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Estética - OUSE SABER!

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370 Michel Foucault - Ditos e Escritos<br />

concentração? Veja como nosso tesouro de imagens é pobre! E<br />

como é urgente fabricar um novo em vez de se derramarem lágrimas<br />

com os choramingos da "alienação” e de vilipendiar o<br />

"espetáculo”.<br />

- Sade é um pouco visto pelos diretores com o a criada, o<br />

porteiro da noite, o lavador de vidraças. Trata-se no Jinal do<br />

Jllme de Pasolini de ver os suplícios através de uma vidraça.<br />

O lavador de vidraças vê através dela o que se passa em um<br />

pátio longínquo, medieval.<br />

- Como você sabe, eu não sou a favor da sacralização absoluta<br />

de Sade. Afinal, eu estaria bastante disposto a admitir que<br />

Sade tenha formulado o erotismo próprio a uma sociedade disciplinar:<br />

uma sociedade regulamentada, anatômica, hierarquizada,<br />

com seu tempo cuidadosamente distribuído, seus espaços<br />

quadriculados, suas obediências e suas vigilâncias.<br />

Trata-se de sair disso, e do erotismo de Sade. É preciso inventar<br />

com o corpo, com seus elementos, suas superfícies, seus<br />

volumes, suas densidades, um erotismo não disciplinar: o do<br />

corpo em estado volátil e difuso, com seus encontros ao acaso e<br />

seus prazer es não calculados. O que me aborrece é que nos filmes<br />

recentes tem sido usado um certo número de elementos<br />

que ressuscitam, através do tema do nazismo, um erotismo do<br />

tipo disciplinar. Talvez tenha sido o de Sade. Tanto pior então<br />

para a sacralização literária de Sade, tanto pior para Sade: ele<br />

nos entedia, é um disciplinador, um sargento do sexo, um contador<br />

de bundas e de seus equivalentes.

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