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Estética - OUSE SABER!

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1964 - Debate sobre o Romance 1 57<br />

P. Sollers: Em “Grandes florestas, vocês me amedrontam<br />

como catedrais...”, será que isso parece ser possível para vocês?<br />

É totalmente o contrário do conforto?<br />

C. Ollier: Isso é, no entanto, um conforto, uma apropriação<br />

confortável do mundo pela linguagem. Por isso ele se insurgiu<br />

tão vigorosamente contra todas as metáforas que ele chamou<br />

de “humanistas”, mais ou menos justamente.<br />

J.-L. Baudry: Ele critica a metáfora por chegar sempre a<br />

uma espécie de antropocentrismo.<br />

C. O llier: Por trás de todos os romances de Robbe-Grillet há<br />

um pano de fundo quase metafísico que questiona as relações<br />

do autor com o mundo. Ele considera que essas relações não<br />

são mais atualmente relações de apropriação, como elas eram<br />

durante o que se chama de período clássico do romance dos<br />

150 últimos anos. Constata uma fratura total entre o mundo,<br />

de um lado, e o homem, portanto, o escritor, de outro e, para<br />

tentar analisar essa fenda, para dimensioná-la, pareceu-lhe que<br />

a operação clínica mais simples e mais imediata consistia em<br />

purificar a literatura, purificar a escrita de todas as metáforas<br />

antropomórficas que, incessantemente, introduziam novamente<br />

essa noção de habitabilidade do mundo. O mundo lhe parece<br />

fundamentalmente inabitável, ele tenta compreender por que,<br />

esta é a razão dos seus livros, a meu ver. É preciso ver o pano<br />

de fundo sobre o qual sua escrita se destaca. É preciso ver as<br />

significações das analogias em Robbe-Grillet. O que dizia Jean<br />

Pierre Faye a respeito dos quatro personagens de La jalousie é<br />

muito interessante, e provavelmente muito justo - embora a lacraia,<br />

para mim, faça parte do espaço e não seja um personagem,<br />

mas ela pode também ser analisada como personagem. A<br />

análise é uma primeira etapa, a segunda é a seguinte: o que isso<br />

significa? Quais são as relações que Robbe-Grillet pretende estabelecer<br />

entre ele e o mundo, as novas relações que ele pretende<br />

estabelecer entre o homem e o mundo, é disso que se trata.<br />

Na verdade, não se trata verdadeiramente de escrever.<br />

M. Foucault: Você me disse há pouco, Claude Ollier, que gostaria<br />

de falar sobre o que é para você o romance, sobre o que é<br />

escrever um romance. Você não acha que este seria o momento<br />

de fazê-lo?<br />

C. Ollier: Não penso, atualmente, ter idéias muito claras sobre<br />

a questão. Tento compreender o que fiz há alguns anos, e<br />

isso permanece bastante obscuro. Percebo que tudo gira em

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