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Estética - OUSE SABER!

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72 Miotu'l KoucauU - Ditos o Escritos<br />

Linguagem do aspecto que tenta fazer chegar às palavras um<br />

jogo mais soberano do que o tem po; linguagem da distância<br />

que distribui de acordo com uma outra profundidade as relações<br />

do espaço. Mas a distância e o aspecto estão ligados entre<br />

si de maneira mais estreita que o espaço e o tempo; formam<br />

uma rede que nenhuma psicologia pode desenredar (o aspecto<br />

oferecendo não o próprio tempo, mas o m ovim ento de sua vinda:<br />

a distância oferecendo não as coisas em seu lugar, mas o<br />

movimento que as apresenta e as faz passar). E a linguagem<br />

que revela essa profunda dependência não é uma linguagem da<br />

subjetividade; ela se abre e. no sentido estrito, “produz" alguma<br />

coisa que se poderia designar com a palavra neutra experiência:<br />

nem verdadeira nem falsa, nem vigília nem sonho, nem loucura<br />

nem razão, ela suprime tudo o que Pleynet chama de “vontade<br />

de qualificação”. Pois o afastamento da distância e as relações<br />

do aspecto não provêm da percepção, das coisas, nem do<br />

sujeito, muito menos do que se designa de boa vontade e bizarramente<br />

como o “mundo”; eles pertencem à dispersão da linguagem<br />

(a esse fato originário de que jam ais se fala na origem,<br />

mas no longínquo). Uma literatura do aspecto com o essa é, portanto,<br />

interior à linguagem; não que ela a trate como um sistema<br />

fechado, mas porque nela experimenta o distanciamento da<br />

origem, a fragmentação, a exterioridade esparsa. Ela aí encontra<br />

sua referência e sua contestação.<br />

Donde alguns traços característicos de tais obras; apaga-<br />

mento, inicialmente, de qualquer nome próprio (m esm o que reduzido<br />

à sua letra inicial) em proveito do pronom e pessoal, ou<br />

seja, de uma simples referência ao já nom eado em uma linguagem<br />

começada desde sempre; e os personagens que recebem<br />

uma designação só têm direito a um substantivo infinitamente<br />

repetido (o homem, a mulher), m odificado somente por um adjetivo<br />

enterrado ao longe na densidade das familiaridades (a<br />

mulher de vermelho). Daí, também, a exclusão do inaudito, do<br />

jamais visto, as precauções contra o fantástico: o fictício apenas<br />

aparecendo nos suportes, nas insinuações, na sobrevinda das<br />

coisas (não nas próprias coisas) - nos elem entos neutros desprovidos<br />

de qualquer prestígio onírico que conduzem de uma<br />

orla da narrativa à outra. O fictício tem seu lugar na articulação<br />

quase muda: grandes interstícios brancos que separam os parágrafos<br />

impressos ou tênue partícula quase pontual (um ges-

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