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Estética - OUSE SABER!

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1964 - Debate sobre o Romance 177<br />

qualquer simbolismo: ou seja, uma metáfora que seria pura<br />

analogia.<br />

G. A m y : Enfim, talvez fossem outras analogias, mas que não<br />

são mais as mesmas.<br />

X...: Mas a música atonal não é admitida nos países marxistas.<br />

G. A m y : Isso é um outro problema. Há aí, inclusive, uma<br />

contradição.<br />

M. Fou cau lt: Talvez se pudesse pedir a Faye para retomar o<br />

problema da analogia, que serviu, finalmente, de uma maneira<br />

aliás muito curiosa, de tema comum a essas proposições sobre<br />

a morfologia.<br />

J. P. F a y e : Esse é certamente um tema excitam te, mas, para<br />

apurá-lo um pouco, poder-se-ia submetê-lo a dois esclarecimentos<br />

sucessivos. Falamos, uma após a outra, sobre a analogia<br />

no sentido rigoroso, no sentido dos geòmetras, e sobre a<br />

analogia que passeia pelos universos estéticos da linguagem, e<br />

que é alguma coisa infinitamente mais plástica, muito mais maleável,<br />

e aparentemente em desacordo em relação a nós. Talvez<br />

seja um meio de reunir as dificuldades que foram semeadas<br />

aqui e ali.<br />

O que distingue a analogia rigorosa, "geométrica ’. como diziam<br />

os gregos, da analogia aproximativa, aquela que busca formas<br />

estéticas através das linguagens literárias, pictóricas ou musicais?<br />

Na geom etria se buscam relações entre os traços impressos<br />

por um observador que, ele próprio, permanece intacto. O<br />

objeto geom étrico de que nos fala Valéry. em Eupalinos, é traçado<br />

por um hom em que é um demiurgo soberano. Como o<br />

narrador do L a byrin th e, ele está absolutamente imunizado, e<br />

grava figuras que não o atingem: de qualquer maneira, ele próprio<br />

não está com prom etido pelo fato de ter traçado em poucas<br />

palavras um círculo em torno de um ponto, ou de ter deslocado<br />

uma reta para fazer dela um ângulo ou um triângulo. A partir<br />

daí, essas analogias se constroem sem modificá-lo. Já na existência<br />

(não diria “real", porque eu provocaria novamente tempestades),<br />

aquela que vivemos bem ou mal. cada manipulação<br />

do que quer que seja acarreta nossa própria deformação, e talvez<br />

aí esteja o que confere às dimensões que a linguagem procura<br />

dar de seus universos, e dela mesma, a propriedade de serem<br />

perpetuamente impróprias para a busca delas próprias,<br />

perpetuamente defasadas. Por que precisamente o herói de Bu-

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