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Estética - OUSE SABER!

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1975 - Sade, Sargento do Sexo 369<br />

_ Um cinema ultrapassado no sentido próprio, já que se<br />

tende recentemente a associar fascism o e sadismo em nome<br />

de uma retomada retro. Assim, Liliana Cavani, em Portier de<br />

Nuit, e Pasolini, em Saio. Ora, essa representação não é a história.<br />

Os corpos são grotescam ente trajados com roupagens<br />

antigas, representando a época. Queriam nos fa zer acreditar<br />

que os sequazes de H im m ler correspondem ao Duque, ao Bispo,<br />

à Sua Excelência do texto de Sade.<br />

-É um completo erro histórico. O nazismo não foi inventado<br />

pelos grandes loucos eróticos do século XX, mas pelos pequenos<br />

burgueses mais sinistros, tediosos e desagradáveis que se<br />

possam imaginar. Himmler era vagamente agrônomo, e tinha<br />

se casado com uma enfermeira. É preciso compreender que os<br />

campos de concentração nasceram da imaginação conjunta de<br />

uma enfermeira de hospital e de um criador de galinhas. Hospital<br />

mais galinheiro: eis o fantasma que havia por trás dos campos<br />

de concentração. Mataram ali milhões de pessoas, portanto<br />

não digo isso para diminuir a condenação que é preciso cair sobre<br />

o empreendimento, mas justamente para destituí-lo de todos<br />

os valores eróticos que quiseram lhe imputar.<br />

Os nazistas eram faxineiras no mau sentido do termo. Trabalhavam<br />

com esfregões e vassouras, pretendendo purgar a sociedade<br />

de tudo o que eles consideravam ser podridão, sujeira,<br />

lixo: sifilíticos, homossexuais, judeus, sangues impuros, negros,<br />

loucos. É o infecto sonho pequeno-burguês da limpeza racial<br />

que subentendia o sonho nazista. Eros ausente.<br />

Dito isso, não é impossível que, localmente, tenha havido no<br />

interior dessa estrutura relações eróticas que ligaram, na confrontação,<br />

os corpos aos corpos entre o carrasco e o torturado.<br />

Mas era acidental.<br />

0 problema que se coloca é saber por que hoje imaginamos<br />

ter acesso a certos fantasmas eróticos através do nazismo. Por<br />

Que essas botas, esses quepes, essas águias pelas quais freqüentemente<br />

se fica fascinado, sobretudo nos Estados Unidos?<br />

Não é a incapacidade em que estamos de viver realmente esse<br />

grande encantamento pelo corpo desorganizado que nos faz<br />

recair em um sadismo meticuloso, disciplinar, anatômico. As<br />

únicas palavras que possuímos para transcrever de novo esse<br />

grande prazer do corpo em explosão seria essa triste fábula de<br />

um recente apocalipse político? Náo poder pensar a intensidade<br />

do presente senão como o fim do mundo em um campo de

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