14.04.2013 Views

Estética - OUSE SABER!

Estética - OUSE SABER!

Estética - OUSE SABER!

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

1963<br />

A Linguagem ao Infinito<br />

"A linguagem ao infinito", T e l q u e l. n- 15, outono de 1963. ps. 44-53.<br />

Escrever p ara não m o rrer, co m o d izia Blanchot, ou talvez<br />

mesmo falar para não m o rre r é um a tarefa sem dú vida tão an ti­<br />

ga quanto a fala. A s m ais m orta is d ecisões, inevitavelm ente, fi­<br />

cam tam bém su spensas no tem p o de um a narrativa. O d iscu r­<br />

so, com o se sabe, tem o p o d er de deter a flecha já lançada em<br />

um recuo do tem p o que é seu esp aço p ró p rio . É possível, com o<br />

diz H om ero, qu e os deu ses tenham en viado os in fortú n ios aos<br />

mortais para que eles p u d essem conta-los. e que nesta p o ssib i­<br />

lidade a palavra en con tre seu in fin ito m anancial: e bem p o ssí­<br />

vel que a ap ro x im a çã o da m o rte, seu gesto soberan o, sua p ro e ­<br />

minência na m e m ó ria cios h om en s cavem no ser e no presente o<br />

vazio a partir do qu al e em d ireçã o ao qual se fala. M as A o d is ­<br />

séia, que a firm a esse d o m cia lin gu agem na m orte, conta, ao in ­<br />

verso, com o U lisses vo ltou p a ra casa. rep etin d o claram ente,<br />

cada vez que a m o rte o am eaçava, e p a ra conju rá-la, co m o - por<br />

quais artifícios e aven tu ras - ele h avia con segu id o m anter essa<br />

iminência que, d e n ovo, no m o m e n to em qu e ele acaba de falar,<br />

retorna na am eaça cle um gesto ou em um novo perigo... E<br />

quando, estran geiro en tre os F cácios. cle ouve da boca de um<br />

outro .v voz. já m ilen ar, de sua p ró p ria h istória, c co m o sua p ró ­<br />

pria m orte que ele escuta: escon d e o rosto e chora, com aquele<br />

gesto que c o das m u lh eres q u an d o se lhes traz apos a batalha o<br />

corpo do h erói m o rto : co n tra essa fala que lhe anuncia sua<br />

m orte e que se escuta no fu n do da nova O disséia co m o um a p a­<br />

lavra de ou trora. U lisses deve cantar o can to de sua iden tidade,<br />

cantar seus in fortú n ios para afastar o d estin o que lhe é tra zid o<br />

por uma lin gu agem a n terio r à linguagem . E ele persegue essa<br />

palavra ticticia, co n firm a n d o -a e con ju ran d o-a ao m esm o tem ­<br />

po. nesse esp aço vizin h o da m orte m as erigid o con tra ela, no

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!