois princípios reinaram, acredito, sobre a pintura ocidental<br />

do século XV ao XX.<br />

O primeiro separa a representação plástica (que implica a<br />

semelhança) e a representação lingüística (que a exclui). Esta<br />

distinção é de tal maneira praticada que ela permite uma ou outra<br />

forma de subordinação: ou o texto é regulado pela imagem<br />

(como nesses quadros onde estão representados um livro, uma<br />

inscrição, uma letra, o nome de um personagem); ou a imagem<br />

é determinada pelo texto (como nos livros em que o desenho<br />

acaba completando, como se ele apenas seguisse um caminho<br />

mais curto, o que as palavras estão encarregadas de representar).<br />

É verdade que esta subordinação só permanece estável<br />

muito raramente: pois ocorre ao texto do livro ser apenas o comentário<br />

da imagem, e o percurso sucessivo, pelas palavras, de<br />

suas formas simultâneas; e ocorre ao quadro ser dominado por

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