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Estética - OUSE SABER!

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260 M idid Foucaull - Ditos e Escritos<br />

mas aliviá-la de qualquer afirmação que tentasse dizer com o<br />

que elas se assemelham. Pintura do “Mesmo”, liberta do “como<br />

se". Estamos longe do trompe-l'oeil. Este pretende passar a<br />

mais pesada carga de afirmação pelo artifício de uma semelhança<br />

convincente: “O que você vê ali não é, na superfície de<br />

uma parede, um conjunto de linhas e de cores; é uma profundidade,<br />

um céu, nuvens que esconderam seu telhado, uma verdadeira<br />

coluna em torno da qual você poderá girar, uma escada<br />

que prolonga os degraus em que você vai subir (e você já dá um<br />

passo em direção a ela, involuntariamente), uma balaustrada<br />

de pedra por cima da qual se inclinam os rostos atentos dos<br />

cortesãos e das damas, que usam, com os mesmos galões, as<br />

mesmas roupas que você, que sorriem do seu espanto e sorrisos,<br />

fazendo em sua direção sinais que são misteriosos para<br />

você pela única razão que eles já responderam sem esperar aos<br />

que você vai lhes fazer.”<br />

A tantas afirmações, apoiadas sobre tantas analogias, se<br />

opõe o texto de Magritte, que fala bem junto ao cachimbo mais<br />

parecido. Mas quem fala, nesse texto único em que a mais elementar<br />

das afirmações se vê comprometida? O próprio cachimbo,<br />

inicialmente: “O que vocês vêem aqui, essas linhas que eu<br />

formo ou que me formam, tudo isso não é absolutamente o que<br />

você sem dúvida acredita; mas somente um desenho, enquanto<br />

o verdadeiro cachimbo, repousando em sua essência bem mais<br />

além de qualquer gesto artificial, flutuando no elemento de sua<br />

verdade ideal, está acima - veja, justamente acima desse quadro<br />

em que eu não passo de uma simples e solitária semelhança.”<br />

Ao que o cachimbo de cima responde (sempre no mesmo<br />

enunciado): “O que vocês vêem flutuar diante dos seus olhos,<br />

fora de qualquer espaço e de qualquer suporte fixo, essa bruma<br />

que não repousa nem em uma tela nem em uma página, como<br />

poderia ela ser verdadeiramente um cachimbo? Não se enganem,<br />

não passo de uma semelhança - não alguma coisa semelhante<br />

a um cachimbo, mas essa semelhança nebulosa que,<br />

sem remeter a nada, percorre e faz comunicar textos como<br />

aquele que você pode ler e desenhos como o que está lá, embaixo.”<br />

Mas o enunciado, assim articulado já duas vezes por vozes<br />

diferentes, toma por sua vez a palavra para falar de si mesmo:<br />

“Essas letras que me compõem e que você espera, no momento<br />

em que tentar a sua leitura, vê-las nomeando o cachimbo, como<br />

ousariam tais letras dizer que elas são um cachimbo, tão longe

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