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Estética - OUSE SABER!

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Apresentação XXXIX<br />

Essa tríplice impossibilidade em que estamos, da qual é preciso<br />

saber para vermos o espetáculo como o vemos, e, mais ainda, a<br />

exclusão “de todo lugar estável e definido onde localizar o espectador<br />

é, evidentemente, uma das propriedades fundamentais<br />

desse quadro, e explica simultaneamente o encanto e o mal-estar<br />

que experimentamos em olhá-lo” (ibidem, ps. 46-47).<br />

Foucault diz que, enquanto toda pintura clássica - pelo seu<br />

sistema de linhas, perspectivas e pontos de fuga - determinava<br />

para o espectador e o pintor um certo lugar preciso, fixo, inamovível<br />

- de onde se via o espetáculo de tal maneira que, ao olhar<br />

um quadro, se sabia de onde ele era visto, quer fosse do alto ou<br />

de baixo, de viés ou de face -, em Manet, tem-se a impressão de<br />

se ter tudo isso na mão, quer seja apesar disso, ou por causa disso.<br />

Entretanto, com tudo isso, não é mais possível saber onde se<br />

encontra o lugar do pintor para pintar o quadro, nem onde nós,<br />

como espectadores, devemos nos colocar para ver o espetáculo.<br />

Com essa técnica, Manet faz entrar em cena a propriedade do<br />

quadro de não ser um espaço normauvo, cuja representação nos<br />

fixa ou fixa o espectador em um ponto, e ponto único de onde<br />

olhar. Agora, o quadro aparece com um espaço diante do qual e<br />

com relação ao qual podemos nos deslocar. Assim, o espectador<br />

se torna móvel diante do quadro; a luz real tocando-o de face, as<br />

verticais e horizontais são perpetuamente duplicadas, suprimin-<br />

do-se a profundidade. Em Manet. eis aí a tela "no que ela tem de<br />

real, de material, de certa maneira, de físico. A leia está em vias<br />

de aparecer e de jogar com todas as suas propriedades, na representação”<br />

(ibidem , p. 47).<br />

Concluindo. Foucault afirma que Manet "não inventou a pintura<br />

não representativa, já que nele tudo é representativo” (ibidem,<br />

p. 47). O que ele fez foi colocar em jogo na representação<br />

os elementos fundamentais da tela. Ele estava em vias de inventar<br />

o quadro objeto, a pintura objeto, e isso era, sem dúvida,<br />

condição fundamental para que nos desembaraçássemos da<br />

própria representação e deixássemos entrar em jogo o espaço<br />

com suas propriedades puras e simples, suas próprias propriedades<br />

materiais" (ibidem, p. 47).<br />

Ele diz que Manet fez na pintura um certo número de coisas<br />

em relação às quais os ‘impressionistas’ estavam absolutamente<br />

em atraso" (ver p. 297, vol. II da edição brasileira desta obra).<br />

Para Foucault, Manet introduziu uma ruptura profunda que<br />

“tornou possível toda a pintura posterior ao impressionismo,

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