14.04.2013 Views

Estética - OUSE SABER!

Estética - OUSE SABER!

Estética - OUSE SABER!

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

XXXIV Michel Foucault - Ditos e Escritos<br />

Olympta<br />

Foucault se esquiva, aparentemente, um pouco, dizendo que<br />

nào vai falar sobre o quadro, de náo ser capaz e que é muito difí.<br />

cil. Na verdade, o que ele deseja ressaltar nesse quadro é o ponto<br />

de vista da iluminação, ou ainda do aspecto capital dessa pintura,<br />

na medida em que ele aborda “a relação que pode haver entre<br />

o escândalo que essa tela provocou e um certo número de suas<br />

características puramente pictóricas e, eu creio, essencialmente<br />

a luz” (ibidem, p. 29). Foucault situa, então, o acontecimento<br />

Olympia no salão de 1865, lembrando que essa tela produziu<br />

“escândalo quando foi exposta. E escândalo de tal ordem que foram<br />

obrigados a retirá-la” (ibidem). Foucault lembra o fato de<br />

que houve burgueses que tentaram furar a tela com seu guarda-chuva,<br />

de tal maneira eles a achavam indecente. Na verdade,<br />

na pintura do Ocidente o nu feminino é representado desde o século<br />

XVI, segundo uma tradição bem forte. Outros nus femininos<br />

já tinham sido vistos antes de Olympia, inclusive no salão<br />

em que ela causou escândalo. Foucault pergunta-se, então, o que<br />

há de escandaloso nesse quadro que o tornou insuportável. Os<br />

historiadores da arte dizem que o escândalo moral correspondia<br />

a uma maneira gauche de formular algo que era um escândalo<br />

estético. Essa estética era insuportável para o gosto do Segundo<br />

Império. Não se podia suportar essa grande pintura à japonesa,<br />

não se suportava a feiúra dessa mulher, que era feia e feita para<br />

ser feia. Foucault procura uma outra razão além destas, que na<br />

verdade não o satisfazem.<br />

Ele lembra que a Olympia de Manet tem um modelo e mesmo<br />

uma tela que ela rejeita, sendo seu duplo. É uma variação do<br />

tema das Vênus nuas, Vênus de Ticiano, Vênus deitada. Em Ti-<br />

ciano, há uma mulher deitada em posição bem semelhante. Há<br />

draperies, como nesta. Há também uma fonte luminosa, no alto<br />

à esquerda, que clareia de forma doce a mulher. Ela, diz Foucault,<br />

ilumina, “se tenho boa memória, o rosto e, em todo caso,<br />

certamente o seio e a perna, e que está aí como uma espécie de<br />

douração que vem acariciar seu corpo, e que é de certa maneira<br />

o princípio da visibilidade do corpo” (ibidem , p. 39).<br />

Sobre a condição de possibilidade do ser visível na Vênus de<br />

Ticiano, diz Foucault, “se ela se dá ao olhar, é porque há essa<br />

espécie de fonte luminosa discreta, lateral e dourada que a surpreende<br />

de certa forma, apesar dela e apesar de nós”. Assim,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!