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Estética - OUSE SABER!

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276 Michel Foucault - Ditos e Escritos<br />

aceitar os discursos científicos por eles mesmos, no anonimato<br />

de uma verdade estabelecida ou sempre dem onstrável novamente;<br />

é sua vineulaçáo a um conjunto sistem ático que lhes dá<br />

garantia, e de forma alguma a referência ao indivíduo que os<br />

produziu. A função autor se apaga, o nome do inventor servindo<br />

no máximo para batizar um teorema, uma proposição, um<br />

efeito notável, uma propriedade, um corpo, um conjunto de elementos.<br />

uma síndrome patológica. Mas os discursos "literários”<br />

não podem mais ser aceitos senão quando providos da<br />

função autor : a qualquer texto de poesia ou de ficção se perguntará<br />

de onde ele vem, quem o escreveu, em que data, em que<br />

circunstâncias ou a partir de que projeto. O sentido que lhe é<br />

dado, o status ou o valor que nele se reconhece dependem da<br />

maneira com que se responde a essas questões. E se, em conseqüência<br />

de um acidente ou de uma vontade explícita do autor,<br />

ele chega a nós no anonimato, a operação é imediatamente buscar<br />

o autor. O anonimato literário não é suportável para nós; só<br />

o aceitamos na qualidade de enigma. A função autor hoje em<br />

dia atua fortemente nas obras literárias. (Certamente, seria<br />

preciso amenizar tudo isso: a crítica começou, há algum tempo,<br />

a tratar as obras segundo seu gênero e sua espécie, conforme os<br />

elementos recorrentes que nelas figuram, segundo suas próprias<br />

variações em torno de uma constante que não é mais o<br />

criador individual. Além disso, se a referência ao autor não passa,<br />

na matemática, de uma maneira de nom ear teoremas ou<br />

conjuntos de proposições, na biologia e na medicina, a indicação<br />

do autor e da data do seu trabalho desempenha um papel<br />

bastante diferente: não é simplesmente uma maneira de indicar<br />

a origem, mas de conferir um certo índice de “credibilidade” relativamente<br />

às técnicas e aos objetos de experiência utilizados<br />

em tal época e em tal laboratório.)<br />

Terceira característica dessa função autor. Ela não se forma<br />

espontaneamente como a atribuição de um discurso a um indivíduo.<br />

É o resultado de uma operação complexa que constrói<br />

um certo ser de razão que se chama de autor. Sem dúvida, a<br />

esse ser de razão, tenta-se dar um status realista: seria, no indivíduo,<br />

uma instância “profunda”, um poder "criador”, um “projeto”,<br />

o lugar originário da escrita. Mas, na verdade, o que no indivíduo<br />

é designado como autor (ou o que faz de um indivíduo<br />

um autor) é apenas a projeção, em termos sempre mais ou menos<br />

psicologizantes, do tratamento que se dá aos textos, das

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