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Estética - OUSE SABER!

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1975 - Sobre Marguerite Duras 359<br />

sem que jamais haja alguma presença, mas é o aparecimento<br />

de um gesto, o aparecimento de um olho, é um personagem que<br />

emerge da bruma; penso em Francis Bacon. Parece que seus<br />

filmes são um pouco aparentados com Bacon, como seus romances<br />

cofn Blanchot: de um lado, a anulação; do outro, o aparecimento.<br />

H. Cixous: Aliás, isso ocorre junto. Quanto aos filmes, vi apenas<br />

dois: Détruire D it-elle2 e índia Song3 , que são muito diferentes.<br />

M. Foucault: Fale-me de índia Song. Eu não o vi.<br />

H. Cixous: Adorei esse filme e, no entanto, sinto que ele me<br />

inquietou. O que ficou em mim de índia Song? índia Song é um<br />

filme que tem uma dimensão inteiramente singular, mesmo<br />

para Marguerite Duras, porque é um filme onde há um prazer<br />

absolutamente intenso. Marguerite Duras conseguiu dar um<br />

golpe fabuloso para qualquer ser humano, isto é, encenar o que<br />

eu considero como seu fantasma fundamental. Ela mostrou<br />

para si mesma o que sempre olhou sem conseguir reter. Há<br />

uma coisa da qual não se falou, e à qual dou muita importância:<br />

é que tudo o que Marguerite Duras escreve, e que é o despoja-<br />

mento, levado a tal ponto que certamente é também perda, é ao<br />

mesmo tempo fantasticamente erótico, porque Marguerite Duras<br />

é alguém que está fascinado. Não posso me impedir de dizer<br />

“ela”, porque é ela quem avança. A fascinação combina com a<br />

pobreza. Ela está fascinada, como que magnetizada por alguma<br />

coisa, em alguém, absolutamente enigmática que faz com que<br />

todo o resto do mundo se reduza a pó. Não resta mais nada.<br />

Poderia até ser uma fascinação religiosa; aliás, há nela uma<br />

dimensão religiosa; mas, o que a fascina, descobre-se pouco a<br />

pouco, acredito que ela própria o descubra ou faça descobrir, é<br />

uma mistura de erotismo, que atinge a carne da mulher - isso<br />

acontece verdadeiramente pelo que pode existir de perturbador<br />

e de belo em alguma coisa da mulher que é indefinível - e aliás,<br />

de morte. E eles se confundem. Então, se perdem de novo.<br />

Como se a morte envolvesse a vida, a beleza, com a terrível ternura<br />

do amor. Como se a morte amasse a vida.<br />

índia Song é como se ela se visse, como se dá, é como se ela<br />

“a” visse, enfim, aquela que sempre a fascinou. E é uma espécie<br />

de sol muito negro: no centro, há a famosa dama, a que drena<br />

2- 1969.<br />

3' 1975.

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