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Estética - OUSE SABER!

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2 1 2 Mirhel KVmoaulI - Ditos c Escritos<br />

tence e se torna narrador da fábula seguinte. Em Júlio Verne,<br />

uma só fábula por romance, mas narrada por vozes diferentes,<br />

emaranhadas, obscuras, e contestando umas as outras.<br />

Por trás dos personagens da fábula - aqueles que são vistos,<br />

que tèm um nome, que dialogam e com quem acontecem aventuras<br />

- reina todo um teatro de sombras, com suas rivalidades<br />

e suas lutas noturnas, suas justas e seus triunfos. Vozes sem<br />

corpo lutam para narrar a fábula.<br />

1) Junto aos personagens principais,' partilhando sua familiaridade,<br />

conhecendo seus rostos, seus hábitos, seus estados<br />

civis, mas também seus pensamentos e as dobras secretas do<br />

seu caráter, ouvindo suas réplicas, mas experimentando seus<br />

sentimentos como vindos do interior, uma som bra fala. Ela passa<br />

pelas mesmas tribulações que os personagens principais, vê<br />

as coisas como eles, participa de suas aventuras, se inquieta<br />

com o que vai lhes acontecer. É ela quem transform a a aventura<br />

em narrativa. Esse narrador, por mais que seja dotado de grandes<br />

poderes, tem seus limites e constrangimentos: ele penetrou<br />

na cápsula lunar com Ardan, Barbicane e Nicholl, e, não obstante,<br />

houve sessões secretas do Gun-Club às quais ele não<br />

pôde assistir. Será o mesmo narrador, será um outro que está<br />

aqui e acolá, em Baltimore e no Kilim andjaro, no foguete sideral,<br />

na terra e na sonda submarina? Será preciso adm itir no decorrer<br />

da narrativa uma espécie de personagem a mais, vagando<br />

continuamente nos limbos da narração, uma silhueta vazia<br />

que teria o dom da ubiqüidade? Ou então adm itir, em cada lugar,<br />

para cada grupo de pessoas, gênios atentos, singulares e<br />

tagarelas? De qualquer forma, essas figuras de som bra estão na<br />

primeira categoria da invisibilidade: pouco lhes falta para serem<br />

personagens verdadeiros.<br />

2) Por trás desses “narradores” íntimos, figuras mais discretas,<br />

mais furtivas pronunciam o discurso que fala de seus movimentos<br />

ou indica a passagem de uma para a outra. “Esta noite,<br />

dizem essas vozes, um estranho que se encontrava em Baltimore<br />

não conseguiu, mesmo a preço de ouro, penetrar na grande<br />

sala...”; e um estranho invisível (um narrador da categoria 1)<br />

pôde no entanto transpor as portas e fazer a narrativa dos lances<br />

“como se ele lá estivesse". São tais vozes que também pas-<br />

1. (N.A.) Por comodidade, tomarei como exemplo privilegiado os Irês livros: Da<br />

terra à lua, Viagem ao redor d a lua, Sans dessus dessous.

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